O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 18-11-2024.
É raro que uma pessoa possa viver a vida inteira sem nunca considerar o significado último da existência. Por mais frívolo que seja o fluxo dos seus dias, mais cedo ou mais tarde ocorrem “momentos de ruptura” que podem levantar na pessoa questões fundamentais sobre o problema da vida.
São as horas de intensa felicidade que nos obrigam a nos perguntar por que a vida nem sempre é alegria e realização. Momentos de infortúnio que despertam em nós pensamentos sombrios: por que vale a pena viver tanto sofrimento? Momentos de maior lucidez que nos levam às questões fundamentais: quem sou eu? O que é a vida? O que me espera?
Mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, todo mundo acaba um dia pensando no sentido da vida. Tudo pode permanecer aí ou a questão de Deus também pode surgir silenciosa, mas inevitavelmente. As reações podem então ser muito diversas.
Há quem tenha abandonado há muito tempo, se não a Deus, então um mundo de coisas que tinham relação com Deus: a Igreja, a missa dominical, os dogmas. Aos poucos eles foram abandonando algo que não lhes interessa mais. Com todo este mundo religioso abandonado, o que fazer agora quando confrontado com a questão de Deus?
Outros até abandonaram a ideia de Deus. Eles não precisam disso. Parece inútil e supérfluo para eles. Deus não lhes traria nada de positivo. Pelo contrário, têm a impressão de que isso complicaria a sua existência. Eles aceitam a vida como ela é e continuam seu caminho sem se preocupar muito com o fim.
Outros vivem rodeados de incerteza. Eles não têm certeza de nada: o que significa acreditar em Deus? Como alguém pode se relacionar com ele? Quem sabe alguma coisa sobre essas coisas? Entretanto, Deus não se impõe. Não força de fora com provas ou evidências. Não é revelado de dentro com luzes ou revelações. É só silêncio, oportunidade, convite respeitoso...
A primeira coisa diante de Deus é ser honesto. Não saia por aí evitando a presença dele com abordagens insinceras. Quem se esforça para buscar a Deus com honestidade e verdade não está longe dele. Não devemos esquecer algumas palavras de Jesus que podem iluminar quem vive na incerteza religiosa: “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.