As Origens do Totalitarismo “oferece uma reflexão profunda sobre as causas e as dinâmicas dos regimes totalitários, destacando como fatores históricos, sociais e ideológicos convergem para criar essas formas de governo destrutivas e desumanizantes. A obra é uma crítica incisiva ao totalitarismo, ao mesmo tempo que busca entender os processos históricos que o tornaram possível”, destaca Márcia Rosane Junges, professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Filosofia da Unisinos. Por sua vez, “Roberto Esposito, ao comparar os pensamentos de Arendt e Weil, oferece uma reflexão sobre a complexidade do político, enfatizando que ele não pode ser reduzido apenas à disputa pelo poder, mas envolve também uma compreensão da experiência humana em suas várias dimensões, como a ação, a liberdade, o sofrimento e a busca pela justiça. Ambas as pensadoras, de maneiras distintas, nos convidam a repensar a política em termos mais profundos e humanos”.
As reflexões de Junges contextualizam a retomada dos encontros mensais de seu Grupo de Pesquisa intitulado A filosofia política pensada pelas mulheres: vozes, ressonâncias e insurgências, ocorrida em 26-03-2025, quando a análise crítica da obra As Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt, voltou a ocupar os debates. A partir de maio, o livro de Espósito passa a ser aquele de referência nas atividades do Grupo, que são parte do Projeto de Pesquisa “Os dilemas das democracias ocidentais: espetacularização da política e recrudescimento do neofascismo – diálogos entre Nietzsche e Agamben”, em desenvolvimento junto ao PPG Filosofia.
Márcia Rosane Junges é graduada em Jornalismo pela Universidade do Rio dos Sinos (Unisinos) e licenciada em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano. É especialista em Ciência Política pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), mestra e doutora em Filosofia Política pela Unisinos e pela Universitá degli Studi di Padova (UNIPD), na Itália, onde realizou cotutela com dupla titulação. É professora do PPG Filosofia da Unisinos e do curso de graduação em Filosofia e uma das jornalistas da equipe do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Entre suas publicações, destacamos A transvaloração dos valores em Nietzsche e a profanação em Agamben (Cadernos de Filosofia Política da USP, Especial II Encontro do GT de Filosofia Política Contemporânea, nº 28, 2016, p. 97-108) e os capítulos de livros: "Potência-do-não e potência destituinte: uma política como forma-de-vida" (In: ALVES NETO, Rodrigo Ribeiro (Org.). Política, direito e economia no século XXI. Rio de Janeiro: Via Verita, 2019, v. 1, p. 203-214) e "A potência em Nietzsche e Agamben: aberturas da política e críticas à democracia liberal" (In: VIESENTEINER, Jorge L.; MÜLLER, Maria Cristina; NETO, Rodrigo Ribeiro Alves (Org.). Filosofia Política Contemporânea. São Paulo: ANPOF, 2019, v. 1, p. 68-75).
As Origens do Totalitarismo é uma obra fundamental da filósofa alemã Hannah Arendt, publicada em 1951, que analisa os mecanismos e as origens dos regimes totalitários, particularmente o nazismo e o stalinismo, e como essas formas de governo surgiram no contexto do século XX.
Arendt dividiu sua análise em três partes principais, que coincidem com os três grandes blocos no qual seu escrito se desdobra:
Algumas ideias são cruciais na empreitada arendtiana, merecendo nossa reflexão no campo de interesse na filosofia política contemporânea como chave analítica para compreendermos o passado, bem como operam como uma triste preempção do que nosso presente está se convertendo com a corrosão das democracias liberais por autoritarismos de tipo novo. E diga-se claramente: esse flerte entre democracia e totalitarismos não é uma novidade, senão o modus operandi desse sistema político que, a partir dos pilares da governamentalidade (biopolítica) e da soberania (exceção) opera em simbiose com o capitalismo e sua máquina de gerar desigualdades.
Dessa forma, merecem destaque as seguintes práticas que permeiam a análise arendtiana sobre o fenômeno totalitário:
As Origens do Totalitarismo não é uma obra que está presa ao passado, superada ou que reclama por uma revisão conceitual. Pelo contrário: oferece uma reflexão profunda sobre as causas e as dinâmicas dos regimes totalitários, destacando como fatores históricos, sociais e ideológicos convergem para criar essas formas de governo destrutivas e desumanizantes. Trata-se de uma crítica incisiva a esse fenômeno, ao mesmo tempo que busca entender os processos históricos que o tornaram possível. Um passado que sempre pode ser um agora.
A fim de prosseguirmos refletindo as dinâmicas desse flerte que a democracia tem com os totalitarismos, como provocativamente escreve Agamben, a ideia é que, após terminarmos a análise da obra de Arendt, nos ocupemos do estudo crítico de The Origin of Political: Hannah Arendt or Simone Weil?, escrita pelo filósofo italiano Roberto Esposito.
