01 Julho 2024
O cientista político Marc Lazar, professor em Paris na Sciences Po: há uma pequena recuperação do eleitorado do centro em comparação com as eleições europeias, mas não como aconteceu em 2022. Estão prontos a escolher os deputados presidenciais por uma rejeição ao extremismo.
A entrevista é de Daniele Zappalà, publicada por Avvenire, 30-06-2024. A Tradução é de Luisa Rabolini.
“Estamos vivendo uma situação histórica e sem precedentes na França”. É assim que a define um dos mais prestigiados estudiosos das evoluções políticas nos dois lados dos Alpes, o professor Marc Lazar, docente em Paris na Sciences Po e titular na Luiss da cátedra “Bnl Bnp Paribas in European Relations”: “Pela primeira vez na história da República Francesa pode chegar ao poder um partido como o Rassemblement National (RN), qualificado como de extrema direita ou de direita radical, abrindo uma situação de coabitação inédita. No passado, o presidente e o primeiro-ministro pertenciam a partidos do governo. Existiam tensões, mas havia um respeito mútuo e um acordo sobre a necessidade de deixar ao presidente o famoso Domaine réservé, que não existe na Constituição, mas está em vigor na práxis constitucional”.
Fala-se em separação para os extremos. Compartilha?
Atenção. É um argumento de campanha eleitoral, especialmente do campo macroniano, com muitas posições também assumidas por intelectuais que apontam o extremismo de direita e o chamado extremismo da Frente Popular, de esquerda. Não concordo plenamente, porque nesta última coalizão, existe um partido de esquerda radical, La France Insoumise (LFI), ao lado de socialistas, verdes e comunistas que não podem ser qualificados assim.
Os três polos poderiam evoluir?
Há uma tripolarização, mas também um seu esvaziamento em curso. Da votação, poderia sair uma redução significativa do grupo central macroniano, com a reconstituição de uma direita dominada desta vez pela direita radical. Por outro lado, a coalizão de esquerda, na minha opinião, não terá vida longa, dadas as demasiadas divergências entre a componente radical e os restantes. Trata-se de uma aliança eleitoral, com um problema: para as pessoas que querem votar nela, como mostram os nossos dados, a fórmula deveria durar.
Os macronianos apresentam-se como o único polo “razoável”. Isso pode evitar um naufrágio?
Segundo uma pesquisa publicada pelo Le Monde, há uma pequena recuperação do eleitorado centrista em comparação com as eleições europeias, mas sempre num nível muito distante de 2022. Parece que uma parte do eleitorado ecologista e socialista esteja pronta para votar nos deputados presidenciais, devido a uma rejeição à LFI. O mesmo acontece no centro-direita republicano. A tática dos macronianos poderia permitir alguma resistência, mas num nível muito limitado. As promessas do primeiro-ministro Attal têm um ponto fraco: 7 anos se passaram e as pessoas se perguntam por que os macronianos não agiram antes. Pesa também a aversão ao presidente Emmanuel Macron, antes tão forte, que até alguns dos seus candidatos evitam mostrá-lo em seus materiais eleitorais.
A menor abstenção em 40 anos nas eleições na França indica que a ascensão da ultradireita mobilizou o eleitor. Resta saber para onde a balança vai pender. Esperamos que as forças democráticas detenham o fascismohttps://t.co/MYZn7rifyt
— Chico Alencar ☀️ (@depchicoalencar) June 30, 2024
Que elementos explicam a ascensão do RN?
O primeiro é a situação socioeconômica. O poder de compra é hoje a principal preocupação francesas. A esse respeito, o RN fez de saída muitas promessas sociais, para depois retirar não poucas, chegando mesmo a posições pouco claras.
O segundo é a desconfiança política, que leva os eleitores a tentar aqueles que ainda não ascenderam ao poder nacional, como também foi visto na Itália. Os franceses acreditam que tentaram a direita com Sarkozy, a esquerda com Hollande, o centro com Macron.
O terceiro é a questão explosiva da imigração, sobre a qual existem tensões e receios no plano cultural e da identidade francesa.
As relações ítalo-francesas poderiam ser afetadas?
Vai depender muito do governo que sair da votação. Com um novo governo macroniano, ainda teríamos momentos de tensão, como hoje. Com um executivo de esquerda, mais ainda. Com um governo do RN, Roma poderia primeiro pensar em encontrar um aliado mais cômodo e flexível. Mas rapidamente, na minha opinião, surgiriam pontos de tensão. Vou dar apenas um exemplo: o RN, na minha opinião, não vai querer ouvir falar da distribuição de migrantes desejada pela Itália. Naturalmente, é necessário distinguir as tensões políticas da realidade de colaboração bilateral em todos os níveis entre atores econômicos e culturais. Além disso, seja qual for o cenário, os dois governos terão de demonstrar sua realpolitik. Para Roma e Paris, discutir seria desastroso, também devido à fraqueza mortal de ambos os países nas contas públicas.
Na França, a decisão ficou para o próximo domingo
— Chico Alencar ☀️ (@depchicoalencar) July 1, 2024
O 1o turno das eleições para a Assembleia Nacional da França permite algumas constatações, de acordo com dados não oficiais obtidos até agora:
1- o comparecimento do eleitorado foi o maior desde 1981: cerca de 65% (o voto lá é… pic.twitter.com/psv9f436Ol
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França - eleições. “Vivemos uma situação histórica sem precedentes. No entanto, um terceiro polo não resultará desta votação”. Entrevista com Marc Lazar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU