27 Novembro 2024
O sujeito neoliberal é empresário de si memso, movido pela concorrência num mercado de interesses contrapostos. Para alocar essa subjetividade, segundo o professor José Roque Junges, foi necessário descontruir o comum, base do elo social. “Essa subjetivação desconstrutiva do comum, alimentada pelo consumo sem limites, está na origem da crise ambiental”, resume o professor no artigo Subjetividade neoliberal e desconstrução do comum frente à crise ambiental climática.
O estudo discute a subjetividade neoliberal e a consequente desconstrução do comum em seus efeitos sobre a crise ambiental. “Para recuperar o comum como solução, exige-se superar visão da natureza inerte e passiva a ser protegida contra intervenção humana, quando atravessada por intensa atividade biogeoquímica criadora das condições para a vida, o ser humano é apenas mais um ator”, argumenta Junges.
Para o especialista em questões ambientais, “a terra não é um astro determinado por leis mecânicas, mas um planeta detentor de geo-história, movido por dinâmicas biológicas produtoras da vida em seu solo, foco da preocupação ambiental”.
Junges debate a crise ambiental em dois conceitos centrais: a necessidade de focar a discussão do problema na superfície da terra onde acontecem os processos biogeoquímicos que criam as condições para que a vida possa se desenvolver. Além disso, o pensar a construção do comum como resposta a essa crise, não a partir dos bens considerados como comuns, como poderia ser a assim chamada natureza, mas do comum identificado com as atividades e as práticas que instituem bens ambientais e ecológicos como comuns e, portanto, inapropriáveis.
O posicionamento sobre a crise significa uma crítica ao tradicional conceito de natureza como algo belo e organizado a ser admirado e resgatado da voragem destrutiva, segundo ele. “Essa visão foi superada pela introdução da era do antropoceno na qual o ser humano é apenas mais um partícipe”, ressalta.
A compreensão da crise e uma alternativa de caminho exigem “a desconstrução simbólica da subjetividade neoliberal, em total contradição com a necessidade da instituição do comum, pois alimenta-se do impasse ecologicamente insolúvel da conjugação entre abundância ilimitada econômica do mercado e a liberdade individual decisória sem limites sobre consumo”, aponta o professor.
Ainda conforme ele, esse impasse aponta para o beco sem saída em que se encontra a humanidade na atual crise ambiental climática com seus efeitos sempre mais catastróficos e devastadores.
Esses são alguns dos pontos a serem abordados na webconferência que acontecerá nesta quinta-feira, 28-11-2024, e que será transmitido no site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, no canal do YouTube e no Facebook, às 17h30. A programação completa está disponível aqui.
José Roque Junges, formado em Filosofia com doutorado em Ética teológica. Professor das disciplinas de Bioética do Curso de Medicina da Unisinos, pesquisador e professor do PPG em Saúde Coletiva na linha de pesquisa “Vulnerabilidades em Saúde e Bioética” na Unisinos. Membro da Sociedade Brasileira de Bioética e da Rede Latino-americana e Caribenha de Bioética da Unesco. Principais publicações: Bioética: perspectivas e desafios (Unisinos, 1999); Ética ambiental (Unisinos, 2004); Bioética: hermenêutica e casuística (Loyola, 2006); Bioética ambiental (Unisinos 2010); Bioética sanitarista: desafios éticos da saúde coletiva (Loyola 2014); Epistemologia da bioética: ensaios de hermenêutica crítica (Unisinos, 2021); Questão ambiental: para entender (Ideias e Letras, 2024).
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Subjetividade neoliberal causa a destruição do comum e leva seus efeitos à crise ambiental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU