16 Novembro 2024
"O Espírito Santo e a oração cristã’: esse foi o tema da catequese com a qual Francisco deu continuidade ao ciclo de reflexões sobre a relação entre a terceira Pessoa da Trindade e o povo de Deus (Leitura: Rm 8,26-27). “Rezem com o coração, não como papagaios”.
Francisco renovou o convite para rezar pela paz. “Não nos esqueçamos da martirizada Ucrânia, que sofre tanto; não nos esqueçamos de Gaza e de Israel. Outro dia, 153 civis foram metralhados enquanto andavam nas ruas. Isso é muito triste. Não nos esqueçamos de Mianmar. E não nos esqueçamos de Valência nem da Espanha”.
O texto da catequese é do Papa Francisco, publicado por Avvenire, 07-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caros irmãos e irmãs, bom dia! A ação santificadora do Espírito Santo, assim como por meio da Palavra de Deus e dos Sacramentos, se expressa na oração, e é a ela que queremos dedicar a reflexão de hoje: a oração. O Espírito Santo é tanto o sujeito quanto o objeto da oração cristã. Ou seja, Ele é Aquele que doa a oração e é Aquele que é doado pela oração.
Nós rezamos para receber o Espírito Santo, e recebemos o Espírito Santo para poder rezar de verdade, ou seja, como filhos de Deus, não como escravos. Pensemos nisso: rezar como filhos de Deus, não como escravos. É preciso rezar sempre com liberdade. “Hoje eu preciso rezar isso, isso, isso, porque prometi isso, isso, isso... Caso contrário, irei para o inferno!”. Não, isso não é oração. A oração é livre. Você reza quando o Espírito lhe ajuda a rezar. Você reza quando sente a necessidade de rezar em seu coração; e quando não sentir nada, pare e pergunte a si mesmo: por que não sinto vontade de rezar, o que está acontecendo em minha vida? Sempre, a espontaneidade na oração é o que mais nos ajuda. Isso significa rezar como filhos, não como escravos. Antes de tudo, devemos rezar para receber o Espírito Santo. Há, a esse respeito, uma palavra muito precisa de Jesus no Evangelho: “Portanto, se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lc 11,13).
Cada um de nós, sabemos dar coisas boas para os pequenos, sejam os filhos, os netos ou os amigos. Os pequenos sempre recebem coisas boas de nós. E como o Pai não nos dará o Espírito? E isso nos dá coragem e podemos continuar em frente. No Novo Testamento, vemos o Espírito Santo sempre descer durante a oração. Ele desce sobre Jesus no batismo no Jordão, “enquanto ele orava” (Lc 3,21); e desce sobre os discípulos no Pentecostes, enquanto “todos perseveravam unanimemente em oração e súplicas” (Atos 1,14). Esse é o único “poder” que temos sobre o Espírito de Deus. O poder da oração: ele não resiste à oração. Nós rezamos e ele vem. No Monte Carmelo, os falsos profetas de Baal - lembram-se daquela passagem da Bíblia - estavam se agitando para invocar fogo do céu sobre seu sacrifício, mas nada aconteceu, porque eles eram idólatras, adoravam um deus que não existe; Elias se pôs em oração e o fogo desceu e consumiu o holocausto (cf. 1 Reis 18,20-38).
A Igreja segue fielmente esse exemplo: ela sempre repete a imploração “Vem! Vem!” toda vez que se dirige ao Espírito Santo. E faz isso especialmente na missa, para que desça como orvalho e santifique o pão e o vinho para o sacrifício eucarístico. Mas há também o outro aspecto, que é o mais importante e encorajador para nós: o Espírito Santo é Aquele que nos dá a verdadeira oração. São Paulo afirma o seguinte: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos” (Rm 8,26-27).
