24 Fevereiro 2025
O jesuíta, um dos colaboradores mais próximos de Bergoglio, fala sobre sua doença e o futuro. Mas, enquanto isso, ele esclarece: “Mesmo que contido pela situação, ele continua liderando a Igreja”.
O Papa Francisco "está exercendo seu dever pastoral mesmo em seu leito de hospital". É o que afirma o jesuíta Antonio Spadaro, um dos colaboradores mais próximos do Pontífice argentino.
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Repubblica, 24-02-2025.
Como você está passando por esses dias?
Eu os vivencio com uma sensação de apreensão e expectativa. Francisco é uma figura capaz de inspirar sentimentos muito profundos em quem o conhece. Sua figura humana, os traços de sua personalidade inspiram uma grande participação emocional naquilo que ele está vivenciando. Ouço ecos de muitas pessoas ao redor do mundo, incluindo aquelas em posições de responsabilidade, que estão sinceramente preocupadas porque sabem que Francisco é um dos poucos que conseguem conectar os pontos em um mundo que parece dividido. Neste momento da história sentimos a necessidade da sua figura.
Você o conhece bem. Qual é a atitude de Francisco em relação à doença?
Francisco sempre considerou importante o conselho de Santo Inácio aos jesuítas: serem obedientes ao médico como a um superior. Ele tem uma atitude de grande confiança no trabalho dos médicos, mas acima de tudo é uma pessoa que se entrega a Deus, que vive tudo na oração. Ele é uma pessoa que sabe viver até os momentos mais difíceis de forma espiritual. Ao mesmo tempo, ele é uma pessoa que lida com falta de ar desde jovem. Certa vez, ele me contou que, quando era menino, quando foi hospitalizado por uma doença pulmonar, sentiu falta de ar e gritou estrangulado para sua mãe: "O que está acontecendo comigo?" A falta de ar era, e imagino que seja, tremenda. É justamente dessa experiência juvenil que nasce a ideia da Igreja como hospital que cura feridas. Seu corpo certamente está abalado neste momento, e não sei como ele consegue ser paciente e ficar parado. O que eu sei é que ele tem toda a capacidade de viver de forma espiritual o que está acontecendo.
Que sentimentos percebe na Igreja italiana?
Vejo que muitas pessoas estão expressando orações e pensamentos também por meio de canais digitais. Até pessoas distantes da Igreja postam imagens, reflexões, pensamentos, e se isso vale para todos, vale ainda mais para os fiéis. Há um forte senso de participação no que o Papa está vivendo, e sinto a necessidade de muitos se reunirem em lugares comuns onde possam expressá-lo, com iniciativas oficiais ou espontâneas. Que as pessoas rezem por ele é a única coisa que o Papa sempre pediu para si mesmo.
Como você reagiu às notícias falsas que se espalharam nos últimos dias?
Fiquei triste ao ver distorções, interpretações errôneas e, às vezes, até ataques ao Papa nessa condição. Penso que este é o momento da oração, da espera ou o momento de expressar "boas ondas", como diz o Papa quando se dirige aos que não são crentes.
A internação hospitalar deverá ser longa: quanto tempo e como a Igreja poderá viver sem seu pastor?
Parece que já passaram muitos dias, mas na realidade o Papa só foi hospitalizado recentemente: deixemos passar estes dias e depois veremos. O Papa está atento, exerce sua tarefa pastoral mesmo em seu leito de hospital e, mesmo que de forma diferente e menos visível, ele manifesta sua presença. E então ele pediu aos médicos que contassem a verdade sobre ele, que os boletins médicos dissessem o que estava acontecendo e que ficasse claro para o mundo exterior o que ele realmente pode fazer sem forçar. Ele se expõe e se apresenta como ele é. Veremos o que acontece num futuro próximo, mas por enquanto acho prematuro levantar essa questão.
Há quem tenha falado em renúncia: conhecendo o Papa, uma renúncia lhe parece provável?
Lembro-me que quando falava aos jesuítas numa das suas viagens disse claramente que o Papado é para toda a vida. A ideia de renunciar ao ministério petrino, já mencionada no passado, parece ser uma opção considerada caso a energia se torne irreversivelmente escassa. O Papa sempre disse que Bento XVI abriu um caminho e considera possível que um Papa renuncie ao seu ministério, mas isso terá que ser verificado com base no que acontecerá no futuro próximo. Então, este não é o momento de falar sobre as chamadas renúncias. Contudo, quero ressaltar que a decisão seria fruto de um discernimento espiritual cuidadoso diante de Deus, e certamente não simplesmente uma questão de eficiência e poder físico. Este último seria um critério mundano, completamente alheio ao pensamento do Pontífice.