01 Abril 2025
Por que se continua a falar de Pierre Teilhard de Chardin? Perguntamos ao teólogo e professor Paolo Trianni, da Pontifícia Universidade Gregoriana, do Pontifício Ateneu Sant'Anselmo e da Universidade de Trento.
A entrevista é de Roberto Cetera, publicada por L'Osservatore Romano, 27-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor, no dia 10 de abril se completam os 70 anos da morte de Pierre Theihard de Chardin. Qual é a atualidade desse jesuíta francês?
Eu diria que Teilhard de Chardin não é simplesmente atual, ele está até mesmo à frente de nosso tempo. Se eu tivesse que dar o nome de um teólogo que pudesse indicar o rumo da igreja para seu futuro próximo, eu o indicaria. Teilhard é atual hoje porque já nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial ele vislumbrou os desenvolvimentos das sociedades contemporâneas. Foi um visionário e um universalista, e é por isso que sua teologia talvez seja a mais indicada para o mundo globalizado de hoje, caracterizado pela aceleração tecnológica. Embora não tenha sido um teólogo acadêmico - e talvez devêssemos lamentar isso - porque dividiu seu amor pela teologia com o amor pela paleontologia e geologia, não há âmbito da sistemática que ele não tenha reinterpretado de forma original e inovadora. Não me refiro apenas à relação com a ciência, mas também, por exemplo, à sacramentaria - sua associação entre a Eucaristia e o mundo é bem conhecida - ou à eclesiologia, que de fato antecipou muitas questões discutidas no recente sínodo - desde o papel dos leigos na igreja até o das mulheres. Também inovadora é sua cristologia cósmica que retorna a cenários paulinos e patrísticos. Em resumo, ele é atual porque é o teólogo da igreja bergogliana em saída; é o teólogo da nova evangelização; é o teólogo da igreja para todos e que tudo reconduz a Deus.
O que torna esse teólogo único e especial?
Em primeiro lugar, sua história biográfica. Espero que alguém dedique um filme a ele, mais cedo ou mais tarde. Ele foi um padre, um cientista, um teólogo capaz de linguagem poética, mas também um aventureiro e um explorador. Foi até mesmo um herói de guerra e acho que é o único religioso que recebeu a Legião de Honra. O que é particularmente surpreendente nele é sua capacidade de conciliar opostos: ele foi um sacerdote, mas valorizava os leigos; foi um místico, mas nunca se apaixonou pelos valores terrenos; foi um padre, mas sempre criticou o clericalismo e o tradicionalismo; foi até maltratado pela Igreja, mas permaneceu fiel a ela (e à Companhia de Jesus) até o fim. O que o torna único, no entanto, além da natureza excepcional de sua vida, é seu neocristianismo. Por meio de seus escritos, é delineada uma nova maneira de viver a fé cristã: em nível pessoal, eclesial e histórico.
Poderia resumir para nós qual era a visão teológica de Teilhard de Chardin?
Teilhard se surpreendia e lamentava o fato de ter sido o único “a ter visto”. Resumir sua visão não é fácil. Seu ponto de partida pode ser encontrado no evolucionismo. A crença na evolução, de fato, pressupõe que o cosmos não seja estático, mas projetado “para cima” e “para frente”, em direção ao que ele denominava de ponto Ômega. Nessa jornada cósmica ordenada em direção à realização e à divinização, o homem deve ser um participante ativo e cultivar todos aqueles valores terrenos que levam a Deus. Há uma frase dele a esse respeito que eu aprecio demais: “O ser deve ser buscado em um símbolo antes de ser encontrado em uma realidade”.
Em sua opinião, por meio da encarnação - e sua continuação na Eucaristia - a evolução encontra uma força motriz que diviniza o real. Teilhard defendia essa dinâmica evolutiva que leva do múltiplo ao Uno, e é por isso que ele pode ser considerado o teólogo das sínteses: aquela entre matéria e espírito, entre Deus e o homem, entre céu e terra, entre aparência e realidade, entre diferença e identidade. Ele foi até mesmo um precursor do diálogo entre as religiões. Essas suas ideias influenciaram diretamente alguns dos teólogos mais importantes do século XX, como Henri de Lubac, Monchanin ou Rahner, e, pelo menos de forma subjacente, marcaram aquela Nouvelle théologie à qual devemos o Concílio Vaticano II.
Teilhard de Chardin é mais conhecido pelo evolucionismo e sua relação com o mundo da ciência...
Ele foi também e acima de tudo um cientista. Como geólogo e paleontólogo, ele não podia deixar de fazer certas considerações sobre o evolucionismo e os relatos do Gênesis, e por essas considerações ele pagou um preço enorme... É por isso que tenho a impressão de que justamente e somente agora ele está começando a ser compreendido e apreciado. As recentes e repetidas citações que o Papa Francisco dedicou a ele demonstram isso. No entanto, gostaria de enfatizar que sua figura não pode ser reduzida apenas à sua relação com a ciência. Logo após Hiroshima, por exemplo, ele escreveu algumas palavras alarmantes sobre o futuro do planeta, e acredito que hoje ele exporia não poucas reservas críticas sobre o transhumanismo (um termo que ele cunhou e ao qual, no entanto, dava uma interpretação diferente daquela atual) ou a inteligência artificial. É fato, no entanto, que ele, embora com outros, tenha contribuído bastante para a reconciliação da fé com a ciência.
Teilhard também é conhecido por sua espiritualidade original e sua maneira de se relacionar com o mundo.
Sim, sua teologia espiritual está entre as mais originais, talvez até mesmo única. A reflexão desse jesuíta foi capaz de superar um certo dualismo subjacente entre matéria e espírito ou entre a dimensão mundana e o Reino de Deus. Nesse aspecto, ele pode ser considerado um pai do encarnacionismo, ou seja, daquela escola espiritual que convida os cristãos a se envolverem ativamente na história para santificar a si mesmos e ao mundo. Ele não convidava a fugir do mundo, como faz um certo escatologismo, mas sim a atravessá-lo com consciência. A espiritualidade de Teilhard é chamada precisamente de “da travessia”, em direção àquela plenitude crística que ele denominava de “cristogênese”. Em relação à sua vida espiritual pessoal, no entanto, dois episódios merecem ser mencionados. O primeiro é quando, caminhando com um coirmão na movimentada Park Avenue, na principal metrópole do mundo, ele o pegou pelo braço e lhe confidenciou: “Posso lhe garantir que vivo constantemente na presença de Deus”. O segundo foi quando ele expressou ao sobrinho seu desejo de morrer no dia da Páscoa, como aconteceu mais tarde. Dois episódios que explicam perfeitamente sua espiritualidade inserida no mundo. Contra todo niilismo, de fato, Teilhard de Chardin não acreditava simplesmente no ser, mas também em sua transfiguração escatológica.