30 Agosto 2024
Expressão associaria o Cerrado a florestas desmatadas ou degradadas e reforçaria preconceitos contra as savanas naturais.
A reportagem é de Aldem Bourscheit, jornalista, publicada por ((o))eco, 28-08-2024.
O Brasil perdeu 1/3 da vegetação natural só nas últimas quatro décadas e metade dessa destruição se concentrou na Amazônia, demonstram alarmantes dados do MapBiomas divulgados esta semana por ((o))eco.
O desmate imparável e a crise do clima empurram o bioma ao “ponto de não retorno”, quando ele poderá colapsar e perder a capacidade atual de manter biodiversidade, fontes de água e chuva e populações urbanas e rurais.
Essa drástica mudança foi taxada de “savanização”, apostando que a floresta se tornaria algo similar à “savana brasileira”, o Cerrado. Contudo, cientistas de instituições brasileiras e internacionais querem o termo banido.
Em artigo na revista Perspectives in Ecology Conservation, eles encontraram 481 estudos onde a “savanização” era associada a florestas desmatadas ou degradadas, “reforçando os preconceitos contra as savanas naturais”.
Os pesquisadores lembram que o Cerrado é a maior e mais rica savana do mundo, “mas recebe menos atenção e recursos para a conservação”, e que há uma negligência multissetorial com o bioma, mesmo ocupando 1/4 do Brasil.
“Propomos abandonar o uso de ‘savanização da Amazônia’, promovendo o apoio e a atenção que o Cerrado precisa”, ressaltam os cientistas.
Críticas à expressão já constavam em artigo dos pesquisadores Annabelle Stefânia Gomes e Fabian Borghetti, da Universidade de Brasília (UnB), na obra Uma viagem pelo sertão: 200 anos de Saint-Hilaire em Goiás (2021).
Os autores lembram que o desmate e outros impactos não levam a “uma simples troca de matas nativas por savanas nativas”, como “tem sido amplamente difundido nos meios sociais e acadêmicos”.
Pelo contrário, para eles isso resultaria numa vegetação que não representaria nem uma floresta e nem uma verdadeira savana, sendo mais pobre em biodiversidade e mais fraca para manter fontes de água e regular o clima.
“Savanas que se formam com desmatamento, fogo e invasão de espécies exóticas apresentam baixa riqueza de espécies, não representam a vegetação nativa e tampouco executam seus serviços ecossistêmicos”, avisam.
Leia mais
- Desmatamento, clima e crimes torram o país. Artigo de Aldem Bourscheit
- Fogo consumiu 2,5 milhões de hectares na Amazônia em menos de um mês
- Garimpo entra na disputa eleitoral em “cidades do ouro” na Amazônia
- Brasil em chamas: Amazônia tem pior temporada de queimadas em 17 anos
- Brasil chega a 33% de perda de vegetação nativa; Amazônia concentra metade da área desmatada
- Depois do Pantanal, Amazônia começa temporada intensa de queimadas
- Seca na Amazônia: com baixa histórica, rio Madeira tem pior julho em 60 anos
- Agronegócio alimenta crise climática, que pode inviabilizar 74% das terras agrícolas na Amazônia e no Cerrado
- Desmatamento do Cerrado no 1º semestre cai pela primeira vez em quatro anos
- Cerrado enfrenta a pior seca em pelo menos 700 anos
- Cerrado supera Amazônia e se torna o bioma mais desmatado do país, mostra MapBiomas
- 81% do desmatamento no Cerrado em 2023 foi concentrado em cinco bacias hidrográficas
- Mudança climática pode transformar partes da Amazônia em savanas
- Savana é a vegetação mais desmatada no Cerrado
- Savanas estão se expandindo na Amazônia em consequência de incêndios florestais
- Se derrubarmos mais 5% da Amazônia ela pode se tornar uma savana, avalia especialista
- “Amazônia corre o risco de se converter em uma savana degradada”