06 Dezembro 2024
V Congresso Latino-Americano e Caribenho de Vida Religiosa reúne mais de 1.000 participantes.
A reportagem é de Rhina Guidos, publicada por National Catholic Reporter, 05-12-2024.
A presidente do maior grupo de religiosos e religiosas da América Latina e do Caribe expressou, no dia 24 de novembro, seu apoio à vida religiosa na Nicarágua, que vive sua missão sob "tirania".
A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos, conhecida como CLAR, afirmou: "Aos religiosos e religiosas na Nicarágua, estamos com vocês".
Ao encerrar o encontro realizado entre 22 e 24 de novembro em Córdoba, na Argentina, Franco incentivou os mais de 1.000 participantes a serem "sentinelas da esperança" em um mundo que enfrenta uma "crise profunda", especialmente na América Latina.
Franco expressou preocupação com "o enfraquecimento das democracias e a corrupção desenfreada" na região, afirmando que "isso continuou enquanto estávamos reunidos aqui. ... O mundo continuou clamando", disse.
Ainda assim, durante o congresso, religiosos e religiosas de toda a América Latina alimentaram migrantes famintos, cuidaram de doentes e ajudaram vítimas de diversos tipos de abuso. Outros dedicaram seu tempo a buscar recursos para ajudar comunidades remotas a construir estradas onde elas não existem, relatou Franco, da Companhia de Maria.
A missão da vida religiosa continua, apesar dos fortes desafios que o mundo apresenta, acrescentou ela.
A CLAR informou que mais de 400 pessoas participaram do "V Congresso Latino-Americano e Caribenho de Vida Religiosa: Sentinelas da Esperança", enquanto outras 600 participaram via Zoom, conectando-se de mais de 20 países.
Muitos desses participantes vivem ou atuam "na região mais desigual do mundo", disse a socióloga Sol Prieto em uma apresentação ao grupo em 22 de novembro, citando dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento que destacam a desigualdade que assola a América Latina: os 10% mais ricos ganham 12 vezes mais que os 10% mais pobres; na Colômbia, no Chile e no Uruguai, cerca de 1% da população controla entre 37% e 40% da riqueza total.
Na América Latina, o local de nascimento, a cor da pele, a etnia e o sexo de uma pessoa determinam, em grande parte, se ela viverá ou não uma vida de pobreza, afirmou Prieto. Diante dessa desigualdade, "empreendedores políticos vendem uma narrativa sobre por que você está onde está" economicamente, disse Prieto, culpando outros pelos resultados negativos da desigualdade, que incluem violência, pobreza, falta de acesso à educação e outros problemas sociais.
"Com esses altos níveis de desigualdade, [os empreendedores políticos] preparam o terreno para a polarização", o que resultou em baixos níveis de apoio à democracia e menos confiança nas instituições, disse Prieto. Eles criaram uma narrativa de "eles" contra "nós", facilitando o mau tratamento de populações vulneráveis, acrescentou. E, embora muitos digam que os problemas atuais são consequência da pandemia, "esses [problemas] já existiam antes".
O Pe. José Luís Loyola, segundo vice-presidente da CLAR, afirmou: "Vivemos tempos incontroláveis e insustentáveis, de crises enormes e múltiplas, tanto globais quanto locais" E questionou: "Diante de tais situações, vale a pena perguntar: onde encontramos esperança? Como podemos ser sentinelas da esperança em um mundo tão quebrado e ferido?"
É importante olhar além da nossa existência terrena, disse Loyola, superior geral dos Missionários do Espírito Santo. "Diante dessas e de outras questões que nos inquietam, o Espírito nos convida a não desistir, a não ceder... Nada será perdido", declarou Loyola.
Alguns religiosos e religiosas relataram ter experimentado essas tensões e situações diariamente em seus ministérios e em suas vidas.
Uma irmã da Bolívia, em lágrimas, disse: "Vivemos em total violência. Me pergunto como vamos sair disso?" Outra irmã de El Salvador falou sobre os direitos que desapareceram porque seu governo afirma que, para viver em paz, é necessário suspendê-los, mesmo para os inocentes.
Os participantes também compartilharam questões importantes na vida de homens e mulheres consagrados, as dificuldades enfrentadas pelas comunidades religiosas quando não são flexíveis, a necessidade de autocuidado e a importância de ser mais inclusivo, especialmente com grupos minoritários.
Eles assistiram a uma apresentação da irmã Jane Wakahiu, da Fundação Hilton, cuja organização está ajudando irmãs com subsídios para que outras religiosas aprendam a cuidar de irmãs idosas ou que sofrem de doenças como Alzheimer. (A Fundação Conrad N. Hilton também é um dos principais financiadores do Global Sisters Report).
As irmãs Ariela Jara e Paula Radichi, ambas da Argentina, com 27 e 28 anos, respectivamente, disseram que as discussões e apresentações ajudaram a traçar um retrato fiel do que enfrentarão ao longo da vida como religiosas das Irmãs Mercedárias do Menino Jesus, enquanto encontram e levam Jesus aos outros, especialmente em momentos de adversidade, afirmaram.
Jara, em uma entrevista ao Global Sisters Report no dia 24 de novembro, disse que o encontro lhe deu "esperança, assim como o título [do congresso] que nos reúne indica" e também muito sobre o que refletir.
"A questão não é ceder ou buscar respostas fechadas, mas continuar a buscar e procurar", disse Jara. "Há uma variedade de religiosas e religiosos, de diferentes idades, e valorizo as contribuições de todos... É útil ouvir para que não esqueçamos o caminho que temos seguido".
Mas também foi emocionante conhecer outras jovens religiosas que valorizam sua vocação "apesar de tantas" dúvidas, acrescentou.
"Participar do congresso foi algo renovador e [trouxe] esperança", disse Radichi. "É bom ver como, em meio a tanta adversidade, falamos a mesma linguagem. A realidade é muito dura e nos toca a todos, de uma forma ou de outra. E é bom que as coisas sejam discutidas como realmente são, porque é assim que a mudança acontece... Você sente isso aqui. Sente a vida, sente o Espírito".
Entre as palestras, o grupo compartilhou café, danças, ideias, poesias, histórias e palavras de figuras que contribuíram para a vida religiosa na América Latina, como o padre dominicano Gustavo Gutiérrez, falecido em outubro, e dom Pedro Casaldáliga, claretiano, poeta e escritor originalmente de Barcelona, que faleceu no Brasil em 2020. Ambos enfrentaram tempos difíceis de militarismo, alta pobreza, morte e fome na América Latina, mas foram capazes de se posicionar em defesa dos desfavorecidos.
Franco destacou que as mulheres religiosas devem se concentrar na esperança e na palavra de Deus nesses tempos de adversidade. "Não podemos cair na tentação da paralisia", disse Franco. "Ficar fechadas dentro de nossas instituições nos torna pequenas; nos reduz e pode até nos sufocar".
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Presidente da CLAR expressa preocupações com o 'enfraquecimento das democracias' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU