A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 4,26-34 que corresponde ao 11° Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, Jesus disse à multidão: "O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou".
E Jesus continuou: "Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra". Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.
Jesus continua a comunicar a riqueza do Reino a esse grupo de pessoas que o seguem e ouvem sua mensagem. Ele faz isso em uma linguagem clara e simples. Jesus não dá definições, mas procura fazer com que sua mensagem seja compreendida por todas as pessoas ao seu redor. É por isso que ele fala em parábolas, para que seu conteúdo seja aberto, sempre novo. Lembremos que a parábola é uma tradução do termo hebraico "masal", que significa aforismo; uma comparação, podemos dizer que é também uma história exemplar. Sabemos que seu conteúdo é amplo e geralmente tem um plano imaginativo - de ação - e outro plano de significado transcendente. Em várias ocasiões, quando Jesus fala do Reino, ele o faz por meio de parábolas, como disse o cardeal italiano Carlo Maria Martini em artigo para o jornal dos bispos italianos, Avvenire, 27-02-2011 “Mais de uma vez Jesus falou de modo alusivo e enigmático, "não abertamente", por meio do véu das semelhanças: ele dizia e não dizia, revelava e escondia, manifestava e ocultava”.
O Reino não pode ser proclamado baseados somente numa definição, porque, para "proclamar o Evangelho autenticamente, é necessário, de alguma forma, velá-lo". Como disse Carlo Maria Martini, "a parábola de Jesus não termina com uma explicação clara e explícita, talvez introduzida pela fórmula "Esta história nos ensina que a parábola de Jesus mantém todo o seu enigma, deixa o ouvinte com a tarefa de compreendê-la, desafia-o e o força a se questionar, envolve-o na primeira pessoa e o engaja na busca de significado”.
Jesus fala a um público específico, a um grupo de pessoas que entende a linguagem simples das parábolas porque elas se referem à sua vida cotidiana: semear, plantar, cultivar, que sabe sobre tempos, prazos e períodos, conhece o valor de cada semente e a importância da terra. Um povo que também acolhe o surgimento de germines e floresças inesperadas e recebe com alegria a beleza de uma planta que cresceu numa terra considerada inadequada demonstrando a força vital que há nela. São ensinamentos que só podem ser aprendidos vivenciando-os. Não se trata de conhecimento dogmático, mas de experiências de vida que precisam ser vivenciadas e sentidas.
As parábolas são um "verdadeiro ensinamento: elas falam de Deus, de sua obra, das consequências para a vida das pessoas, da resposta que Deus espera; por outro lado, as parábolas são um ato de cortesia, de respeito pela liberdade das pessoas, de condescendência, quase de ternura. É por isso que Jesus também é um verdadeiro mestre. Ele conhece o coração das pessoas e, portanto, não tem pressa, sabe como se adaptar ao ritmo do ouvinte, também aceita que o ouvinte tenha dificuldade para entender, espera que ele mude de ideia e reveja algumas de suas posições". O ensino de Jesus levanta questões, oferece pequenas orientações que abrem caminhos futuros.
Neste domingo, Jesus compara o Reino, destacando sua força vital. O Reino cresce progressivamente, parece que não depende do cuidado humano, do sucesso ou do fracasso. Na parábola, é destacado que o Reino é como aquelas sementes que foram semeadas e crescem "naturalmente", onde é enfatizado que a pessoa que as semeou não está atenta o dia todo, mas que nelas há uma força vital que cresce independentemente do que é "esperado", do acompanhamento que é dado à semente semeada. Essa semente carrega dentro de si um poder de vida que a leva a crescer, a continuar, a buscar a luz. É por isso que ele diz "noite e dia, "ela não sabe como". Neste domingo, Jesus, por meio de sua palavra, nos convida a confiar Nele, sabendo que, mesmo que o desespero bata à porta de nossa vida ou o desânimo procure se instalar dentro de nós, há um poder de vida semeado que é sempre mais forte do que toda a escuridão.
Na segunda parábola, ele compara o Reino a uma semente de mostarda que é muito pequena, mas que, quando cresce, torna-se grande. A relação entre a semente e o Reino é o processo lento e contínuo que se desenvolve por meio do crescimento. Não é algo imediato, mas ao desdobrar a vida que tem dentro de si de acordo com um ritmo específico, ela cresce de algo pequeno e quase insignificante para uma árvore.
Assim, somos convidados a não buscar respostas imediatas ou conclusões rápidas, mas a perceber que a vida que Jesus nos propõe envolve um processo que tem sua própria dinâmica. Neste mês o povo gaúcho experimenta a necessidade de confiar, de esperar naquilo que ainda não vê, mas sabe que pode ser possível. Neste domingo somos chamados a acrescentar nossa confiança em Deus e considerar uma vez mais as pequenas sementes são parte essencial da vida das nossas comunidades.
No período de reconstrução de Rio Grande do Sul somos convidados a fazer memória das pequenas sementes, especialmente das mulheres que com seu esforço e trabalho fizeram possível a criação desta terra e hoje também continuam lutando pela vida. Recolhemos as palavras do artigo é publicado por Centro Feminista de Estudos e Assessoria - CFEMEA: É necessário que a reconstrução do RS seja radical, com participação ativa de quem, antes, durante e depois enfrenta a crise: as mulheres, em especial as mulheres negras e as populações de periferia, que estão sustentando a vida no cotidiano da enchente. São essas as pessoas que estão nas cozinhas comunitárias, na arrecadação de comida, no cuidado com as crianças, que por um longo tempo não terão escola. São as mulheres que, majoritariamente, mobilizam solidariedade e cuidados com as pessoas afetadas, desesperadas, doentes e as que ainda vão perecer com as doenças físicas e mentais provocadas pelo alagamento e pelo trauma”.
São as pequenas sementes que continuam gerando vida nas diferentes situações que se apresentam!