É verdade, nós não sabemos rezar, não sabemos. Precisamos aprender todos os dias. O motivo dessa fraqueza da nossa oração era expresso no passado com uma única palavra, usada de três maneiras diferentes: como adjetivo, como substantivo e como advérbio. É fácil lembrar, mesmo para aqueles que não sabem latim, e vale a pena lembrar-se dela, pois sozinha contém um tratado inteiro. Nós, seres humanos, dizia aquele ditado, “mali, mala, male petimus”, que significa: sendo maus (mali), pedimos coisas erradas (mala) e da maneira errada (male). Jesus diz: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33); nós, por outro lado, buscamos primeiro o extra, ou seja, nossos próprios interesses - muitas vezes! -, e nos esquecemos completamente de pedir o reino de Deus.
Pedimos ao Senhor o Reino, e tudo vem com ele. O Espírito Santo vem, sim, em socorro de nossa fraqueza, mas ele ainda faz algo muito importante: ele atesta que somos filhos de Deus e coloca em nossos lábios o grito: “Pai!” (Rm 8,15; Gl 4,6). Nós não podemos dizer “Pai, Abba” sem a força do Espírito Santo. A oração cristã não é o homem falando de um lado do telefone com Deus do outro lado, não, é Deus que reza em nós! Rezamos a Deus por meio de Deus.
Rezar é colocar-nos dentro de Deus e fazer com que Deus entre em nós.
É exatamente na oração que o Espírito Santo se revela como “Paráclito”, ou seja, advogado e defensor.
Ele não nos acusa perante o Pai, mas nos defende. Sim, ele nos defende, nos convence do fato de que somos pecadores (cf. Jo 16,8), mas o faz para nos fazer saborear a alegria da misericórdia do Pai, não para nos destruir com estéreis sentimentos de culpa. Mesmo quando nosso coração nos reprova por algo, Ele nos lembra que “Deus é maior do que o nosso coração” (1 Jo 3,20). Deus é maior do que o nosso pecado.
Somos todos pecadores... Vamos pensar: talvez algum de vocês - não sei - tem muito medo por causa das coisas que fez, medo de ser repreendido por Deus, medo de tantas coisas e não consegue encontrar paz.
Coloque-se em oração, invoque o Espírito Santo e Ele lhe ensinará a pedir perdão. E sabem de uma coisa? Deus não sabe muito de gramática e, quando pedimos perdão, Ele não nos deixa terminar! “Per...” e aí, Ele não nos deixa terminar a palavra perdão. Ele nos perdoa antes, nos perdoa sempre, está sempre ao lado para nos perdoar, antes de terminarmos a palavra “perdão”. Dizemos “per...” e o Pai sempre nos perdoa.
O Espírito Santo intercede por nós e também nos ensina a interceder, por nossa vez, por nossos irmãos e irmãs; nos ensina a oração de intercessão: rezar por tal pessoa, rezar por aquele doente, por aquele que está na prisão, rezar...; rezar também pela sogra, e rezar sempre, sempre. Essa oração é particularmente apreciada por Deus porque é a mais gratuita e desinteressada. Quando cada um reza por todos, acontece - Santo Ambrósio já dizia isso - que todos rezam para cada um; a oração se multiplica (De Cain et Abel, I, 39). A oração é assim. Eis aqui uma tarefa tão preciosa e necessária na Igreja, particularmente neste tempo de preparação para o Jubileu: unir-nos ao Paráclito que “intercede por todos nós segundo os desígnios de Deus”.
Mas não rezar como papagaios, por favor! Não digam “blá, blá, blá...”. Não. Digam “Senhor”, mas digam com o coração. “Ajude-me, Senhor”, “Eu te amo, Senhor”. E quando vocês rezam o Pai Nosso, rezem “Pai, Tu és meu Pai”.
Rezem com o coração e não com os lábios, não sejam como papagaios.
Que o Espírito possa nos ajudar na oração, pois precisamos muito dela! Obrigado.
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Papa Francisco: “Rezem como filhos de Deus, não como escravos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU