25 Novembro 2024
De forma individual ou coletiva, sempre clamamos a Nossa Senhora Aparecida. Em 2006, o artista Sandro Ka já havia lançado uma ilustração com a imagem de Aparecida e os dizeres: “Nossa Senhora, rogai pelo fim da homofobia” para lembrar a importância de um país de base católica aprovar leis contra a discriminação homofóbica. Quase 20 anos depois, com uma rede católica LGBTI+ organizada, seguimos com nossos rogos por igualdade, sem deixar de agradecer por tudo o que conquistamos, apesar das pedras que machucam os nossos pés nas veredas que percorremos.
O artigo é de Jeferson Batista, jornalista, mestre e doutorando em Antropologia Social pela Unicamp. Membro da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+.
Nossa Senhora Aparecida, rogai pelo fim da LGBTfobia! Esse é o pedido de católicos LGBTI+ em visita ao Santuário Nacional de Aparecida
A Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+ realizou, no domingo (16), uma romaria ao Santuário Nacional de Aparecida. Reunindo dezenas de pessoas, a peregrinação celebrou os 10 anos de caminhada da organização, fundada em 2014, no Rio de Janeiro.
A escolha do Santuário Nacional para celebrar os nossos 10 anos de caminhada foi uma forma de consagrar o nosso trabalho pastoral a Maria. Aparecida é uma de suas principais casas no Brasil. Mas também, como filhos e filhas amados da Mãe de Jesus, deixamos os nossos pedidos aos seus pés. Afinal, como nos ensina a tradição católica: 'Peça à Mãe, que o Filho atende'. E o que pedimos? Pedimos o fim da discriminação baseada em sexualidade e gênero na Igreja e na sociedade, pedimos respeito às nossas famílias, pedimos uma Igreja sinodal atenta ao Evangelho, pedimos vida em abundância.
A romaria foi organizada por pessoas católicas LGBTI+, seus pais, mães, amigos e aliados. Nos reunimos para lançar nossa Constituição, um documento com orientações gerais sobre o nosso trabalho e estrutura. Participamos da Santa Missa, realizamos passeios por Aparecida e finalizamos o dia com uma oração no Tribuna Bento XVI. Em cada canto que percorremos, nos deparamos com olhares curiosos, condenatórios e acolhedores. Uma síntese de nossa caminhada dentro da Igreja.
Em um dos momentos, pessoas que estavam na fundação da Rede Nacional em 2014 lembraram que, na época, a ideia era de que aquela reunião pioneira ocorreria nas catacumbas, o lugar possível para os primeiros cristãos. Era um Pentecostes. Uma década depois, muitas e muitos de nós já não precisam (e não querem) mais se esconder para viver a fé sem deixar de ser quem são. Apesar das interdições, ostracismos e violências que ainda persistem, buscamos viver com orgulho em todos os lugares, inclusive dentro da Igreja.
Promotora da romaria, a Rede Nacional é composta por mais de 20 grupos e núcleos espalhados por pelo menos 11 estados e o Distrito Federal. Essencialmente formada por cristãos leigos e leigas, sua missão é promover e difundir a Boa Nova inclusiva de Jesus Cristo, irradiando amor, justiça, liberdade e vida em abundância para aqueles e aquelas que, muitas vezes, enfrentam exclusão e marginalização. Diferente do que nos acusam, não somos “infiltrados” na Igreja. Sempre fizemos parte do Corpo de Cristo como catequistas, ministros e evangelizadores.
Cientes de que nosso Lugar à Mesa ainda não é pleno, carregamos conosco nossas bandeiras para lembrar de nossa missão. A mais simbólica delas é a do arco-íris. No movimento social pela cidadania LGBTI+, o uso do arco-íris é registrado desde os anos 1970 para representar todas as pessoas que não se encaixam nos padrões heterocisnormativos. No cristianismo, é a aliança de Deus com a humanidade: o símbolo que surge depois das tempestades.
Vestimos uma imagem de Aparecida com um manto do arco-íris. Aquela imagem representava o que somos: filhos e filhas peregrinos, que se orgulham de suas identidades católicas e LGBTI+. Como aquele manto do arco-íris, nossos corpos abraçaram a Mãe Negra de Aparecida.
De forma individual ou coletiva, sempre clamamos a Nossa Senhora Aparecida. Em 2006, o artista Sandro Ka já havia lançado uma ilustração com a imagem de Aparecida e os dizeres: “Nossa Senhora, rogai pelo fim da homofobia” para lembrar a importância de um país de base católica aprovar leis contra a discriminação homofóbica. Quase 20 anos depois, com uma rede católica LGBTI+ organizada, seguimos com nossos rogos por igualdade, sem deixar de agradecer por tudo o que conquistamos, apesar das pedras que machucam os nossos pés nas veredas que percorremos.
No Santuário de Aparecida, reafirmamos nossa fé e encontramos no olhar de Maria o amor e o acolhimento. Com a Mãe, aprendemos a servir ao Filho: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Maria nos lembra, a todo momento, o motivo de nossa caminhada: construir o Reino de Deus para todas as pessoas.
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Nossa Senhora Aparecida, rogai pelo fim da LGBTfobia! Artigo de Jeferson Batista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU