26 Fevereiro 2025
Órgão justifica que Ivan Werneck Sanchez Bassères foi aprovado em um programa da ONU, mas nos bastidores do órgão ambiental afastamento gera sentimento de insegurança.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 24-02-2025.
Desde maio de 2023, quando negou a licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, o Ibama é pressionado pela ala do governo que defende a exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”. Nas últimas semanas, esse grupo, liderado pelo ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, e pela presidente da petroleira, Magda Chambriard, ganhou um reforço de altíssimo peso: o presidente Lula, que chegou a falar em “lenga-lenga” do Ibama e que o órgão “agia contra o governo”. Fala bem parecida com a do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), eleito presidente do Senado no início deste mês, que acusou o Ibama de “boicote contra o Brasil” em outubro do ano passado.
Por isso causou bastante surpresa o anúncio de que Ivan Werneck Sanchez Bassères, coordenador de Licenciamento Ambiental de Exploração de Petróleo e Gás Offshore do Ibama, está sendo afastado temporariamente. Segundo Ancelmo Gois, n’O Globo, o posto de Bassères será assumido por um antigo coordenador que, anos atrás, foi responsável por gerenciar o pedido da BP para perfurar poços exploratórios de petróleo na foz – a licença não foi concedida.
Em nota, o Ibama disse que Bassères foi aprovado no “United Nations – Nippon Foundation Fellowship” de 2025, organizado pela Divisão de Assuntos Oceânicos e Direito do Mar da ONU, informam Carta Capital, CNN, Poder 360 e Brasil 247. A seleção ocorreu entre setembro e novembro de 2024; o programa começa em 26 de março e dura nove meses – ou seja, até o fim do ano.
“Após o término do programa, o servidor deverá retornar ao Ibama”, informou o órgão. “Seu afastamento ainda depende de autorização, a ser publicada no Diário Oficial da União, e sua eventual exoneração do cargo em comissão que atualmente ocupa é condição para a sua participação”, completou.
A explicação não convenceu analistas do órgão ambiental. Ainda de acordo com Ancelmo Gois, a saída de Bassères gerou insegurança no Ibama. Isso porque o atual coordenador manifestou concordância com os técnicos por diversas vezes no processo de licenciamento da Petrobras na foz do Amazonas.
Além disso, a saída de Bassères reforça a preocupação com mudanças no comando do Ibama após a artilharia pesada que o órgão vem recebendo de Lula e companhia nas últimas semanas. Nos bastidores, falou-se na substituição de Rodrigo Agostinho por Márcio Macêdo, secretário-geral da Presidência da República e aliado da turma pró-petróleo do governo, que conta também com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.