13 Março 2025
O artigo é de Adrien Candiard, frade dominicano, membro do Instituto Dominicano de Estudos Orientais e autor de vários ensaios, publicado por Avvenire, 11-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pelo menos, com Deus as coisas são claras: se buscarmos sua benevolência e perdão, devemos primeiro dar provas disso, e seremos tratados como tratamos os outros.
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque deles será a misericórdia” (Mt 5,7), diz Jesus: um do ut des, e essa é a justiça. No entanto, não é tão tranquilizador: se Deus não perdoa melhor do que eu, se ele me julga pelo critério de minhas próprias e estreitas medidas, talvez eu tenha motivos de preocupação. Mas a lógica de Jesus não é me convidar a fazer o cálculo de quantas vezes devo perdoar para garantir meu lugar no paraíso. Enquanto nos questionarmos sobre pontos ganhos por essa ou aquela ação, isso significa que não teremos entendido nada sobre o Reino de Deus.
O que Jesus nos fala aqui é precisamente de misericórdia: a lógica do Reino não é a da justiça, em que tudo é merecido, mas a da graça, em que tudo é doado. Jesus não transforma o perdão e a ausência de juízo em condições para entrar nele, mas em sinais: enquanto vivermos no rancor e no cálculo, ainda não estamos lá, ainda não começamos a armar nossa tenda. Para entrarmos no Reino, é Deus quem toma a iniciativa: sem que tenhamos merecido nada, ele nos amou primeiro. Aceitar esse amor gratuito já significa entrar no caminho da misericórdia.