Cordialidade, sensibilidade e solidariedade já não parecem palavras do nosso cotidiano. Nos tornamos ásperos, insensíveis e individualistas. Nessa corrida pelo eu, o fascismo vem à tona, seja nas eleições, nas guerras que eclodem mundo afora ou na natureza que se converte em gado, seca e soja. A Amazônia se aproxima do fim. A fome corrói por dentro. Do Sínodo, sopra uma brisa de novidade. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana do IHU.
Confira os destaques na versão em áudio.
Os resultados das últimas eleições municipais continuam a ser pauta. Busca-se compreender essa aderência à extrema-direita país afora. Em uma longa análise, José Geraldo de Souza Jr. sinalizou que “à superfície, no âmbito mais tradicional da política e de seus fóruns de interpretação, aí incluídos os grandes meios de comunicação, eles próprios parte dessa tradição, o tom das análises repercute a leitura impressionista, do jogo de perdas e ganhos, levando em conta o desempenho das forças que representam o espectro ideológico da luta por poder entre conservadores e progressistas, entre direita e esquerda, e de desempenho das respectivas legendas e de suas candidaturas. Assim, para essas análises, ganhou a direita entre seu centro e sua extrema, com 90 milhões de votos sobre 21 milhões atribuídos à esquerda”.
A extrema-direita se aproxima cada vez mais da periferia ao usar a lógica do empreendedorismo, uma “lógica suicida”, como classifica o filósofo Vladimir Safatle. Para ele, o alerta vermelho está aceso para um possível retorno da extrema-direita em 2026, também porque a esquerda não chega à periferia. Ela “não tem nada a dizer aos pobres”, assinalou ele em entrevista essa semana. Da mesma forma, Camila Rocha alertou que “Pablo Marçal é só o começo”, pois o poder da indústria da influência permite que os influenciadores alcem voo na política.
É muito engraçado ver a imprensa vaticinando que "a esquerda acabou", fantasiando de "análise isenta" seu desejo/sua comemoração. O objetivo é óbvio: tentar emplacar a ideia de que Lula é inviável pra 26. Nesse caso, é melhor ouvir mais o Kassab e menos o Pedro Dória.
— Lucas Pedretti (@lpedrettil) October 13, 2024
Por falar em periferia, Mateus Muradas convocou os intelectuais a promoverem política também nas regiões que estão à margem. “Este derrotismo de Safatle, nos leva ao mais puro imobilismo, nos leva a assistir as dificuldades do campo da esquerda, de braços cruzados, como se fossemos expectadores da desgraça ou profetas do fim do mundo. É necessário sair dos bancos mofados da FFLCH-USP, sair desta postura derrotista e elitista, e reconhecer que sim há dificuldades, mas nunca, jamais, haverá vitória, sem luta!”, pontuou o ativista em artigo. Além disso, a discussão sobre “pobres de direita” voltou a ser destaque por aqui. Ainda falando sobre o pensamento dos mais pobres e crítico a obra recém-lançada de Jessé de Souza, Erick Kayser fez uma análise sobre o voto das periferias na direita. Já, Luís Fernando Vitagliano enfatizou que “não existe pobre de direita” e que afirmar o contrário é criar uma posição elitista.
Deputados petistas começam a trazer o partido para a realidade pic.twitter.com/meEsj4ByQf
— Rudá Ricci (@rudaricci) October 12, 2024
“Quando o oprimido exalta seu opressor, é mais difícil que a democracia vença. Disso a extrema direita se aproveita. [...] Nosso maior desafio não é vencer uma eleição. Mas combater as várias formas de alienação. A proposta é Dom Vicente Ferreira, ao comentar sobre as eleições e o oportunismo da extrema-direita em sua conta na rede social X. Uma tarefa cuja solução pode estar na volta aos mitos e a uma ecologia da ação podem ser saídas às encruzilhadas contemporâneas. O que nos falta, sugere o Moysés Pinto Neto, é tesão para reconstruirmos afetos que façam frente à extrema-direita. Luiz Marques propõe uma política do cotidiano para fazer frente ao fascismo: “Exercitar a imaginação com base nas experiências do dia a dia é o caminho para desconstruir o mundo artificial criado pelo marketing neoliberal e conservador, com a ajuda dos cães de guarda da mídia parceira dos poderosos”.
Quando o oprimido exalta seu opressor, é mais difícil que a democracia vença. Disso a extrema direita se aproveita. Colocando em cena, não as crises reais, mas suas hipócritas pautas morais. Nosso maior desafio não é vencer uma eleição. Mas combater as várias formas de alienação.
— Dom Vicente Ferreira (@DomVicenteF) October 14, 2024
Estima-se que 70% das pessoas na Faixa de Gaza desapareceram sob as bombas. Entre tantas vidas perdidas, Shaaban al-Dalou, um jovem de 20 anos, tornou-se mais um dos símbolos da barbárie Israelense. O menino foi morto, junto com sua mãe, no hospital Al Aqsa, no centro de Gaza, em Deir al-Bala, onde estavam abrigados. As cenas nos chocam frente a uma certa anestesia e insensibilidade à brutalidade da guerra.
Shaaban al-Dalou, a 20-year-old Palestinian, burned to death while connected to an IV drip and confined to a hospital bed during an Israeli strike on a Gaza hospital courtyard where displaced people were sheltering. pic.twitter.com/iqvvzXAsib
— Al Jazeera English (@AJEnglish) October 15, 2024
⚡️Ione Belarra to Spain’s PM:
— Suppressed News. (@SuppressedNws) October 16, 2024
“Mr. Sanchez, what is the difference between what Israel does and the Nazi gas chambers? There is none.” pic.twitter.com/yCUcGja1Z7
A insegurança alimentar é uma das armas de guerra de Israel. No campo de refugiados em Jabalia, os ataques israelenses pressionam e estrangulam a população sitiada com fome, para tentar forçar a rendição do Hamas. É sobreviver à fome e às bombas e a desumanidade dos soldados de Israel, que, entre tantos, mataram um menino de seis anos. Se você tiver coragem de ouvir o relato, ele está a seguir.
Isso é fome: palestinos recolhem farinha estragada descartada em lixão improvisado em Khan Younis, Gaza.
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) October 13, 2024
Imagem de ontem, 12 de outubro de 2024. pic.twitter.com/q0EFhZ4MYh
"O garoto tinha 6 anos de idade. Ele não tinha mais órgãos e vi o cérebro dele saindo"
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) October 12, 2024
Médico voluntário em Gaza, Mark Perlmutter descreve o brutal assassinato de um menino palestino de 6 anos por sniper israelense. pic.twitter.com/MIUU2JRtR5
"Perdemos a esperança no mundo e na humanidade. Vamos morrer com dignidade e não vamos sair"
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) October 13, 2024
Menino palestino manda recado ao mundo em meio ao cerco da morte e da fome de "israel" ao campo de refugiados de Jabalia, norte de Gaza. pic.twitter.com/8kbhRtUEps
O assassinato de Yahya Sinwar move mais uma peça no xadrez da guerra. A comunidade internacional vê a morte de chefe do Hamas como oportunidade para pôr fim ao genocídio em Gaza. Os EUA, peça-chave nesse tabuleiro, também já se manifesta a favor do fim do conflito. A bordo do avião presidencial, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan falou que a morte de Sinwar representa uma “oportunidade de encontrar um caminho a seguir que leve os reféns para casa, ponha fim à guerra e nos leve a um dia depois”. Enquanto isso não acontece, Israel segue bombardeando Gaza, promovendo massacres e também um ecocídio.
From Auschwitz to #Gaza, the parallels are undeniable. Genocide is happening in real time, and the world is watching. Palestinians are being trapped, bombed, starved and burned alive, just like so many before them. How much longer will governments stay silent?@Mondoweiss pic.twitter.com/RbHJSPwp3e
— Carlos Latuff (@LatuffCartoons) October 14, 2024
Estamos redigindo o atestado de óbito da Amazônia, deixando morrer a maior floresta tropical do mundo, cada vez mais perto do ponto de não retorno. Fragmentada, desmatada, queimada, literalmente esfolada vida. Mas ainda pode ser pior.... ignorando a ciência, a sanha desenvolvimentista quer pavimentar a rodovia da morte do bioma e arrancar até a última gota de petróleo do subsolo. Belo Monte, neste contexto, ergue-se como monumento ao fracasso desenvolvimentista na Amazônia.
A maior floresta tropical do mundo secando e morrendo diante dos olhos da humanidade.
— Bruno Brezenski (@bbbrezenski) October 15, 2024
Todos vendo e ninguém fazendo nada.
Parece um show de horrores. 😓
🆘 AMAZÔNIA 🌳 pic.twitter.com/KeF4brOj3U
O agro pop do Brasil atacou, de novo, o meio ambiente com a aprovação de lei no Mato Grosso que contraria a Moratória da Soja. Para expurgar do país esse ogro, devemos nos voltar à agroecologia.
A COP30 deve ser nossa última chance de posicionar o Brasil como condutor da agenda climática global, colocando em pauta uma nova direção para os rumos do planeta. É isso o que cientista brasileiro Paulo Artaxo espera acontecer. Essa também é a oportunidade em que a Amazônia se tornará o centro do mundo. Com isso, também sua preservação estará na pauta. Será que podemos esperar até 2025? No atual cenário de extremos ambientais e com a Terra entrando em nova fase da crise climática, parece que estamos atrasados.
Se antes pairava um mal-estar quase generalizado em relação aos possíveis resultados do Sínodo sobre a Sinodalidade, parece que agora as janelas começam se abrir a um sopro de ar puro. As mudanças podem não ser estruturais, mas são interessantes. O Código de Direito Canônico está na mira dessas mudanças por vir. “Virada eclesiástica”, diaconato feminino, celibato, inclusão dos católicos LGBT+ parecem ter voltado à pauta. Há também a possibilidade de novos órgãos para descentralizar a igreja. A ausência da cúpula conservadora no Sínodo pode facilitar esse processo. Precisamos aguardar a votação no final do mês, mas membros da Assembleia Sinodal, como o cardeal Leonardo Steiner, o bispo ruandês Edouard Sinayobye e dom Antony Randazzo, presidente da Federação das Conferências Episcopais da Oceania, já se manifestaram a favor da abertura eclesial para diferentes temas.
#Sínodo está pedindo mudança, #conversão
— Vatican News (@vaticannews_pt) October 17, 2024
Dom Cipoliini: “aprender a dar adeus a coisas antigas que já cumpriram sua missão e acolher o novo que está chegando”. Nesta sexta, encontro dos membros da Assembleia Sinodal com mais de 150 jovens na Sala Sinodalhttps://t.co/9CE9MRkiVP
A nossa tragédia ecossocial, que é fruto de um tipo de razão que degenerou em racionalismo, nas palavras de Leonardo Boff, tem nos colocado como sujeitos abjetos e insensíveis frente aos dramas do mundo. Mas há que não perder essa sensibilidade de nos colocar em conexão com o outro. Jung Mo Sung é uma dessas pessoas que nos provoca à mudança: “no mundo tão insensível aos sofrimentos dos pobres, marcado pelos interesses pessoais e desejo de prestígio e símbolos de riqueza, ações que rompem com essa cultura de insensibilidade e mostram o direito dos pobres de viver dignamente são libertadoras e 'revolucionárias'”. E na hipótese excluída de Raniero La Valle está o convite para nosso reencontro com a sensibilidade: “se colocarmos novamente em jogo a hipótese excluída, talvez possamos perguntar a nós mesmos e aos outros que estão conosco nesta vida para recolocar em discussão as suas escolhas, recolocar em discussão as suas guerras, recolocar em discussão a sua ideia do Inimigo e ajudar a construir uma sociedade diferente, um mundo diferente, um mundo que não acabe”.
Han Kang, escritora sul-coreana, venceu do prêmio Nobel de literatura. Evando Nascimento, fala que “o ‘romance da sul-coreana Han Kang (2018) impressiona justamente pela ênfase dada a uma situação de extrema violência contra o corpo feminino. Não se trata de um panfleto em favor do vegetarianismo, mas sim de uma crítica ao modo como se abatem os animais e como se consome carne vermelha e branca abusivamente. Tem-se, portanto, uma dupla violência: contra os animais e contra as mulheres, mas também contra os vegetais”.
Por falar em literatura, na semana que passou também comemoramos o Dia do Professor, figura de suma importância em nossa vida cotidiana.