08 Agosto 2024
A ordem leva ao limite uma relação já tensa entre dois velhos aliados, Lula Da Silva e Ortega, em plena crise venezuelana.
Daniel Ortega e Rosario Murillo consideraram o embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno de Souza Brasil Dias da Costa, como convidado especial do 45º aniversário da Revolução Sandinista, comemorado em 19 de julho em praça pública em Manágua, festa culminante do sandinismo. Porém, o diplomata do governo Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu ao evento e isso ressentiu o casal presidencial: há duas semanas o expulsaram do país. Deram-lhe um prazo de 15 dias para sair, revelou esta terça-feira o meio de comunicação Divergentes, citando fontes diplomáticas.
A reportagem é de Wilfredo Miranda Aburto, publicada por El País, 07-08-2024. Com reportagem de Jéssica Petrovna, a informação também é publicada por O Estado de S. Paulo, 07-08-2024.
Horas depois, um funcionário do Itamaraty confirmou a expulsão de Breno de Souza. No entanto, a saída do governante carioca da Nicarágua não foi efetivada, uma vez que o Itamaraty fez representações à Nicarágua sobre o caso e está “aguardando uma resposta definitiva”.
Breno de Souza apresentou suas credenciais ao Itamaraty Sandinista em agosto de 2022, após vários episódios de tensão entre os governos do Brasil e da Nicarágua. Lula criticou a tendência autoritária e repressiva de Ortega e da “copresidenta” Murillo. No último dia 22 de julho, três dias após o acontecimento de 19 de julho, o presidente brasileiro revelou em entrevista que Ortega não atende seus telefonemas desde junho de 2023, quando o Papa Francisco lhe pediu que intercedesse pela situação do bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez, então prisioneiro político e posteriormente exilado em Roma em janeiro de 2024.
“Falei com o Papa e ele me pediu para falar com Ortega sobre um bispo que estava preso”, disse Lula em entrevista a correspondentes estrangeiros, em relação ao prelado, condenado a 26 anos de prisão por crimes considerados “traição contra o país” e preso político por mais de um ano. “O específico é que Ortega não atendeu o telefone e não quis falar comigo. Então, nunca mais falei com ele”, explicou.
Lula lamentou na entrevista que isso tenha acontecido com “um cara que fez uma revolução como a que Ortega fez para derrotar (Anastasio) Somoza” e acrescentou que hoje não sabe se essa revolução foi “porque ele queria o poder ou porque queria melhorar a vida do seu povo”. Disse também que é “favorável” em todos os países que “haja alternância no poder”, porque é “a coisa mais saudável” para uma democracia.
Lula tem tentado ser um mediador entre a ditadura Ortega-Murillo e a comunidade internacional para buscar uma solução pacífica para a crise sociopolítica que atravessa a Nicarágua desde 2018, ano de protestos sociais massivos que foram reprimidos com violência. Com a expulsão do embaixador Breno de Souza, o regime sandinista explodiu uma das poucas pontes que lhe restavam com a esquerda latino-americana.
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Ortega expulsa embaixador brasileiro na Nicarágua por não comparecer ao aniversário da Revolução Sandinista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU