13 Junho 2024
De acordo com um estudo do Ifop para o La Croix, os partidos “Rassemblement National” e “Reconquête!” têm 42% dos votos dos católicos praticantes. Nesse eleitorado há uma queda muito forte da maioria presidencial que foi escolhida por plebiscito em 2019.
A reportagem é de Arnaud Bevilacqua, publicada por La Croix International, 11-06-2024.
Um aumento acentuado do voto dos católicos praticantes pelas chapas de extrema direita. É uma das principais informações da pesquisa Ifop (1) para o La Croix realizada no domingo, 9 de junho, para as Eleições europeias de 2024. Quase um terço dos católicos praticantes (32%) escolheu a chapa da Jordan Bardella – em geral, como o conjunto dos franceses – que chega a subir para 37% para os católicos em geral. Um número muito superior aos 14% obtidos dos praticantes pelo próprio Jordan Bardella nas Eleições europeias de 2019.
O deslocamento do eleitorado católico para a extrema direita também é visível nos resultados da chapa Reconquête! liderada por Marion Maréchal, que decididamente jogou a carta da “identidade cristã” na sua campanha: 10% nas eleições europeias, enquanto em nível nacional está em 5,5%. Assim, os votos obtidos pela extrema direita nas eleições europeias mais do que duplicaram: 42% em 2024, contra 18% em 2019. Resultado muito próximo dos 40% obtidos naquele eleitorado somando os resultados de Marine Le Pen, Eric Zemmour e Nicolas Dupont-Aignan nas eleições presidenciais de 2022.
“Observa-se uma mudança muito forte do eleitorado católico, marcada por duas grandes tendências de fundo que se delineiam a partir das eleições presidenciais de 2017 e confirmadas em 2022", analisa Jérôme Fourquet, do Ifop. “Nota-se uma ’arquipelização’ do voto católico que se fragmenta cada vez mais e depois um crescimento do voto no RN. Não há mais resistência contra a extrema direita, se não no núcleo duro, muito reduzido, de católicos praticantes regulares (2), que são os 18% que votam em Jordan Bardella”. O pesquisador lembra que apenas sete anos atrás, François Fillon, candidato da LR nas eleições presidenciais, obteve o voto de quase um em cada dois católicos (46%) no primeiro turno.
Como explicar essa evolução? “O crescimento do RN neste eleitorado foi possibilitado pela estratégia de uma forma mais ‘respeitável’ de se apresentar (dédiabolisation et respectabilisation), a estratégia da gravata na Assemblée Nationale. A imagem do partido mudou muito. Afastando-se do aspecto “sulfuroso e radical” da época de Jean-Marie Le Pen, que causava rejeição.
“Pode-se perceber a fraca influência da palavra magisterial nesse tipo de comportamento eleitoral, apesar dos textos muito claros dos bispos", observa Philippe Portier, sociólogo das religiões. Que cita a carta pastoral intitulada “Um novo impulso para a Europa”, publicada no início de abril pelos bispos de oito dioceses da Eurorregião (Alemanha, Bélgica, França e Luxemburgo) e que convidava a "escolher candidatos que apoiam o projeto europeu". Ou a declaração do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Francesa por ocasião da celebração dos 80 anos do desembarque na Normandia. Esse deslizamento para a extrema direita ocorre às custas da direita de governo.
Católico declarado, François-Xavier Bellamy certamente obtém um resultado significativamente maior entre os praticantes do que em nível nacional (14% contra 7,2%), mas sem conseguir inverter a tendência de descontentamento com Les Républicains. Além disso, perde oito pontos neste eleitorado em relação a 2019.
O outro fato importante é a queda dos votos para a maioria presidencial. Os católicos praticantes votaram em 37% a favor de Nathalie Loiseau nas eleições europeias anteriores, o que mostrava um apego ao projeto comunitário. Cinco anos depois, a chapa de Valérie Hayer convenceu apenas 12% dos praticantes e 16% de todos os católicos.
“O apego à União Europeia, na esteira da democracia cristã ou de Jacques Delors, existe ainda entre os católicos, mas essas correntes estão diminuindo, garante Jérôme Fourquet. E 28% dos católicos praticantes regulares votaram em chapas de esquerda. Mas hoje, as linhas de separação são outras e dizem respeito a questões como a segurança, a identidade ou a relação com o Islã". Entre os desafios determinantes do seu voto, os católicos praticantes, cuja taxa de participação é de 20 pontos acima da média nacional, indicaram em maior medida em relação ao conjunto dos franceses temas como a luta contra o terrorismo, a imigração ilegal, a segurança, mas também a educação e o lugar da França na União Europeia.
[1] O levantamento foi realizado numa amostra de 2.871 pessoas inscritas nas listas eleitorais, extraída de uma amostra de 3.065 pessoas, representativa da população francesa com mais de 18 anos.
[2] Praticantes regulares: que vão à missa pelo menos uma vez por mês.
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França: católicos praticantes não fazem mais resistência contra a extrema direita - Instituto Humanitas Unisinos - IHU