Realizou-se em Rimini, nos dias 21-22 de abril de 2023, a Conferência nacional promovida pelo ISSR “A. Marvelli" juntamente com a Faculdade Teológica da Emilia Romagna, o Centro de Estudos Teilhard de Chardin e a Associação Italiana Teilhard de Chardin. Por cortesia dos organizadores, reproduzimos a palestra proferida na ocasião pelo professor Paolo Trianni, do Centro Gregoriano de Estudos Inter-religiosos, sobre a originalidade da proposta espiritual do jesuíta e cientista.
A palestra integral será publicada no volume dos Anais da conferência, que está no prelo.
O texto é publicado por Settimana News, 28-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Igreja há muito entendeu que o cuidado pastoral deve se tornar a sua prioridade se quiser combater o secularismo dominante. Ninguém pode duvidar de que hoje a luta contra a secularização passa por um componente essencial da ação pastoral: a renovação da vida espiritual individual e comunitária. A igreja não soube comunicar e valorizar adequadamente a rica variedade de sua espiritualidade e está pagando um preço alto. Se as técnicas ascéticas que vêm do Oriente, para não falar daquelas dos novos movimentos religiosos, despertam hoje um interesse crescente, é porque são consideradas alternativas e inovadoras em relação àquelas praticadas no mundo eclesial.
Essa perda de atratividade deve-se a uma carência na formação cristã, tanto em nível paroquial como em nível acadêmico. De fato, a teologia espiritual é injustamente considerada uma disciplina teológica de segunda linha, como se não fizesse perguntas igualmente profundas e definitivas quanto aquelas feitas pelas outras disciplinas da sistemática.
Desse duplo limite resulta que os próprios cristãos não conhecem a sua espiritualidade e até mesmo muitos batizados e crismados deixaram-se seduzir pelos caminhos espirituais do Extremo Oriente. Esses são vistos não apenas como mais fascinantes, mas também como mais eficazes. Alguns anos atrás, um conhecido teólogo, registrando o fenômeno, se perguntou por que tantos jovens buscam a Deus nas tradições orientais e o que eles encontram nelas que não encontraram no cristianismo. É uma pergunta que todo fiel católico deveria fazer a si mesmo.
Para responder adequadamente a tais desafios, é necessário, portanto, renovar a espiritualidade. No entanto, não são muitos os teólogos que podem acompanhar esse processo. Um deles é Pierre Teilhard de Chardin, que foi revolucionário em muitos temas teológicos, e talvez um pouco mais na teologia espiritual. Tendo vivido por 20 anos na China, este jesuíta francês foi um dos primeiros autores ocidentais que se confrontaram com as espiritualidades do Oriente, a que chamou "o caminho do Oriente".
Sem fazer uma análise extensa, esse termo costuma indicar uma visão metafísica caracterizada pelo panteísmo, dualismo, idealismo e impersonalismo. Considerando o quanto essas dimensões são antitéticas à doutrina cristã, não podem deixar de surpreender os escritos do jesuíta francês nos quais demonstra apreço pelo chamado caminho do Oriente. Mais ainda, devemos nos perguntar por que um padre que cresceu na escola dos jesuítas em plena época antimodernista, tenha se interessado por essa espiritualidade religiosa a ponto de escrever, em 1947, um artigo intitulado "A contribuição espiritual do Extremo Oriente".
São diversas as razões pelas quais as religiões orientais eram consideradas por ele enriquecedoras. Em primeiro lugar, deve-se levar em consideração a sensibilidade pessoal, pois, como contava em algumas notas autobiográficas, já quando menino havia passado por experiências panteístas semelhantes àquelas de que falam as religiões asiáticas. Por trás de sua intenção de refletir sobre as espiritualidades orientais, no entanto, havia também outras motivações, como a conversão de uma de suas melhores amigas, Lucile Swam, ao hinduísmo.
Independentemente das motivações, Teilhard de Chardin, com atitude sem preconceitos, falava de "papel indispensável e função essencial do Extremo Oriente", declarando-se convencido de que o encontro com a Índia produziria uma renovação do cristianismo. É um fato, aliás, que ele admitisse uma espécie de primazia religiosa às planícies do Ganges, reconhecendo que “a primeira corrente de verdadeira mística (isto é, de tendência à união universal) [...] é aquela que, nascida na Índia, cinco ou dez séculos antes da era cristã, fez daquela região o polo religioso da terra por muito tempo”.
