08 Novembro 2024
“A Inteligência Artificial — IA promete uma vida melhor por meio de uma tecnologia inteligente. Ela revolucionará todos os aspectos da indústria... mudará o nosso lazer... aprimorará a nossa governança... melhorará os nossos resultados de saúde... tornará todos nós ricos”. Sejam promessas, sejam desejos, as consequências das inúmeras vantagens notórias do desenvolvimento tecnológico não se confirmam no atual estágio da civilização mundial, adverte Levi Checketts, doutor em Filosofia e Teologia e professor da Hong Kong Baptist University, na China. A proliferação de guerras e conflitos políticos e socioambientais somados à fome, à doença e à miséria, são alguns dos exemplos que indicam o contrário. A tecnologia, particularmente a IA, também tem sido usada para a geração de mais pobreza e morte.
Levi Checketts (Foto: Centro de Teologia e Ciências Naturais)
Autor de “Poor Technology: Artificial Intelligence and the Experience of Poverty” [Tecnologia pobre: inteligência artificial e a experiência da pobreza, em tradução livre], lançado em janeiro deste ano, Checketts inclui a IA como uma tecnologia parte da civilização dos ricos. “O futuro brilhante da automação nada mais é do que uma fantasia do consumidor, em que todo prazer é de alguma forma satisfeito sem nenhum custo, em que as máquinas mantêm tudo automaticamente, em que todos os problemas são resolvidos por meio da ciência e da tecnologia, em que o nosso poder é ilimitado. Em uma palavra, é uma fantasia utópica. Mas é uma utopia contada pela imaginação empobrecida da classe alta industrial”, assegura.
Capa do livro de Levi Checketts (Foto: Reprodução)
Segundo o pesquisador, a automatização do trabalho tem eliminado oportunidades de emprego, priorizado a lógica do lucro em detrimento da estabilidade social e, mais que isso, desumanizado os pobres.
Na investigação sobre ética e novas tecnologias, Checketts acrescenta o aporte religioso a partir de sua formação filosófica e teológica e argumenta em favor da civilização da pobreza. “É uma civilização em que as vozes dos pobres são elevadas, em que as necessidades humanas são atendidas, e em que o lucro é subordinado à justiça, como um corretivo necessário ao modo desumano como os pobres experimentam o mundo”. Essa visão, reconhece, “é tão utópica quanto a fantasia da IA, mas a utopia da civilização dos pobres é mais autêntica para a tradição cristã. Essa visão parte das promessas que Deus nos revela: os últimos serão os primeiros, toda lágrima será enxugada, as nações do mundo se reunirão em uma só”, explica.
Nesta quarta-feira, 13-11-2024, Levi Checketts participará do Ciclo de estudos: Inteligência Artificial. Potencialidades, desigualdades e o risco existencial humano, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos — IHU. A videoconferência “Tecnologia e desigualdade multidimensional. IA e a experiência da pobreza” será transmitida ao vivo na página eletrônica do IHU, no YouTube e Facebook às 10h. A programação completa do evento está disponível aqui.
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IA e a geração de desigualdades multidimensionais: da civilização dos ricos à civilização dos pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU