13 Março 2025
Não é apenas um número. É escuridão, são corações que param nas portas dos hospitais, recém-nascidos que não sobrevivem em incubadoras desligadas. É água contaminada que ninguém mais consegue purificar. É a nossa voz que não consegue mais passar pelos celulares.
O artigo é de Rita Baroud, estudante palestina, publicado por La Repubblica, 12-03-2025.
Mais de 500 dias sem eletricidade. Não é apenas um número: são 500 dias de escuridão, de velas queimando até o último pavio, de corações parando nas portas dos hospitais, de água contaminada dada a crianças que não têm outra escolha e de uma guerra que mata não apenas com bombas, mas com sede, fome e doenças.
Desde o primeiro momento da guerra, Gaza mergulhou em sua própria escuridão. Não há luz, exceto as chamas devorando as casas, nem iluminação, exceto os flashes dos mísseis rasgando o céu. Os bombardeios não foram suficientes. O cerco se intensificou, e os dias passam sem eletricidade, sem água, sem combustível, sem remédios. Como se a guerra em si não fosse cruel o suficiente.
Agora a situação tomou um rumo ainda mais sombrio. Israel não apenas mergulhou Gaza em seu apagão habitual: também cortou a eletricidade nos lugares que mantêm as pessoas vivas: hospitais, usinas de dessalinização de água, estações de tratamento de águas residuais. A mensagem era clara: renda-se ou morra.
Nos últimos dez dias, as passagens de fronteira foram completamente fechadas. Nada entra, nada sai. Sem comida, sem remédios, sem combustível — nada para garantir a continuidade da vida neste lugar. E quando a eletricidade acabou, não foi uma falha técnica ou uma crise temporária. Foi um ato deliberado para cortar o sangue vital de 2,3 milhões de pessoas.
Em cada unidade de terapia intensiva há um corpo suspenso entre a vida e a morte, dependente de um ventilador alimentado por eletricidade. Agora, essas máquinas estão desligando, uma após a outra.
Nas enfermarias de diálise, dezenas de pacientes precisam de tratamentos regulares, mas o equipamento médico parou. Pacientes cardíacos, pacientes com câncer, recém-nascidos em incubadoras cujas temperaturas são reguladas por eletricidade: todos agora enfrentam a morte iminente.
Os médicos trabalham com as próprias mãos, tentando salvar quem puderem em meio ao desamparo total. Medicamentos que exigem refrigeração correm o risco de estragar, o sangue não pode ser armazenado para cirurgias de emergência e as operações agora são realizadas sob a luz fraca de celulares ou lanternas. Gaza se tornou uma grande sala de emergência, sem ferramentas, sem suprimentos, sem esperança.
Mas a eletricidade não é a única coisa que desapareceu. O fornecimento de água também foi interrompido, pois a única usina de dessalinização no sul de Gaza parou de funcionar devido à falta de energia. Seiscentos mil pessoas estão agora sem água potável.
Imagine viver em uma zona de guerra, em um campo de refugiados sem abrigo e ainda assim não conseguir encontrar um único copo de água limpa. A situação não é nova em Gaza, mas está piorando a cada dia. A sede consome a todos, e os poucos poços restantes produzem água contaminada, misturada com esgoto, mas continua sendo a única opção de sobrevivência.
Como você vive sem eletricidade?
Todos os aspectos da vida cotidiana se tornaram uma batalha: é quase impossível encontrar comida e o gás de cozinha se tornou uma raridade. Como as refeições são preparadas? Quase não são encontrados pedaços de madeira ou são utilizados fogões primitivos.
A noite envolve completamente a cidade: nenhuma luz, exceto as velas que derretem lentamente, assim como as esperanças do povo de Gaza, que desaparecem a cada dia de cerco.
Carregar celulares se tornou uma tarefa árdua, o que significa que muitos perderam a capacidade de entrar em contato com seus entes queridos ou de se manter informados sobre as últimas notícias.
Estudantes que tentam estudar não têm eletricidade, os negócios estão paralisados e as estradas se tornaram ainda mais perigosas.
Alternativas? Painéis solares, mas eles são caros e inacessíveis para a maioria das pessoas. Geradores requerem combustível, mas ele é escasso e incrivelmente caro. Mesmo quando disponível, ele se esgota rapidamente e é insustentável.
A vida em Gaza hoje não é apenas uma luta diária: é um teste brutal de sobrevivência no meio do nada.
Se essa situação persistir, epidemias surgirão. Água contaminada trará cólera e infecções gastrointestinais, hospitais se transformarão em necrotérios, a fome aumentará e não haverá saída. Mas nada muda. O mundo observa em silêncio, falando sobre um cessar-fogo, mas falhando em ver que Gaza não precisa apenas de um cessar-fogo: ela precisa de ajuda urgente, do fim do cerco e da restauração da vida de um povo que foi abandonado na escuridão por mais de 500 dias.
Gaza hoje está sem eletricidade, sem água, sem remédios, sem comida, sem luz, sem uma voz que seja ouvida.
Até quando?