Sem matar a esperança. Comentário de José Antonio Pagola

Foto: Marc-Olivier Jodoin | Unsplash

29 Novembro 2024

O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o Evangelho da 1ª Semana do Advento – C (Lucas 21,25-28,34-36) , publicado por Religión Digital, 25-11-2024.

Eis o texto. 

Jesus foi um incansável criador de esperança. Toda a sua existência consistiu em difundir aos outros a esperança que ele próprio vivia no mais profundo do seu ser. Hoje ouvimos o seu grito de advertência: “Levantai-vos, erguei a cabeça; Sua libertação está se aproximando. Mas tenha cuidado: não deixe sua mente ficar entorpecida com vícios, bebidas e preocupações com dinheiro".

As palavras de Jesus não perderam relevância, porque ainda hoje continuamos a matar a esperança e a estragar a vida de muitas maneiras. Não pensemos naqueles que, independentemente de toda a fé, vivem segundo o “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”, mas naqueles que, chamando-se cristãos, podem cair numa atitude não muito diferente: “Comamos e bebamos, porque amanhã virá” .

Quando numa sociedade o quase único objetivo da vida é a satisfação cega dos desejos e cada pessoa se fecha no seu próprio gozo, aí morre a esperança.

O satisfeito

Os satisfeitos não procuram nada realmente novo. Eles não trabalham para mudar o mundo. Eles não estão interessados ​​em um futuro melhor. Não se rebelam contra as injustiças, os sofrimentos e os absurdos do mundo actual. Na realidade, este mundo é para eles “o céu” ao qual aspirariam para sempre. Eles podem se dar ao luxo de não esperar nada melhor.

Como é sempre tentador adaptar-se à situação , instalar-se confortavelmente no nosso pequeno mundo e viver em paz, sem grandes aspirações. Quase inconscientemente, temos a ilusão de sermos capazes de alcançar a nossa própria felicidade sem mudar em nada o mundo. Mas não esqueçamos: “Só quem fecha os olhos e os ouvidos, só quem ficou insensível, pode sentir-se à vontade num mundo como este” (RA Alves).

Quem ama verdadeiramente a vida e se sente solidário com todos os seres humanos sofre ao ver que a grande maioria ainda não consegue viver dignamente. Esse sofrimento é um sinal de que ainda estamos vivos e conscientes de que algo está errado. Devemos continuar buscando o reino de Deus e sua justiça.

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