07 Abril 2025
“Um episódio de que particularmente gosto, pois ocupa um lugar especial no meu caminho espiritual”: é assim que Francisco apresenta a página do Evangelho que inspira a catequese. O texto da catequese do Papa Francisco para a audiência geral que deveria ter sido realizada na quarta-feira e foi cancelada devido à convalescença do Pontífice. A catequese - intitulada Zaqueu. “Hoje me convém pousar em tua casa” (Lc 19,5), cujo texto foi publicado pela Sala de Imprensa do Vaticano, é a terceira da série dedicada aos encontros de Jesus com alguns personagens do Evangelho, e faz parte do ciclo jubilar “Jesus Cristo, nossa esperança”.
A reflexão é de Papa Francisco, publicada por Avvenire, 03-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caros irmãos e irmãs, continuamos a contemplar os encontros de Jesus com alguns personagens do Evangelho. Desta vez, gostaria de me debruçar sobre a figura de Zaqueu: um episódio de que particularmente gosto, pois ocupa um lugar especial no meu caminho espiritual.
O Evangelho de Lucas nos apresenta Zaqueu como alguém que parece irremediavelmente perdido. Talvez nós também nos sintamos assim às vezes: sem esperança. Zaqueu, porém, descobrirá que o Senhor já o estava procurando.
Jesus, de fato, desceu a Jericó, uma cidade localizada abaixo do nível do mar, considerada uma imagem do submundo, onde Jesus quer ir para procurar aqueles que se sentem perdidos. E, na realidade, o Senhor Ressuscitado continua a descer nos submundos de hoje, nos lugares de guerra, na dor dos inocentes, no coração das mães que veem seus filhos morrerem, na fome dos pobres.
Zaqueu, em certo sentido, se perdeu, talvez tenha feito escolhas erradas ou talvez a vida o tenha colocado em situações das quais não consegue sair. De fato, Lucas insiste em descrever as características desse homem: ele não é apenas um publicano, ou seja, alguém que cobra os impostos de seus concidadãos para os invasores romanos, mas é justamente o chefe dos publicanos, como se seu pecado fosse multiplicado.
Lucas também acrescenta que Zaqueu é rico, sugerindo que ele enriqueceu às custas dos outros, abusando de sua posição. Mas tudo isso tem consequências: Zaqueu provavelmente se sente excluído, desprezado por todos.
Quando fica sabendo que Jesus está passando pela cidade, Zaqueu sente o desejo de vê-lo. Ele não ousa imaginar um encontro; bastaria vê-lo de longe. Mas nossos desejos também encontram obstáculos e não são automaticamente realizados: Zaqueu é de baixa estatura! Essa é a nossa realidade, temos limitações com as quais temos de lidar. E também existem os outros, que às vezes não nos ajudam: a multidão impede Zaqueu de ver Jesus. Talvez isso represente um pouco a vingança deles.
Mas quando você tem um forte desejo, não desanima. Você encontra uma solução. Mas é preciso coragem e não sentir vergonha, é preciso um pouco da simplicidade das crianças e não se preocupar demais com a própria imagem. Zaqueu, assim como uma criança, sobe em uma árvore. Deve ter sido um bom ponto de observação, especialmente para olhar sem ser visto, escondido no meio da folhagem. Mas com o Senhor o inesperado sempre acontece: Jesus, quando chega perto, olha para cima. Zaqueu se sente exposto e provavelmente espera uma repreensão pública. As pessoas talvez tenham esperado por isso, mas ficarão desapontadas: Jesus pede a Zaqueu que desça imediatamente, quase surpreso por vê-lo na árvore, e lhe diz: “Hoje me convém pousar em tua casa!” (Lc 19,5). Deus não pode passar sem procurar quem está perdido. Lucas destaca a alegria do coração de Zaqueu.
É a alegria de quem se sente olhado, reconhecido e, acima de tudo, perdoado. O olhar de Jesus não é de reprovação, mas de misericórdia. É essa misericórdia que às vezes achamos difícil de aceitar, especialmente quando Deus perdoa aqueles que, em nossa opinião, não a merecem. Nós murmuramos porque gostaríamos de colocar limites no amor de Deus.
Na cena em casa, Zaqueu, depois de ouvir as palavras de perdão de Jesus, levanta-se, como se ressurgisse de sua condição de morto. E ele se levanta para assumir um compromisso: devolver quatro vezes o que roubou. Não se trata de um preço a ser pago, porque o perdão de Deus é gratuito, mas é uma questão de desejo de imitar Aquele por quem se sentiu amado. Zaqueu assume um compromisso ao qual não estava obrigado, mas o faz porque entende que essa é a sua maneira de amar. E ele faz isso juntando a legislação romana sobre roubo com a legislação rabínica sobre penitência. Zaqueu, então, não é apenas o homem do desejo, também é alguém que sabe dar passos concretos. Seu propósito não é genérico ou abstrato, mas parte de sua própria história: olhou para sua vida e identificou o ponto a partir do qual começar a sua mudança.
Caros irmãos e irmãs, aprendamos com Zaqueu a não perder a esperança, mesmo quando nos sentimos postos de lado ou incapazes de mudar. Cultivemos nosso desejo de ver Jesus e, acima de tudo, deixemo-nos encontrar pela misericórdia de Deus, que sempre vem à nossa procura, em qualquer situação em que nos sintamos perdidos.