21 Outubro 2024
Hassan tem 22 anos e tem uma marca no alto do nariz. “O golpe de uma Kalashnikov”, conta ele. Marcas de sarna podem ser vistas em sua pele. Hassan vem do Egito, de onde fugiu para não acabar no exército, o pesadelo dos jovens daquele país que o consideram uma prisão.
A reportagem é de Flavia Amabile, publicada por La Stampa, 18-10-2024.
Sharmin tem 42 anos e é natural de Bangladesh, de onde fugiu por motivos políticos. A viagem que o levou à Albânia durou um ano, passando pela Líbia, onde encontrou emprego como pedreiro, mas também acabou nas mãos da máfia bengali. “Eles me sequestraram”, afirma. Para garantir que os ouvintes entendam, ele coloca as mãos atrás das costas para indicar que estava algemado e faz um sinal sobre os olhos, onde haviam amarrado uma venda. “Eles me mantiveram por 50 dias em um lugar com muitos quartos ocupados por uma única pessoa. Eles exigiam ver minha família, queriam dinheiro para me libertar”, acrescenta. Mohammed também vem do Egito e, ao contar sua fuga, chora: “Se eu voltar, vão me matar”.
Ontem, no centro de Gjadër, começaram as audiências da comissão ministerial que deverá elaborar o relatório sobre os pedidos de asilo apresentados pelos 12 migrantes. Essas são as histórias contadas por aqueles que, de acordo com os novos procedimentos seguidos pelo governo Meloni, não puderam pisar nas costas italianas. Eles partiram de Bangladesh e do Egito, mas “todos passaram pela Líbia, onde sofreram torturas, violências e chantagens”, explica Paolo Ciani, deputado do PD, que ontem entrou na estrutura criada pelo governo Meloni acompanhado por outros dois deputados: Riccardo Magi, do +Europa, e Rachele Scarpa, do PD. “Na minha opinião, eles têm todo o direito ao asilo”, argumenta Maso Notarianni, vice-presidente da Arci Milano e um dos fundadores da associação Mediterranea Saving Humans, depois de também visitar o centro.
Os migrantes atravessaram o Mar Mediterrâneo em duas embarcações diferentes e foram recuperados por barcos de patrulha italianos que os levaram até o navio militar Libra. “Conseguimos ver as luzes de Lampedusa - conta um dos migrantes egípcios - Se eu soubesse que eles estavam me levando para a Albânia, teria pulado no mar e nadado até a praia”. “Esse aspecto precisa ser esclarecido”, comenta Riccardo Magi, ”Pediremos as rotas dos barcos que levaram a esses resgates e os rastros dessas pessoas porque, de acordo com os testemunhos de vários deles, o resgate ocorreu muito próximo de Lampedusa e, portanto, não - digo isso com a dúvida de uma confirmação que ainda precisa ser feita - em águas internacionais. Percebemos que esse é o ponto mais delicado, mais sensível e mais grave”.
Como foi decidido quem seria levado para Lampedusa e, portanto, teria seguido o procedimento normal de pedido de asilo e quem, ao contrário, acabaria no navio Libra para ser acompanhado até a Albânia? “Foi uma loteria”, respondeu Paolo Ciani. “O fator discriminatório foram os documentos: aqueles que não os tinham foram enviados para a Albânia”. “O que o governo chama de pré-seleção é um procedimento muito nebuloso”, afirma Rachele Scarpa.
Uma delegação do Tavolo Asilo e Immigrazione também foi ao centro de Gjader à tarde: “Estamos ainda mais firmemente convencidos de que o procedimento aplicado é totalmente ilegítimo”, foi o comentário no final da visita. “Este centro é um lugar de detenção”, é a denúncia de Riccardo Magi. Para a Operação Albânia, hoje será o dia da verdade. As audiências de validação serão realizadas por videoconferência com o tribunal civil de Roma. Como explica Gianfranco Schiavone, presidente do Consórcio de Solidariedade Italiano – Seção Refugiados Onlus: “Em caso de rejeição do pedido de asilo, os migrantes terão duas semanas para recorrer. É praticamente impossível que consigam. Agora estamos numa situação de pura violência”.
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Hassan e os outros no limbo albanês: “Se a gente voltar, nos matam” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU