30 Abril 2025
Pensar o mundo com as mãos e, tal qual um Abaporu contemporâneo, com os pés implica pensar o estatuto da arte em um mundo ferido. Talvez não mais para compreendê-lo melhor, senão para reinventá-lo. O conjunto de entrevistas que compõem este número da Revista IHU On-Line nos coloca diante de reflexões instigantes, pertinentes e não raras vezes desconfortáveis. A edição reúne pesquisadores, artistas, escritores e pessoas de diferentes formações e regiões, que trazem um olhar bastante plural e rico sobre nossa relação com a Arte e com o mundo.
Hernán Borisonik, professor e pesquisador na Universidade Nacional de San Martin, em Buenos Aires, autor do livro A pergunta pela arte (Cultura e Barbárie, 2024) traz uma reflexão absolutamente original e necessária sobre o estatuto da arte. Ele propõe recolocarmos a pergunta “o que é arte” em dimensão política e tecnológica, reformulando-a em um contexto não utilitarista e pensando a arte em termos de quando e como ela acontece.
Para Anelise De Carli, professora e pesquisadora da PUCRS, a arte ocupa um papel central não somente na invenção de mundos, mas, sobretudo, na possibilidade de transformar nossas relações e formas de perceber o mundo que vivemos. O exercício torna-se ainda mais desafiador e necessário diante do Antropoceno e a necessidade mudarmos nossa relação com o mundo.
Como as fronteiras entre ficção, não ficção e realidade são sempre mais difusas do que supomos, o exercício intelectual de Veronica Stigger na entrevista desta edição faz como que um manifesto de uma arte indômita, tomando como ponto de partida seu mais recente livro Krakatoa (Todavia, 2024).
É do sertão brasileiro que vem a entrevista de Cícero Félix, professor e pesquisador na UFOB, que coloca em causa a monocultura devastadora do agro em favor da valorização das manifestações sagracionais de povos do Brasil profundo. Uma realidade rica e, cada vez mais, ameaçada pelo avanço de uma cultura pasteurizada.
Manuel Moyano Palacio, ensaísta e escritor argentino, aborda o potencial poder crítico da arte no contexto em que vivemos, sobretudo frente à iminente catástrofe do Antropoceno. Propõe, de maneira lúcida e direta, que a arte não oferece alternativas para salvar o mundo em que vivemos, mas, talvez, oferecerá imaginários para criarmos um mundo outro.
O sujeito indefinido ou oculto é propriamente a manifestação linguística e um paradigma universalista. Frente este cenário, dar nome e sobrenome a artistas populares implica tocar na sensível questão da legitimidade artística e da apropriação estética da arte popular, temas discutidos por Jancileide Souza dos Santos, professora e pesquisadora da UFOB.
Na abertura da edição, Ricardo Machado, professor e pesquisador da UFOB, faz uma reflexão a partir da carta do Papa Francisco sobre a literatura, inter-relacionando-a também com a arte, e o papel radicalmente transformador para uma formação humanista.
A todos os leitores e leitoras, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU deseja uma excelente semana e uma leitura prazerosa desta edição!