Nem tudo é trabalhar

Fonte: Religión Digital

11 Junho 2021

 

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 4,26-34, que corresponde ao 11° domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

 

Eis o texto.

 

Poucas parábolas podem causar maior rejeição na nossa cultura de desempenho, produtividade e eficácia do que esta pequena parábola em que Jesus compara o reino de Deus com esse misterioso crescimento da semente, que se produz sem a intervenção do semeador.

Esta parábola, tão esquecida hoje, destaca o contraste entre a espera paciente do semeador e o crescimento irresistível da semente. Enquanto o semeador dorme, a semente vai germinando e crescendo «ela só», sem a intervenção do agricultor e «sem que ele saiba como».

Habituados a valorizar quase exclusivamente a eficiência e a performance, esquecemo-nos de que o Evangelho fala de fecundidade, não de esforço, pois Jesus entende que a lei fundamental do crescimento humano não é o trabalho, mas sim o acolhimento da vida que vamos recebendo de Deus.

A sociedade atual empurra-nos com tal força para o trabalho, a atividade e o rendimento que já não percebemos até que ponto nos empobrecemos quando tudo se reduz ao trabalho e a ser eficazes.

De fato, a «lógica da eficácia» leva o homem contemporâneo a uma existência tensa e sobrecarregada, a uma deterioração crescente das suas relações com o mundo e as pessoas, a um esvaziamento interior e a essa «síndrome da imanência» (José María Rovira Belloso) em que Deus desaparece a pouco e pouco do horizonte da pessoa.

A vida não é só trabalho e produtividade, mas um presente de Deus que devemos acolher e desfrutar com coração agradecido. Para ser humana, a pessoa precisa aprender a estar na vida não só a partir de uma atitude produtiva, mas também contemplativa. A vida adquire uma nova e mais profunda dimensão quando conseguimos viver a experiência do amor gratuito, criativo e dinamizador de Deus.

Necessitamos aprender a viver mais atentos a tudo o que há de oferta na existência; despertar no nosso interior o agradecimento e o louvor; libertarmo-nos da pesada «lógica de eficácia» e abrir na nossa vida espaços para o gratuito.

Temos de agradecer a tantas pessoas que alegram a nossa vida, e não passar à margem de tantas paisagens feitas apenas para serem contempladas. Saboreia a vida como graça o que se deixa amar, o que se deixa surpreender pelo bom de cada dia, o que se deixa agraciar e abençoar por Deus.

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