20 Março 2025
O Conselho Mundial de Igrejas (CMI), órgão que representa 352 igrejas de mais de 120 países, manifestou esta terça-feira, 18 de março, estar “profundamente alarmado e triste com o ataque mortal em Gaza”, que pôs fim a dois meses de tréguas, assim como com “os recentes ataques aéreos dos EUA no Iêmen, que desestabilizaram ainda mais a região e infligiram sofrimento adicional a uma população já vulnerável”.
A reportagem é de Clara Raimundo, publicada por 7 Margens, 18-03-2025.
“Condenamos inequivocamente esta escalada de violência desnecessária, que levou a mais mortes e mais sofrimento de civis inocentes, incluindo mulheres e crianças”, pode ler-se no comunicado assinado pelo secretário-geral da organização, Jerry Pillay.
“Como uma fraternidade de Igrejas comprometidas com a justiça e a paz, pedimos o fim imediato das hostilidades e um compromisso renovado com o diálogo e as soluções diplomáticas”, continua o pastor da Igreja Presbiteriana. “O ciclo de violência deve acabar, e todas as partes devem respeitar o direito internacional humanitário, garantindo a proteção de todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis”, apela ainda, referindo-se ao conflito israelo-palestino.
Também relativamente ao Iêmen, “a ação militar não pode ser um caminho para a paz; em vez disso, ela exacerba crises humanitárias e aprofunda ciclos de conflito”, defende o secretário-geral do CMI. “O povo do Iêmen, como aqueles em Gaza, merece segurança, dignidade e a oportunidade de viver livre do medo e da violência”.
O jornal Corriere della Sera partilhou uma carta escrita pelo Papa (Foto: Reprodução/7 Margens).
Ao mesmo tempo que o conflito no Oriente Médio se reacendia, era também conhecida uma carta do Papa ao diretor do jornal italiano Corriere della Sera, em que mais uma vez levanta a sua voz contra a guerra.
Em resposta a uma mensagem do jornalista Luciano Fontana, que quis fazer-se próximo neste momento de doença, o Papa reitera uma mensagem que já havia escrito há pouco mais de duas semanas, para o momento do Angelus: “daqui, a guerra parece ainda mais absurda”.
E faz um apelo ao diretor do diário milanês: “Eu gostaria de encorajá-lo e a todos aqueles que dedicam trabalho e inteligência para informar, através de instrumentos de comunicação que agora unem o nosso mundo em tempo real: sentir toda a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Elas podem conectar ou dividir, servir a verdade ou servir-se dela. Precisamos de desarmar as palavras para desarmar as mentes e desarmar a Terra”.
Na sua missiva, o Papa sublinha que “enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova força vital e credibilidade. As religiões, além disso, podem valer-se da espiritualidade dos povos para reacender o desejo da fraternidade e da justiça, a esperança de paz”.
Esperança essa que não abandona o padre Gabriel Romanelli, da paróquia da Sagrada Família, em Gaza, apesar de os ataques israelitas das últimas horas terem atingido uma zona a poucos metros da igreja onde se encontram cerca de 500 refugiados.
“Esperamos que o que aconteceu esta noite não ponha fim ao cessar-fogo, que a guerra não recomece”, disse o padre Gabriel Romanelli aos média do Vaticano. “Os bombardeamentos acordaram-nos, foram aqui perto, a 300/400 metros de distância. Felizmente, não chegaram aqui os estilhaços, estamos bem, mas em toda a Faixa já se fala de mais de 350 mortos e mais de mil feridos”, relatou.
Nas últimas horas, “vimos entrar mais ajuda humanitária, especialmente alimentos”, acrescentou o pároco, que descreve uma maior ansiedade dos civis, refletida no regresso à paróquia de uma dezena das cerca de vinte famílias que tentaram, nos últimos dois meses, “instalar-se no que restou de suas casas ou nas de parentes”, em busca de “uma vida mais serena, mais normal”.
Agora, todos os que ainda não regressaram “estão a avaliar, porque as notícias não são boas e, para eles, é mais seguro estar ‘perto de Jesus’”, partilha o padre Gabriel Romanelli, reconhecendo que, na verdade, “não há nenhum lugar seguro em toda a Faixa”.