08 Mai 2025
""Podemos dizer que o Papa Leão XIV continua o trabalho feito por Francisco, um trabalho que faz parte de uma longa tradição de ouvir a voz do Espírito que sopra no meio dos pobres e das vítimas das injustiças do mundo", escreve Jung Mo Sung, teólogo e cientista da religião.
No calor da emoção, desde ver a fumaça branca, esperar o nome e a figura do papa e a de vê-lo e ouvir na televisão, estou compartilhando algumas ideias provisórias correndo o risco de falar algo indevido.
Ao ouvir o nome do cardeal Robert Francis Prevost como o novo papa, a minha reação foi meio estranha. Uns dias atrás, ao ler a lista dos papáveis, me chamou a atenção o nome de Prevost. Um cardeal americano, que diferentemente do cardeal Timothy Michael Dolan, que é próximo do presidente Trump, tinha trabalhado e vivido junto aos pobres em Peru por muitos anos e trabalhado com o Papa Francisco no Vaticano. Uma figura que em termos de geopolígica-religiosa seria muito interessante, especialmente no contexto em que setores católicos e de outras igrejas dos Estados Unidos estão enfrentando conflitos difíceis com a política do atual governo.
Em seguida, ao ouvir que ele assumiu o nome de Leão XIV, eu me senti estranho, de novo. Leão XIV? Voltar ao século XIX? Na verdade, pode fazer sentido. Pois, o papa Leão XIII é um que teve que enfrentar o mundo moderno e romper com a ilusão de que a Igreja poderia viver em um mundo fechado em si e começou a doutrina social da Igreja no mundo moderno. Especialmente a luta pela defesa dos direitos dos operários e dos pobres.
As grandes transformações econômicas, políticas e filosófico-ideológicas do mundo estavam sufocando a Igreja e em grande confusão. As lutas entre o capitalismo e as lutas dos operários e dos socialistas estavam em fervor. E eu me lembro de uma afirmação do José Comblin, em um dos seus livros, eu disse: no mundo moderno, quando a Igreja se fechou e não deixou o Espírito Santo entrar e agir, o Espírito se manifestou fora da Igreja no meio das lutas dos operários. Nesse sentido, o nome de Leão XIV faz sentido porque estamos vivendo uma “confusão” de ideologias, de (re)desorganização da economia mundial, aceleradas pelo surgimento da era da Inteligência Artificial. Terá a Igreja, com esse novo papado, a coragem e sabedoria para luzes para enfrentarmos esses desafios?
No seu primeiro pronunciamento, o Papa Leão XIV fez menção à coragem do Papa Francisco. O que é muito bom. Mas, ao vê-lo pela primeira vez como Papa, a sua vestimenta tradicional de Papa que parecia mais o Papa Bento XVI do que Francisco me deixou meio triste. Mesmo não sou um adepto do uso de rede social, acompanhei a transmissão participando de um pequeno de grupo de Whatsapp e postei que não gostei. Mas, ao ouvir a sua fala e depois ler com calma, percebi ou reinterpretei essa imagem de uma outra forma. Pode ser que foi o jeito dele de comunicar e de dialogar com os setores mais conservadores da Igreja, que tinham dificuldade com o jeito de viver e de agir do Papa Francisco. Como ele disse: “Necessitamos ser, juntos, uma igreja missionária, que constrói pontes e diálogos”. Não só pontes com os de fora da Igreja, mas também no interior da nossa Igreja.
O seu nome, a vestimenta, o seu discurso e a sua referência ao povo de sua diocese e à sua história de missionário em Peru pareceram fazer sentido para mim após a apresentação do Papa ao mundo. É claro que tudo isso é uma interpretação minha, que vai ser reinterpretada por mim com o passar do tempo.
Ao final de tudo isso, o que me marcou mais é a afirmação dele, que é a “verdade” mais antiga e essencial da nossa fé cristã: “Deus [...] ama a todos, incondicionalmente. [...] Deus nos ama, Deus ama a todos e o mal não vai prevalecer. [...] Portanto, sem medo, unidos, de mãos dadas com Deus, que está entre nós, vamos seguir”.
Nesse sentido, podemos dizer que o Papa Leão XIV continua o trabalho feito por Francisco, um trabalho que faz parte de uma longa tradição de ouvir a voz do Espírito que sopra no meio dos pobres e das vítimas das injustiças do mundo.