Esse seu apreço pelas outras religiões, que a seu ver testemunhavam a vitalidade do espírito, levou-o a empenhar-se ativamente no diálogo inter-religioso. Em 1947, foi convidado a proferir o discurso inaugural do “Congrès Universel des Croyants”, ao qual enviou um texto intitulado: A fé no homem, que, não podendo na época proferir discursos em público, foi lido pelo orientalista René Grousset. Já pelo título de sua manifestação, pode-se entender onde estava enraizada sua atitude positiva em relação às religiões, porém ele dava mais uma justificativa ao diálogo inter-religioso ao ressaltar que “o espírito tem apenas um vértice e a mesma base”.
Em síntese, Teilhard de Chardin tinha apreço pelo espírito presente nas religiões, declarando que “Muito mais do que fragmentos de visão, são experiências de contato com um Inexprimível supremo que elas preservam e transmitem”. No entanto, ele mantinha uma atitude mais crítica em relação ao Islã, que considerava um judaísmo residual. Como ele observava: “Pode haver um renascimento no futuro, mas por enquanto o Alá do Alcorão é um Deus para Beduínos. Não poderia atrair sobre si as atenções de nenhum homem verdadeiramente civilizado".
Apesar de seu apreço pelo Oriente e de seu compromisso com o diálogo inter-religioso, Teilhard de Chardin deve ser lembrado como um dos mais ferrenhos defensores do caminho para o Ocidente. Quase querendo dar uma resposta a todos aqueles jovens que se interessavam pelas espiritualidades orientais, ele repetia que "no Oriente o problema do Espírito foi abordado de forma insuficiente e, portanto, era inútil voltar-se para o Leste para esperar o nascer do sol". Além disso, lembrava aos que consideravam inovadores os exotismos das técnicas indianas, que a verdadeira mística autenticamente nova era aquela cristã, porque não se limita a fugir do mundo, mas visa transformá-lo num Reino de Deus.
Um dos aspectos mais originais de sua teologia espiritual, no entanto, é que ele não enfatizou o caminho do Ocidente destruindo aquele Oriental, mas integrando-o ou, melhor, sublimando-o. Se Teilhard de Chardin se tornou um autor de referência para muitos missionários cristãos que trabalharam na Índia, como Henri Le Saux, Jules Monchanin ou Raimon Panikkar, é precisamente porque sua visão atua como uma ponte entre o cristianismo e a sabedoria indiana. Por exemplo, se as escolas que abordam a espiritualidade oriental são caracterizadas pelo dualismo ou pelo idealismo, a sua visão supera ambas. De fato, na visão do jesuíta, matéria e espírito não se contrapõem, pelo simples fato de que a evolução vai do múltiplo ao Uno e da matéria ao espírito. A esse propósito, escrevia precisamente que não se deve “opor pura e simplesmente Uno e múltiplo, espírito e matéria. Deve-se perseguir, adorar um através do outro".
Caderno IHU Ideias Nº 45 que tratou do pensamento de Teilhard de Chardin
A espiritualidade teilhardiana, portanto, claramente rejeita o dualismo indiano superando-o. Um processo de pensamento semelhante, também dedicou ao seu idealismo. Contra aquela cosmologia oriental que considera o cosmos uma mera ilusão (maya), de fato expressava uma crítica explícita. Assinando uma das críticas mais lúcidas e radicais que já foram dirigidas ao idealismo hindu e budista, sustentava que em suas principais religiões, “a multiplicidade de seres e desejos é apenas um sonho ruim, do qual é preciso acordar. Suprimamos o esforço de conhecimento e de amor, ou seja, da personalização, que tende a conferir maior consistência a essa miragem: e ipso facto (tudo está lá), e justamente graças ao desvanecer do Plural, veremos aparecer o fundo essencial da tela; no silêncio constante, perceberemos a Nota única. Os fenômenos não nos manifestam, mas nos escondem a Substância”.
Com uma frase que por um lado critica o vazio idealista do Buda e por outro resume a essência de sua espiritualidade, ele reconhecia que o "vazio" é enriquecedor e beatífico, mas também acrescentava que esse vazio que atrai Deus só pode se encarnar na vivência de um pleno pré-existente. Ao final dessas considerações, acrescentava uma frase que poderíamos tomar como modelo de seu evolucionismo: “Para partir-se e se abrir, o fruto precisa estar maduro”.
De fato, segundo o cientista francês, o processo evolutivo do cosmos coincide com um progressivo amadurecimento espiritual que é ao mesmo tempo uma reificação e uma unificação que se realizam "em" e "através" de Cristo, tanto aquele histórico como aquele sacramental. Deve-se ressaltar, no entanto, que em Teilhard de Chardin, não diversamente do que prega o Oriente, esse amadurecimento-unificação é essencialmente descrito como uma libertação. Sem ser dualista, ele de fato fazia coincidir a plenitude da vida espiritual com o desapego da matéria. Ainda segundo ele “Para crescer na verdade é preciso caminhar dando as costas à matéria”.
Enquanto a espiritualidade das religiões indianas é orientada para o acosmismo, a teilhardiana é orientada para a transfiguração. Como frisava, “o fato fundamental não é esquecer a terra pelo céu, mas sobrenaturalizar o dever e o interesse humanos”. Desenhava assim duas formas antitéticas de desapego, porque “o desapego cristão, em vez de ‘deixar para trás’, arrasta; em vez de truncar, levanta: não mais ruptura, mas travessia; não mais evasão, mas emergência".
A verdadeira novidade, em relação ao Oriente, é que interpretava essa libertação da matéria não como consequência de um conflito dialético, mas como efeito de um amadurecimento libertador que é estrutural às própria dinâmica da vida: “Apesar do nosso apego às coisas, nos distanciamos delas: o nosso próprio apego, em certo sentido, nos distancia, porque na natureza está incluída uma lógica, uma força de renúncia, de expansão, de morte criadora (que é justamente o início da renúncia imposta organicamente por Cristo aos seus membros sobrenaturais)".
Assim, é possível compreender qual é o traço distintivo da espiritualidade teilhardiana: ir para o céu através da Terra. É uma travessia cósmica que pressupõe a vida e uma compreensão positiva do mundo, que não é por acaso que ele definia de "ambiente divino". Antes de ser uma lei espiritual, aquela da travessia era para ele uma lei física: "nada chega ao espírito senão por meio de uma passagem específica através da matéria". Resumindo a ambiguidade desta última - ou melhoria seria sua ambivalência -, acrescentava que esse percurso ou caminho “é em certo sentido uma distância que separa, mas também, noutro sentido, uma estrada que une”.
A originalidade da teologia espiritual teilhardiana, em resumo, consiste em ter aplicado as mesmas leis da vida cósmica à vida da alma. No Ocidente não há autores que tenham expressado o mesmo pensamento, mas até mesmo na Índia o único que cultivou ideias semelhantes é Aurobindo, e não é por acaso existem vários estudos dedicados à proximidade das respectivas visões.
A teologia espiritual de Teilhard de Chardin pode, portanto, ser definida, para usar um de seus termos, como mística da travessia. Coincidindo precisamente com um atravessamento da vida cósmica, comporta corolários bastante originais.
O primeiro é que expressa um ascetismo dialético, mas não dualista, que convida a sublimar em vez de reprimir, porque, como ele explicava, "obrigar-se muitas vezes significa falsificar-se. Reprimir tende a fazer explodir. Ninguém jamais dominou uma força ou uma ideia sufocando-a, mas capturando-a”. Um segundo corolário é o que poderíamos definir como subjetivismo, pois é evidente que “o atravessamento” é sempre um evento individual. Descreveu-o nestes termos: “Todo ser está em algum ponto da encosta que sobe da sombra para a luz. Diante dele, o esforço de dominar e simplificar sua natureza; atrás dele, o abandono de suas potencialidades na dissociação física e moral. Assim, o que é mau e material para mim pode ser bom e espiritual para outro que caminha atrás de mim. E aquele que está diante de mim na encosta seria corrompido se utilizasse o que me unifica”.