The Origin of the Political: Hannah Arendt or Simone Weil? apresenta uma análise comparativa entre as contribuições políticas e filosóficas de Hannah Arendt e Simone Weil. Nela, Esposito busca destacar as diferenças e convergências entre as abordagens dessas duas pensadoras em relação à origem e à natureza do político. As ideias centrais do livro podem ser resumidas da seguinte forma:
Esposito parte do conceito de "origem do político", analisando como Arendt e Weil abordam a política a partir da condição humana. Arendt vê a política como um espaço de ação, onde a liberdade e a pluralidade se manifestam, enquanto Weil tem uma visão mais voltada para a experiência do sofrimento e da opressão, considerando a política como um meio para a justiça e a busca pela verdade.
Para Hannah Arendt, o político está intimamente ligado à ação. A ação política, para ela, é a expressão da liberdade e da pluralidade, permitindo a criação de um mundo comum através do diálogo e da convivência. A política não deve ser vista apenas como um campo de poder ou dominação, mas como uma arena de participação ativa, onde os indivíduos podem se revelar em sua autenticidade e diversidade. Esposito destaca a centralidade da liberdade e da ação no pensamento de Arendt.
Em contraste, Simone Weil tem uma abordagem mais trágica e mística do político. Para ela, a política está profundamente relacionada ao sofrimento humano, especialmente o sofrimento daqueles que são oprimidos e marginalizados. Em sua visão, a verdadeira ação política é a capacidade de acolher o sofrimento do outro e de buscar uma justiça que transcende as lógicas de poder e autoridade. Esposito ressalta que Weil enfatiza a necessidade do sacrifício e do compromisso com a verdade como elementos essenciais para a ação política.
Embora Arendt e Weil possuam visões distintas sobre a política, Esposito observa que ambas reconhecem a importância da experiência humana na construção do político, mas com ênfases diferentes. Arendt valoriza a liberdade e a ação coletiva como base da política, enquanto Weil coloca a ênfase no sofrimento humano e na busca por uma justiça que ultrapasse as estruturas de poder tradicionais. Para Esposito, essas duas perspectivas oferecem uma visão complexa da política, que não pode ser reduzida a uma simples dinâmica de poder, mas que envolve também questões existenciais e éticas profundas.
Esposito também sugere que tanto Arendt quanto Weil, de formas diferentes, são críticas da política moderna, especialmente da tendência à totalização e ao controle centralizado do Estado. Arendt vê o totalitarismo como uma negação da pluralidade e da liberdade política, enquanto Weil aponta a perversidade da política moderna, que muitas vezes ignora o sofrimento humano em nome do poder.
Roberto Esposito, ao comparar os pensamentos de Arendt e Weil, oferece uma reflexão sobre a complexidade do fenômeno político, enfatizando que ele não pode ser reduzido apenas à disputa pelo poder, mas envolve também uma compreensão da experiência humana em suas várias dimensões, como a ação, a liberdade, o sofrimento e a busca pela justiça. Ambas as pensadoras, de maneiras diversas, nos convidam a repensar a política em termos mais profundos e humanos.
Essa obra de Esposito, portanto, serve como um convite para a reflexão sobre a natureza do político, apresentando as filosofias de Arendt e Weil como dois caminhos possíveis para uma compreensão mais rica e multidimensional do campo político.
A retomada dos estudos do Grupo de Pesquisa A filosofia política pensada pelas mulheres tem o seguinte calendário previsto para o semestre 2025/1:
26/03/25 – Leitura e discussão de As origens do totalitarismo, Parte III Totalitarismo, p. 339 a 438 (paginação se refere à edição da Companhia das Letras, 1989)
30/04/25 – Leitura e discussão de As origens do totalitarismo, Parte III Totalitarismo, p. 439 a 531 (paginação se refere à edição da Companhia das Letras, 1989)
28/05/25 – Leitura e discussão de The Origin of Political: Hannah Arendt or Simone Weil? (Nota introdutória, Capítulos 1, 2 e 3)
25/06/25 – Leitura e discussão da obra ESPOSITO, Roberto. The Origin of Political: Hannah Arendt or Simone Weil? (Capítulos 4 e 5)
30/07/25 – Leitura e discussão da obra ESPOSITO, Roberto. The Origin of Political: Hannah Arendt or Simone Weil? (Capítulos 6 e 7)
A participação no Grupo de Pesquisa é aberta a interessados de dentro e de fora da Unisinos. Os encontros ocorrem via Plataforma Teams e ficam gravados para consulta posterior. Basta escrever para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e registrar interesse em compor o Grupo.