28 Junho 2024
"Para muitos teólogos, junho, além de ser o Mês do Orgulho, é um mês de eventos acadêmicos. Com o fim do semestre universitário, pegamos trens, aviões e automóveis para as reuniões da College Theology Society, da Academy of Catholic Hispanic Theologians of the United States, da Catholic Theological Society of America e outras. Você pode nos encontrar nos aeroportos, arrastando uma mala de mão cheia de livros e murmurando sobre não ter feito trabalho suficiente, ou nos trens terminando nossos últimos slides de PowerPoint para a reunião", escreve Brian Flanagan, teólogo católico, em artigo publicado por New Ways Ministry, 26-06-2024.
Parte do meu trabalho no New Ways Ministry tem sido conectar e apoiar o trabalho de colegas teólogos católicos LGBTQ+, e a temporada de congressos deste ano pareceu um momento decisivo para nossa presença e nossa voz na Igreja e na academia nos Estados Unidos. Discussões sobre questões LGBTQ+ e encontros de teólogos LGBTQ+ já aconteceram em reuniões anteriores, incluindo um importante painel da CTSA sobre as perspectivas importantes de teólogos LGBTQ+ de cor em 2023, e a criação de uma convenção LGBTQ+ na College Theology Society no mesmo ano.
Brian Flanagan, Senior Fellow do New Ways Ministry, falando na conferência da College Theology Society em 2024 | Foto: New Ways Ministry.
Mas este ano, a presença em nossos eventos de teólogos LGBTQ+ proeminentes e assumidos, bem como de acadêmicos discutindo questões LGBTQ+ na teologia, pareceu um ponto de virada, tanto para as sociedades quanto para o futuro da teologia católica neste país. Como alguém que tem participado dessas reuniões há algum tempo, este junho foi uma experiência profunda de esperança para o futuro da teologia e para o futuro da nossa Igreja.
No congresso havido na College Theology Society, focado em “Vulnerabilidade e Prosperidade,” Alfred Kah Meh Pang, colaborador do Bondings 2.0, deu uma palestra a partir do seu trabalho com a comunidade LGBTQ+ em Singapura, discutindo o acompanhamento e a vulnerabilidade como “uma prática de discipulado”.
No colóquio da Academy of Catholic Hispanic Theologians of the United States, focado na sinodalidade, Miguel Diaz, da Loyola University Chicago, participou de um painel plenário sobre “Sinodalidade Queer,” falando sobre o desafio de acolher aqueles que se sentem excluídos da participação na vida da Igreja.
E na reunião da Catholic Theological Society of America, com o tema “Salvação Social,” Carlos Mendoza-Álvarez, da Boston College, usou teoria e teologias queer para pensar e repensar a salvação social a partir das perspectivas de sobreviventes de violência e catástrofe. Susan Abraham, da Pacific School of Religion, explorou formas criativas de responder às mudanças no ensino superior em nosso tempo.
Fora dessas sessões plenárias, questões LGBTQ+ e teólogos LGBTQ+ estiveram presentes ao longo das reuniões. Alguns trabalhos focaram explicitamente no ministério com católicos trans, bênçãos de uniões do mesmo sexo e perspectivas queer sobre temas teológicos tradicionais. Em outras sessões, teólogos LGBTQ+ apresentaram trabalhos sobre teologia sistemática, teologia moral, teologia sacramental e outros tópicos. E além de nosso trabalho formal em sessões de discussão, nos reunimos como teólogos católicos LGBTQ+ em refeições e happy hours, apoiando-nos mutuamente em nosso trabalho e vidas vividas em compromisso com a igreja e nossas vocações acadêmicas dentro dela.
Lembro-me de quando era difícil encontrar outros teólogos católicos LGBTQ+ nessas reuniões. Agora, quando temos um happy hour juntos, precisamos fazer uma reserva em grupo! E estou esperançoso por ver como muitos de nós nos sentimos “em casa” nessas reuniões de nossas guildas acadêmicas. Ainda há muito trabalho a ser feito, especialmente em relação à extensão do acolhimento à diversidade de pessoas LGBTQ+, mas continua sendo notável para mim como a presença de teólogos católicos queer e a atenção a tópicos católicos LGBTQ+ se tornaram normais nesses espaços. Sou profundamente grato por esse desenvolvimento.
Mais importante, essas experiências me deixam esperançoso para o futuro da teologia em nossa Igreja Católica. Em dezembro de 2023, o Papa Francisco lançou um motu proprio intitulado Ad Theologiam Promovendam (Para promover a teologia) no qual ele delineia uma visão de teologia e teólogos para uma Igreja sinodal missionária. O papa expõe a necessidade de a teologia “ser uma teologia fundamentalmente contextual, capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que homens e mulheres vivem diariamente, em diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais”. Parte desse método já está sendo avançado é a teologia escrita e ensinada a partir do contexto de católicos LGBTQ+ e experiências LGBTQ+ de forma mais ampla.
Sempre que a teologia acolheu – ou foi forçada a acolher – vozes de todas as comunidades e identidades que constituem nossa igreja, ela foi melhorada. Vimos esse efeito poderosamente quando mais leigos, e especialmente mulheres, tornaram-se teólogos a partir de meados do século XX. Isso também se confirmou à medida que membros de partes historicamente marginalizadas ou racializadas da igreja nos Estados Unidos – católicos negros, católicos latinos, católicos orientais, católicos indígenas, católicos asiáticos e das ilhas do Pacífico, entre outros – estão sendo mais ativamente incluídos em nossos diálogos teológicos.
E isso é verdade agora, à medida que as vozes de católicos LGBTQ+ são cada vez mais refletidas em nossa teologia e em nossa igreja como um todo. Neste mês do Orgulho, este é um momento a ser celebrado.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Congressos de Teologia nos EUA em junho marcam ponto de virada nas questões LGBTQ+, entenda por quê. Artigo de Brian Flanagan - Instituto Humanitas Unisinos - IHU