É claro que Teilhard de Chardin chegou a essas suas considerações aplicando à alma as leis da evolução, mas um oriental não poderia deixar de notar afinidades com a doutrina indiana do karma. Além disso, esses conceitos também foram reiterados em outro escrito, onde explicava que “a vida coloca cada um de nós num ponto específico da encosta material que conduz ao espírito. E cada um deve abraçar e subir essa matéria a partir do ponto em que se encontra, e não de um ponto ao lado, ou mais acima ou abaixo”.
Um terceiro corolário da visão de Teilhard é que sua espiritualidade resulta estruturalmente mediada. Em outras palavras, enquanto os ascetismos do Oriente são geralmente imediatos, ele, ao contrário, reconhecia como indispensável a mediação da Bíblia, de Cristo, da igreja e do sacramento eucarístico.
A divinização do mundo e a cristificação do homem, segundo o jesuíta francês, passam precisamente pela eucaristia. Em sua visão, a eucaristia é de fato o elo que conecta matéria e espírito, terra e céu. É ela quem transubstancia a alma do cosmos e a do homem, que considerava interligadas: “Em suma, aderir a Cristo na Eucaristia é, inevitavelmente, ipso facto, incorporar-se, cada vez mais, a uma cristogênese que, por sua vez, não é diferente (nisso consiste, como vimos, o essencial da fé cristã) da alma da cosmogênese universal”.
Acrescentava que "na Eucaristia há uma comunhão com Deus através da terra, um sacramento do mundo". A sacramentaria de Teilhard de Chardin olha, portanto, para a eucaristia não tanto do ponto de vista do memorial de um sacrifício, mas daquele típico do cristianismo oriental, entendendo-a como aquela força dinâmica que produz a divinização pessoal e cósmica.
Outro corolário da perspectiva de Teilhard, ligado à sua compreensão da evolução, é a relativização do mal. No entanto, esta última não implica, como alguns acreditam, uma negação do pecado original, mas apenas uma sua reinterpretação.
Lendo seus escritos, porém, é inegável que descrevem uma dinâmica evolutiva que envolve certa desvalorização da dramaticidade do mal. Extremamente original, a esse respeito, é sua leitura da cruz, que ele lia não como uma expiação, mas como o símbolo da criação que galga a encosta do ser. Esclarecia o sentido dessa sua convicção, explicando que “a vida só se elevou pelo sofrimento, pelo mal, seguindo o caminho da Cruz”.
Essa persuasão relativizante só pode surpreender e até desconcertar num homem que fora maqueiro durante a Primeira Guerra Mundial e que experimentara seus horrores em primeira mão. Seu olhar, porém, ia além da história imediata e olhava para os resultados escatológicos finais. No âmbito dessa visão, na qual história e escatologia se fundem, o mal resulta uma desordem residual, um inexorável subproduto da evolução, uma consequência da incompletude, o preço inevitável da evolução.
Para Teilhard de Chardin, o mal coincidia essencialmente com o não-ser, e se resumia na necessidade evolutiva de passar da obscuridade para a luz, da dependência para a liberdade, da fragmentação para a unidade. De fato, pela perspectiva do jesuíta, o pecado coincide essencialmente com a divisão, e a espiritualidade com a unificação. Ele chamava esse vértice final da história, no qual o processo unificador da evolução encontra sua realização, de Ômega, lendo-o justamente como o polo de atração divino que aproxima e unifica povos e religiões.
É com base nessas premissas que Teilhard de Chardin, além de precursor do diálogo inter-religioso, é também fundador da teologia das religiões inclusiva e, em particular, da perspectiva da realização. De fato, ele via as religiões convergirem para o cristianismo, ou pelo menos para valores crísticos. Já em 1934, por exemplo, ele falara de “uma convergência geral das religiões sobre um Cristo-Universal que definitivamente satisfaz a todas: aqui está, a meu ver, a única possibilidade de convergência do Mundo, a única forma imaginável para um Religião do futuro".
Como em seu léxico mística e unificação são sinônimos, ele especificava que “Não há religião conquistadora sem mística. E não há mística profundo fora da fé em alguma forma de unificação do universo". Entende-se, portanto, que a doutrina da convergência de Teilhard coincide com a perspectiva da realização e com o entendimento da mística como unificação. Seu otimismo cósmico nascia dessa persuasão preliminar de que a multiplicidade é, em última análise, ordenada à unificação.
