20 Dezembro 2024
Pesquisadores do Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre da UFRGS registraram 64 espécies em um único metro de campo nativo no município de Jaguarão (RS). Divulgação ocorre na data em que se comemora Dia Nacional do Bioma Pampa
A reportagem é publicada por Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 17-12-2024.
No Dia Nacional do Bioma Pampa, 17 de dezembro, o grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos em Vegetação Campestre da UFRGS divulga um dado inédito sobre a diversidade do Pampa, obtido, recentemente, em atividades de campo no município de Jaguarão, Rio Grande do Sul: um metro quadrado de campo nativo com 64 espécies de plantas. O número ilustra a enorme diversidade do bioma, que, no entanto, segue desprotegido e sofre, anualmente, grandes perdas das suas áreas nativas e da sua biodiversidade, com impactos para as populações humanas.
Enquanto o público geral, muitas vezes, associa a biodiversidade brasileira aos ambientes florestais, os ambientes de campo e savana possuem uma biodiversidade equivalente. O mesmo vale para o Pampa, um bioma cuja vegetação natural é dominada por campos que possuem uma biodiversidade rica e típica. Parte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o PPBio Campos Sulinos - Pampa é um projeto nacional que visa ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e subsidiar políticas públicas voltadas para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais. O PPBio Campos Sulinos - Pampa é coordenado pelo professor Valério DePatta Pillar, da UFRGS, e as atividades envolvendo levantamento da vegetação campestre, pelo professor Gerhard Ernst Overbeck, também da UFRGS.
Na primavera de 2024, a equipe do Laboratório de Vegetação Campestre (LEVCamp) da UFRGS, composta pelo mestrando Mateus Schenkel e pelo especialista Fábio Torchelsen, e liderada pela pós-doutoranda Ana Porto, realizou a amostragem da vegetação em cinco áreas campestres do Pampa, seguindo protocolos de amostragem padronizados. “O nosso objetivo é analisar os padrões de diversidade vegetal das espécies campestres e suas relações com fatores ambientais como pastejo e contexto da paisagem", explica Ana Porto. Foi no município de Jaguarão, em uma área de campo nativo sob manejo pastoril, situada em uma propriedade particular, que a equipe de campo encontrou o metro quadrado mais rico em plantas já registrado no país: 64 espécies em um único metro quadrado. Registros anteriores já haviam documentado áreas de campo com mais de 50 espécies de plantas por metro quadrado; valores acima de 30 espécies por metro quadrado são comuns nos campos do Pampa. “O novo recorde destaca a riqueza de espécies dos campos nativos no sul do Brasil, algo muito pouco conhecido até pelos próprios gaúchos e gaúchas", comenta Ana. “Quem imagina ter mais de 60 espécies diferentes de plantas em um único metro quadrado de campo nativo que, de longe, parece tão homogêneo?”, adiciona.
O Pampa brasileiro, uma região de campos nativos sob clima subtropical, abriga pelo menos 12.503 espécies de plantas, animais, fungos e bactérias, como foi revelado em um estudo publicado em 2023, coordenado pelo professor Gerhard Overbeck da UFRGS e com a colaboração de 120 pesquisadores de 60 instituições. Além de sustentar tamanha biodiversidade, os campos nativos fornecem importantes serviços ecossistêmicos para as pessoas, como abastecimento de água, armazenamento de carbono, alimentos e forragem. Ainda mais, o Pampa tem elevado valor cultural.
Apesar da sua alta importância para a biodiversidade, entre 1985 e 2023, o Pampa perdeu 3,5 milhões de hectares de campos nativos. A expansão de lavouras anuais (como soja e arroz) e de monoculturas de árvores exóticas (por exemplo, pínus e eucalipto) é a principal causa da perda dos campos nativos, apesar do potencial produtivo dos mesmos. “A pecuária extensiva em campo nativo é, comprovadamente, uma atividade econômica que é compatível com a conservação da biodiversidade”, ressalta Overbeck. “Temos, com os campos do Pampa, a possibilidade de produzir carne de alta qualidade com base na vegetação nativa, sem degradar o meio ambiente. No Pampa, o gado é aliado à conservação da biodiversidade, e o uso pastoril do Pampa deve ser incentivado.” A conversão em monoculturas, no outro lado, reduz não só a biodiversidade, mas também a multifuncionalidade da paisagem, assim reduzindo também os serviços ecossistêmicos que são base para a qualidade de vida humana, e também para a própria produção agrícola.
Os pesquisadores concluem que, para garantir a conservação e o uso sustentável do Pampa, são necessárias políticas públicas que incentivem a manutenção dos campos nativos e o seu uso, além da implementação das exigências legais já existentes, como o Cadastro Ambiental Rural e os Programas de Regularização Ambiental.
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Metro quadrado mais rico em plantas do Brasil fica no Pampa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU