13 Fevereiro 2025
A sinodalidade é muito mais do que um discurso, é uma forma de ser e de entender a Igreja. Na realidade, é uma maneira de viver e entender a vida, que nos leva a refletir sobre a necessidade de caminhar juntos, de olhar para os outros com misericórdia, com aquele sentimento que provoca empatia por aqueles que, de diferentes maneiras e em diferentes momentos, estão no caminho de nossa vida.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
No mundo de hoje, há muitas pessoas que estão na estrada de diferentes modos, uma realidade que deve nos levar a refletir, como fez a Rede Ecclesia in America de 6 a 9 de fevereiro na Universidade de San Diego (Estados Unidos), com o tema “Sinodalidade na América: mobilidade humana, diálogo e novos cenários” como fio condutor.
Uma reflexão mais do que necessária em um mundo no qual existem “estruturas que sufocam e formas de proceder que negam o humano”, como disse a presidenta da Conferência dos Religiosos da América Latina, Liliana Franco, no final do congresso. Um mundo no qual “a nuance nociva da manipulação ideológica é estabelecida e o poder é usado para controlar e classificar, para estigmatizar e excluir”, disse ela. Um grito que ressoou, expressando “o drama da exclusão, do deslocamento e da barbárie, da xenofobia e da discriminação; da crueldade das lacunas sociais e dos danos que causamos ao planeta, protegidos pela idolatria do individualismo, do consumismo e da ambição”.
Uma realidade que exige novas formas de relacionamento e uma Igreja mais capaz de nutrir relacionamentos, com um rosto sinodal, uma Igreja Povo de Deus, com um lugar para todos, que escuta e desenvolve uma teologia em chave sinodal. Uma necessidade peremptória neste momento histórico de liderança frágil e utilitária, de democracias fracas, com sociedades polarizadas e xenófobas. E, diante disso, devemos ouvir e discernir para descobrir a vontade de Deus, que nos levará a superar as desigualdades, a violência, as violações da vida, dos direitos humanos e do planeta.
Tudo isso em um mundo onde a pobreza tem um rosto, o que deve levar aqueles que fazem teologia a fazer “uma opção pelos mais pobres, por suas lutas e suas causas”, disse a presidenta da CLAR. Isso exige “ir às profundezas, às raízes estruturais da pobreza e promover oportunidades reais de desenvolvimento integral”. Para isso, não devemos cair na passividade, no individualismo mesquinho, e viver com paixão por Jesus e pelo povo, evangelizando a partir dos territórios. A proposta feita pela religiosa colombiana foi um abraço prolongado, processos comunitários, aumentando o respeito mútuo e as boas relações entre religiões e crenças para o bem comum.
Ir. Liliana Franco (Foto enviada por Luis Miguel Modino)
A bem da verdade, foram muitas as reflexões compartilhadas sobre a sinodalidade, que “se expressa na missão da Igreja, na atividade missionária”, como disse o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, deixando claro que “o povo de Deus participou do Sínodo!” Um processo sinodal que não terminou, sendo chamado a “perseverar e aprofundar esse jeito de ser Igreja”, com a participação de todos, santos e pecadores, ouvindo os clamores que nos levam a atitudes proféticas, a estarmos abertos ao diálogo.
Diante da atual situação dos migrantes nos Estados Unidos, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Michael Czerny, afirmou que “quando as pessoas são criminalizadas, a Igreja não pode ceder”. Uma atitude necessária, apesar do fato de que “há movimentos preocupantes na região para criminalizar aqueles que ajudam as pessoas que migram, incluindo organizações católicas”, o que não pode levar ao “medo de caminhar com os migrantes”, ainda mais quando Francisco quer que “nos sintamos um com aqueles ameaçados de morte”, sublinhou o cardeal. A partir daí, ele enfatizou que o papel fundamental da Igreja é “combinar a vocação pastoral samaritana com a necessidade de interromper essas políticas”.
Dada a situação atual, é necessário que a Igreja Católica recupere o direito de asilo nas igrejas no Código de Direito Canônico, como afirmou o professor Leo Guardado, ainda mais neste ano jubilar, porque “sem mudanças reais, o processo sinodal não funcionará, e muitas pessoas se afastarão”. Uma sinodalidade que também exige espaços para as mulheres em uma “casa patriarcal”, cuja estrutura deve ser desmontada, como exigiu Cecilia González, da Loyola Marymount University.
Congresso sobre a Sinodalidade (Foto enviada por Luis Miguel Modino)
Mas também com os pobres, um exército desarmado com o qual “temos que organizar a esperança”, como disse a secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, Emilce Cuda, que, seguindo o pedido do Papa, convocou a organizar a esperança em comunidade, que “é a esperança organizada”. Para isso, ela propôs o diálogo como o caminho a seguir, que leva à elaboração de políticas inclusivas, “que garantam melhorias sociais para todos”. Um diálogo com todos baseado na fé, para salvar a todos, fazendo políticas que levem a acordos, para “organizar comunidades”.
Uma sinodalidade que levou o teólogo argentino José Carlos Caamaño a dizer que “uma Igreja que não constrói sua identidade com base naqueles que são diferentes se torna uma comunidade idólatra”. A partir daí, ele pediu um maior diálogo inter-religioso e ecumênico, com agendas comuns, como a paz, a justiça social e o cuidado com a casa comum. Para isso, é necessário “reconhecer que a verdade está sendo dita a mim por aqueles que são diferentes”, que o outro também pode estar certo, a verdade, enfatizou. Isso porque “o diferente, o outro, é fundamental para sairmos de nossas endogamias linguísticas”, destacou o teólogo.