3º Domingo da Quaresma – Ano C – A misericórdia e a solidariedade de Deus com os que sofrem

21 Março 2025

"O Evangelho de hoje (Lucas 13, 1-9) nos chama à conversão (...) No Evangelho de hoje, a misericórdia de Deus é retratada na atitude de perseverança do vinhateiro. Apesar de sermos falhos e, por vezes, infrutíferos, o Senhor nos concede cuidado e amor, para que, mais uma vez, tenhamos a chance de produzir frutos."

A reflexão é de Kátia Neumann, Teóloga que atua na Diocese de Guarulhos como assessora na Escola da Palavra, na Equipe Campanha da Fraternidade, na Equipe Leitura Orante e na Rede de Multiplicadores CNLB Guarulhos Sul 1. Ela também atua na presidência do CNLB Guarulhos Sul 1 e é professora na Escola de Ministérios de Guarulhos. Além disso é Catequista, Proclamadora da Palavra e Ministra Extraordinária da Eucaristia.

Leituras do dia

1ª leitura: Êxodo 3,1-8.13-15
Salmo: 102(103)
2ª leitura: 1 Coríntios 10,1-6.10.12
Evangelho: Lucas 13, 1-9

Eis a reflexão.

Nesse tempo quaresmal, somos convidados a atender ao chamado de Deus e mergulharmos na sua infinita misericórdia.

Na primeira leitura (Êxodo 3,1-8.13-15) deste domingo, Moisés vê a sarça ardente. Ele se aproxima daquela visão extraordinária por curiosidade, mas é Deus quem o chama. Moisés responde prontamente: "Aqui estou!"

O chamado de Deus vem com uma advertência de cuidado. O chão sagrado não deve ser pisado com sandália nos pés. O Senhor é aquele que chama, adverte e orienta. Ele é aquele que ouve e vê o sofrimento do seu povo (cf. Ex 3,7). O Senhor é o Deus da história. Assim Ele é e assim Ele se apresenta para Moisés: "Eu sou aquele que sou".

O Salmo responsorial (102/103) continua nos apresentando características do Senhor. Ele é bondoso e compassivo, aquele que perdoa toda culpa, um Deus indulgente. Neste ano Jubilar, somos convidados a nos tornarmos Peregrinos de Esperança. O Papa Francisco nos lembra que o dom da Indulgência nos permite descobrir como é ilimitada a misericórdia de Deus.

Quando escutamos o chamado de Deus em nossas vidas, precisamos estar cientes de que nem sempre Ele nos coloca para navegar em águas tranquilas. A certeza que deve sempre nos acompanhar é a de que Ele sempre estará conosco. Quando cairmos, Ele nos sustentará (cf. Sl 37,24), e nas nossas fraquezas, nos acolherá com misericórdia.

Em sua Carta para a comunidade de Corinto (cf. 1Cor 10), assim como Deus fez com Moisés, Paulo relembra os principais acontecimentos do Êxodo e pede para que não ignorem tudo o que seus antepassados viveram. No entanto, essa comunidade agora tem a Cristo, aquele que sempre foi e deve continuar como o "rochedo espiritual". Não se deve murmurar, mas sim crer na misericórdia de Cristo.

"Convertei-vos", nos diz o Senhor, "porque o Reino dos Céus está perto" (cf. Mt 4,17). Deixemo-nos questionar: Qual é o tamanho do pecado de cada um de nós? Isso importa para um Deus cuja misericórdia não tem medida?

O Evangelho de hoje (Lucas 13, 1-9) nos chama à conversão. Os galileus eram um povo simples e suas práticas religiosas também eram simples, ou seja, não estudavam a Lei de Moisés com a mesma profundidade dos judeus da Judeia. Por isso, os fariseus usavam a designação “galileu” como uma forma de censura e desprezo. Vale lembrar que Jesus era galileu. Algumas pessoas (que não sabemos quem são) vieram trazer notícias para Jesus. É possível perceber nessa conversa um tom de crítica aos galileus. Na resposta de Jesus, Ele não defende os galileus, nem defende os pecados, mas parece chamar à consciência de que não nos cabe julgar, mas sim buscar a verdadeira conversão, pois, se não nos convertermos, morreremos todos da mesma forma.

Para ajudar no entendimento, Jesus conta a seguir uma parábola. O dono da vinha vai até ela durante três anos e vê que a figueira não dá frutos. O número 3, em hebraico, simboliza plenitude, perfeição e completude. Será que essa figueira completou seu ciclo? Ela não teria mais ‘salvação’, ou a espera do dono da vinha por ‘resultados’ teria terminado?

Para o dono da vinha, bastaria cortar uma figueira que não produz frutos. No entanto, o vinhateiro pede uma nova chance para aquela planta. Vale refletir que o vinhateiro está ciente de que deverá cavar em volta e adubar para que, talvez, ela volte a dar frutos. É necessário cuidar, regar, adubar e dar uma nova chance. Assim nos ensina o Evangelho.

A figueira tinha um simbolismo especial nos tempos de Jesus. Na Bíblia, ela representava prosperidade, paz e segurança para a nação de Israel. No entanto, a ausência ou morte de uma figueira simbolizava rejeição e julgamento. Jesus usou a figueira para transmitir lições importantes sobre a necessidade de arrependimento e de dar frutos espirituais.

No Evangelho de Marcos, na parábola da figueira seca, Jesus entra em Jerusalém, aclamado por uma multidão (cf. Mc 11,8). O povo parecia pronto para aceitar Jesus e mudar de vida, mas menos de uma semana depois eles queriam Sua morte! Eles eram como a figueira amaldiçoada: pareciam prontos, mas não deram frutos. Sua aparência era enganosa.

No Evangelho de hoje, a misericórdia de Deus é retratada na atitude de perseverança do vinhateiro. Apesar de sermos falhos e, por vezes, infrutíferos, o Senhor nos concede cuidado e amor, para que, mais uma vez, tenhamos a chance de produzir frutos.

Como nos pede o Papa Francisco, caminhemos sempre juntos na esperança, a esperança que não engana (cf. Rm 5,5).

Que Maria Santíssima, Mãe da Esperança, interceda por nós e nos acompanhe neste caminho quaresmal.

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