25 Abril 2025
"É o amor de Deus, manifestado e provado na vida de Jesus até a morte na cruz que sustenta nossa esperança. Ele não nos livra do sofrimento, da injustiça e da cruz, mas não nos deixa sós no sofrimento, na injustiça e na cruz. Jesus fala da proximidade, bondade e misericórdia do Pai, curando enfermos, libertando do poder do mal, acolhendo pecadores, fazendo refeição com pessoas consideradas impuras e pecadoras. Faz de sua vida dom, serviço, lava-pés para a humanidade sofredora", escreve Francisco de Aquino Júnior, presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte, Ceará, professor de Teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
A celebração do Mistério Pascal de Jesus Cristo reacende em nós a chama da esperança e nos constitui como povo da esperança com a missão de esperançar o mundo. A esperança é dom de Deus, mas precisa ser cultivada para produzir frutos. Sua força e seu poder se manifestam no amor sem limites, crucificado, mas não rendido. Não é a esperança barata do “vai dar tudo certo”, mas a esperança preciosa do amor-serviço que pode custar a própria vida. Não é a esperança fácil e falsa do sucesso garantido, mas a esperança exigente e perigosa de um amor fiel até o fim.
É o amor de Deus, manifestado e provado na vida de Jesus até a morte na cruz que sustenta nossa esperança. Ele não nos livra do sofrimento, da injustiça e da cruz, mas não nos deixa sós no sofrimento, na injustiça e na cruz. Jesus fala da proximidade, bondade e misericórdia do Pai, curando enfermos, libertando do poder do mal, acolhendo pecadores, fazendo refeição com pessoas consideradas impuras e pecadoras. Faz de sua vida dom, serviço, lava-pés para a humanidade sofredora. Essa proximidade de Deus em Jesus traz consolo, força e esperança, rompendo o círculo infernal do sofrimento, da violência, da exclusão, da solidão e do desespero. Em Jesus, Deus se mostra verdadeiramente como Deus-conosco, Deus-salvador. Na cruz de Jesus, Ele se mostra como Deus crucificado: crucificado entre crucificados; crucificado por amor; fiel até o fim...
A participação no mistério pascal de Jesus Cristo faz de nós povo da esperança:
a) Povo que testemunha e prova com a própria vida a proximidade e o cuidado de Deus com os pobres, marginalizados e sofredores desse mundo. Não basta falar do amor de Deus. Discurso genérico e vazio não convence ninguém. É preciso concretizá-lo em nossa vida. Só um amor real e eficaz é digno de credibilidade e goza de autoridade. Na hora da fome, um prato de comida vale mais que qualquer doutrina. Na hora do desespero, um abraço vale mais que mil palavras. Na hora da solidão, só se compreende a linguagem da proximidade e do cuidado. Em situações de injustiça, participar das lutas por direitos e ser perseguido por isso vale mais que qualquer discurso abstrato.
b) Povo que faz da vida dom-serviço (lava-pés) à humanidade sofredora. As referências mais importantes do cristianismo não são os templos suntuosos, os grandes eventos religiosos, os que assumem cargos de poder, os que gozam de prestígio e poder midiático. Pelo contrário. A força e o poder do cristianismo se mostram na vida de pessoas e comunidades que encarnam em situações bem concretas a bondade e o amor pela humanidade sofredora: Francisco e Clara de Assis; Bartolomeu de las Casas e António de Montesinos; Vicente de Paulo e Luísa de Marillac; Óscar Romero, Madre Paulina, Dulce dos pobres, Hélder Câmara, Pedro Casaldáliga e tantos e tantas que como eles/as assumem a Causa dos pobres, colocando-se a seu serviço.
c) Povo de profetas e mártires que levam às últimas consequências o compromisso com os pobres e marginalizados, sendo muitas vezes caluniados, perseguidos e até martirizados por isso. Foi assim com Jesus até a cruz. E continua assim até hoje com quem faz da vida um serviço à humanidade sofredora. Basta pensar nas críticas feitas às pastorais sociais na Igreja, sempre marginalizadas; nos ataques ao Papa Francisco, feitos por setores conservadores da Igreja que o acusam de comunismo por seu compromisso com os pobres, com a justiça social e o cuidado da casa comum; e na perseguição sofrida pelo padre Júlio Lancellotti por seu compromisso evangélico com a população em situação de rua e seu enfrentamento das políticas neofascistas da extrema direita.
A esperança pascal não acomoda nem aliena, mas compromete e pode custar muito caro, como prova a cruz de Jesus e tantos/as profetas e mártires da caminhada. Não é mera espera (comodismo), mas força na caminhada (compromisso). É “esperança do verbo esperançar” (Paulo Freire). Esperança militante, ativa, peregrina, esperançosa e esperançadora. Esperança que é caminho, caminhada, caminhante...
Somos “povo da esperança”, “povo da Páscoa” – como tantas vezes recordava o grande profeta Pedro Casaldáliga. Perder a esperança ou reduzi-la a doutrina vazia, estéril e ineficaz é “heresia”, é “pecado”. Nossa missão é esperançar o mundo como o amor de Deus feito carne em Jesus e fazendo-se carne em nós, em nossas comunidades e movimentos para que “todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).