03 Mai 2024
Incentivar um sentido partilhado de responsabilidade pela dignidade humana no meio da rápida evolução tecnológica – esta é a descrição que Justin Welby, arcebispo de Canterbury e primaz da Comunhão Anglicana faz do Apelo de Roma para a Ética da Inteligência Artificial (IA). O líder anglicano subscreveu o documento na última terça-feira, 30 de abril, juntando-se a várias outras entidades e personalidades que já o fizeram.
A reportagem é publicada por 7Margens, 02-05-2024.
“Tenho o prazer de apoiar o Apelo de Roma, que sublinha a dignidade de cada ser humano no meio da mudança tecnológica”, afirmou o arcebispo Welby, citado pelo Vatican News, portal de notícias do Vaticano.
“Embora não possamos prever o futuro, sabemos que continuará a haver desenvolvimentos rápidos na ciência e na tecnologia e que precisamos de estar preparados”, observou. “Apesar de reconhecermos o enorme potencial que a IA pode oferecer para melhorar a capacidade humana, sublinhou que devemos também esforçar-nos por proteger, preservar e acarinhar a dignidade da pessoa humana”, reiterou. “Os enormes avanços feitos na IA, portanto, não podem ser propriedade exclusiva dos seus criadores ou de qualquer parte da espécie humana, mas têm de beneficiar todos ao servir o bem comum, salvaguardando o clima e visando o desenvolvimento sustentável”, concluiu.
O arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida e da Fundação RenAIssance, congratulou-se com a assinatura do documento por parte da Igreja Anglicana. “Quando a reflexão e o diálogo sobre as questões do desenvolvimento tecnológico se encontram num espírito de fraternidade, é possível encontrar caminhos partilhados e soluções eficazes para construir a paz e o bem comum”, referiu.
De igual modo, o padre Paolo Benanti, professor de Ética da Tecnologia na Pontifícia Universidade Gregoriana e diretor científico da Fundação RenAIssance, viu com muito bons olhos a inclusão da Comunhão Anglicana nesta iniciativa promovida pelo Vaticano. “Com este novo alargamento do Apelo de Roma, podemos olhar com renovada confiança para a algorética, ou seja, para o contributo positivo da abordagem ética da inteligência artificial. Nunca se trata apenas de inovação. Trata-se, antes, de a transformar em desenvolvimento humano. É também muito importante que o património da sabedoria humana representado pelas religiões fale a toda a humanidade, valorizando o que é partilhado para enfrentar os desafios contemporâneos.”
O Apelo de Roma para a Ética da IA é um documento elaborado pela Pontifícia Academia para a Vida em conjunto com a Fundação RenAIssance, criada pelo Papa Francisco em 2021 com o objetivo de promover uma abordagem ética da inteligência artificial. O intuito desta iniciativa é o de incentivar um sentido de responsabilidade partilhada entre organizações internacionais, governos, instituições e o setor privado, no sentido de um futuro em que os avanços tecnológicos e a dignidade humana se possam conjugar harmoniosamente.
O arcebispo de Canterbury não só assinou o Apelo à Ética da IA, como se encontra reunido em Roma com os primazes anglicanos, bispos com um estatuto eclesiástico de autoridade superior.
Num encontro de quatro dias, que incluiu uma audiência com o Papa Francisco, temas como o clima, os conflitos armados, a pobreza e a reconciliação estão em cima da mesa. De qualquer modo, a agenda completa da reunião não foi divulgada. Estão, sim, a ser publicados vídeos pelo Gabinete da Comunhão Anglicana, que resumem cada dia da reunião .
No referido encontro nesta quinta-feira, 2 de maio, entre o Papa e os primazes anglicanos, Francisco sublinhou a importância de um “diálogo paciente e fraterno” sobre o tema do primado papal (autoridade do bispo de Roma em relação aos restantes membros da Igreja Católica), questão que desde há muito separa as restantes confissões cristãs do catolicismo.
Outro tema central do discurso de Francisco foram os ensinamentos que a Igreja primitiva pode oferecer ao ecumenismo moderno. “Embora os Atos dos Apóstolos estejam acima de tudo preocupados com a alegre difusão do Evangelho, o autor não esconde momentos de tensão e incompreensão, muitas vezes nascidos da fragilidade dos discípulos, ou de diferentes abordagens à relação com a tradição passada”, referiu, citado pelo Vatican News. “Muitas vezes esquecemos que mesmo estes primeiros cristãos – que “conheceram o Senhor e o encontraram como ressuscitado dos mortos – estavam divididos na sua compreensão da fé”, observou.
“Somos chamados a rezar e a escutar-nos uns aos outros, procurando compreender as preocupações de cada um e perguntando-nos se fomos dóceis às sugestões do Espírito ou presas das nossas opiniões pessoais ou de grupo”, concluiu o Papa.
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Arcebispo de Canterbury subscreve o “Apelo de Roma para a Ética da Inteligência Artificial” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU