28 Fevereiro 2025
"A Eucaristia não é uma coisa, não é apenas aquele pão-presença, mas é a transformação de nossa vida na vida de Cristo! 'Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim!': é isso que o cristão diz quando comunga!", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em Vita Pastorale, 26-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Continuando a pensar e a delinear uma reforma urgente e necessária, não primariamente das estruturas externas da Igreja ou de suas formas, mas uma reforma que busque captar aquele fogo do Espírito que pode renovar tudo, vivo a convicção de que a compreensão eucarística e, consequentemente, a celebração eucarística, são decisivas e determinantes. Somente a partir de uma autêntica interpretação eucarística pode surgir a reforma eclesial. Para muitos parecerá estranha essa minha afirmação, elaborada e repensada durante décadas em minha vida, mas sempre fui solidificando essa convicção. E também o Concílio Vaticano II me parece confirmar que a reforma da liturgia (da compreensão eucarística, na medida em que houve) deu dinamismo às outras reformas penosa e laboriosamente buscadas.
Ao longo de minha vida litúrgica, vivida com paixão e consciência, sempre me perguntei por que cantávamos uma utopia, uma promessa nunca cumprida. Cantávamos na festa de Corpus Christi, mas também em cada bênção eucarística: “Tantum ergo sacramentum veneremur cernui, et antiquum documentum novo cedat ritui!” Um sacramento tão grande como a Eucaristia deve ser venerado, mas para fazê-lo de fato, o antigo documento deve dar lugar ao novo rito... Cantamos que a antiga aliança com seus ritos e sacrifícios deve dar lugar à Eucaristia cristã, que a religiosidade deve dar lugar à fé, que o rito deve dar lugar às realidades nas quais a vida humana é sacrifício oferecido a Deus, é verdadeiramente morte e ressurreição. Agora, em vez disso, o que acontece? Que os fiéis não frequentam mais a assembleia dominical, não assistem mais à missa, a consideram desgastada e enfadonha.
Os sociólogos se apressam em dar explicações: o domingo é um dia de descanso e de desligamento dos compromissos, é o dia em que as pessoas vão para as montanhas ou para o litoral, é o dia em que as pessoas vão ao shopping, e não sobra muito tempo para incluir também a missa. Mas temos certeza de que as causas dessa deserção são apenas externas, devido ao modo de vida atual, e não também a um desaparecimento da compreensão eucarística? Porque se a Eucaristia é entendida apenas como uma missa, como uma ação a ser realizada por preceito, indo à igreja para participar de um rito incompreensível, então, pouco a pouco, desaparece o desejo de que tantum ergo sacramentum, tal sinal, seja uma vida vivida, seja uma ação que é eficaz, seja um evento extraordinário no qual a vida de cada participante da Eucaristia participa da vida de Cristo.
A Eucaristia não é uma coisa, não é apenas aquele pão-presença, mas é a transformação de nossa vida na vida de Cristo! “Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim!": é isso que o cristão diz quando comunga! A Eucaristia como ato concelebrado pela assembleia é a partição do pão, um fato, uma ação, um evento que é a epifania do Evangelho e a incorporação do cristão que se comunica no corpo de Cristo!
“Um é o corpo”, um só corpo formado pelos comunicantes! Ai daqueles que pensam e acreditam que a Eucaristia é apenas algo, é res, é consumida ou mantida em um lugar como presença! Todas essas tentações que levam a pensar na Eucaristia como a “minha Eucaristia”, o “meu Jesus”, são regressões à religiosidade mágica, com uma concepção utilitarista e egoísta dos sacramentos. A Eucaristia é Alguém! É o Kyrios com sua dynamis que opera uma transformação que nós não podemos operar.
“Este é o meu corpo”, diz Jesus (Mt 26,26); e poderíamos acrescentar imediatamente as palavras de Paulo: ‘Vós sois o corpo de Cristo!’ (1 Cor 12,27). Se a Eucaristia fosse entendida dessa forma, muitas passagens do antigo documento cairiam, o novo rito mais simples, menos religioso, mas mais evangélico, resplendeceria, e os cristãos sentiriam uma necessidade maior dele.
Acredito que seja necessário um trabalho de ablatio: remover o desnecessário que atrapalha e não permite que a imagem seja vista em toda a sua beleza e verdade! Que se tenha essa coragem, sem ceder a um espírito de aventura ou de experimentação selvagem, que se tenha a coragem de simplificar a Eucaristia, fazendo com que apareça o essencial:
- a acolhida misericordiosa de Deus em sua presença;
- a escuta de sua Palavra nas Escrituras e especialmente no Evangelho;
- a intercessão pela humanidade que aguarda a redenção;
- o agradecimento a Deus pela criação, por todos os dons e pela vinda do Filho que morreu e ressuscitou por amor a nós;
- a constituição de um único corpo por meio da comunhão, a participação no corpo e no sangue do Senhor;
- a missão como missão de paz no mundo.
Simplificar, não multiplicar as orações, realizar cada ação com simplicidade, mas também com um estilo que evoque beleza e graça, dar eloquência a gestos como o partir do pão, que podem narrar a Eucaristia tanto quanto as palavras. E não há necessidade de clericalizar os leigos e fazê-los zanzar em volta do altar! Abandonar a missa para chegar à Eucaristia: sei que essa é a jornada de uma vida inteira, porque insondável e inesgotável é o mistério da Eucaristia. Mas ou a lemos de forma escatológica ou somos forçados a lê-la com regressões religiosas não evangelizadas. Já escrevemos isso há cerca de uma década: aqui é preciso a abertura de canteiros de obras; canteiros empenhados em tentar recompreender a liturgia e, acima de tudo, a Eucaristia, para que o povo cristão possa realmente sentir que nela há vida, há o Vivente, e há um magistério silencioso, mas eloquente, para a vida cotidiana dos crentes no mundo.
A Eucaristia é verdadeiramente uma revolução e um compromisso com a caridade vivida, porque é o seu sacramento. É por isso que na celebração eucarística é ordenado o que deve ser vivido, e o que é vivido está contido na própria Eucaristia.
Se fôssemos sinceros, teríamos de confessar que a ritualidade do Antigo Testamento, a economia do sacrifício, do sacerdócio e do templo já não estão mais presentes na comunidade crente dos judeus, que ainda assim celebram o culto; mas estão presentes na ritualidade da Igreja, onde a religiosidade se mostra mais forte do que a fé. É preciso dizer isso com clareza: ainda hoje, a nossa liturgia é mais inspirada no Antigo Testamento, no culto pagão dos romanos e nas fórmulas teológicas medievais do que no Evangelho de Jesus Cristo.
Lembro-me com muita nostalgia daquelas humildes eucaristias celebradas pelos presbíteros que tratavam de realizar a eucaristia e, significativamente, nunca falavam de “missa”: o padre Michele Do, o padre Ernesto Balducci, o padre Giuseppe Acchiappati. Mas se celebrava um evento, não um rito, um evento muito humilde como em Emaús, não uma “missa solene”. Assim, o essencial era vivido. O “tantum ergo sacramentum” cedia lugar ao novo rito da Aliança Pascal do Senhor Jesus Cristo. E aqueles que haviam participado da celebração eucarística voltavam para casa tendo recebido vida. Hoje, ao contrário, o que recebem?