Como ele escrevia, "Em seu bom e verdadeiro sentido, o múltiplo é de natureza convergente". Num plano antropológico, falava justamente de um "sentido cósmico", indicando com ele aquele sentido de unidade e de totalidade que está ligado à força unificadora de Cristo, pneumatológica e sacramental.
Quando se referia a essa dinâmica mística, usava um termo de sua própria autoria e de difícil tradução: oneness. Com isso entendia a convergência do múltiplo para o Um, que podia ser obtida, segundo ele, de duas maneiras opostas: pela dissolução impessoal sem amor, ou por paroxismo pessoal em um centro comum efeito específico do amor.
Essencialmente, os dois caminhos do Oriente e do Ocidente distinguem-se, segundo Teilhard de Chardin, por estas “duas noções inversas de unidade: de um lado, a unidade de empobrecimento, por meio da abstração, ou o retorno ao homogêneo; e, do outro lado, a unidade de riqueza, pela concentração do que há de positivo nas determinações e qualidades ”.
O Uno cristão, segundo o jesuíta, não perde nem pode perder a diferença ontológica e, portanto, o valor último da Pessoa e do amor. No pensamento religioso teilhardiano, portanto, não há lugar para impersonalismo, panteísmo, quietismo, imediatismo ou pelagianismo. No entanto, se a mística monista da Índia fala de advaita, ou seja, da não dualidade entre Deus e o homem, também nele há expressões que parecem beirar o panteísmo: "Quanto mais desço para dentro de mim, mais encontro Deus no âmago do meu ser".
Seu personalismo subjacente, porém, orientava-o para a doutrina do pancristismo, da qual foi um dos principais intérpretes no século XX. Doutrina que ele mesmo acreditava ser uma forma de panteísmo cristão alternativo ao indiano por não ser monista. Para explicar melhor, ele usava o termo "síntese diferenciadora", enfatizando que a "União diferencia". Além disso, o próprio Cristo era entendido por ele como "personalidade personalizadora".
A própria evolução a via convergir para o personalismo, que, sendo inclusivo de uma relação com a alteridade, resulta antitético ao monismo. Em uma nota espiritual, ele argumentava justamente que "A morte do egoísmo deriva da compreensão de que somos elementos de um universo que está se personalizando (se assim posso dizer) unindo-se a Deus (não digo tornando-se Deus)".
Por outro lado, ao conceber a unificação como amorização, o evolucionismo teilhardiano evidencia uma estrutura necessariamente relacional e personalista. Confirmando que aquela de Teilhard é uma espiritualidade centrada na relação interpessoal, vale seu esclarecimento de que "o amor não só tem a virtude de unir sem despersonalizar, mas ultrapersonaliza enquanto une".
Mais do que qualquer outro componente, no entanto, o que faz de Teilhard de Chardin um defensor do caminho do Ocidente é sua concepção de santificação pessoal como inseparável da santificação do mundo e do empenho encarnacionista na história. A esse respeito, destacava a inter-relação que existe entre essas duas santidades, explicando que “Cada homem constrói a sua própria alma durante todos os seus dias terrenos e, ao mesmo tempo, colabora numa outra obra, numa outra ‘opus’: o cumprimento do mundo". Do seu ponto de vista, é justamente esse encarnacionismo explicitado para o Reino, a característica que torna nova a mística do Ocidente, além de antitética ao acosmismo e impersonalismo do caminho do Oriente.
Um episódio, mais do que palavras, explica essa sua espiritualidade. Poucos meses antes do fatídico ataque cardíaco na Páscoa de 1955, caminhando com o amigo Pierre Leroy no meio da multidão na Park Avenue - no coração de Nova York e não em um eremitério ou em uma cela de mosteiro - ele o pegou pelo braço e a meia voz lhe disse: “Posso dizer-lhe que já vivo na constante presença de Deus!”.
P. Trianni, Teilhard de Chardin. Una rivoluzione teologica, EMP, Pádua 2018.
P. Trianni, Il Cristo di tutti. Teilhard de Chardin e le religioni, Studium, Roma 2012
P. Trianni, Teologia spirituale, EDB, Bolonha 2019