15 Abril 2024
Na rede planetária da diplomacia vaticana existe um ponto delicado que ficou livre há poucas semanas, uma nunciatura numa posição estratégica, especialmente nestes tempos, à qual o Papa Francisco poderia destinar ao Arcebispo Georg Gänswein: os países bálticos, ou seja, a nunciatura de Vilnius, na Lituânia, que abrange também as vizinhas Estônia e Letônia. O núncio nos três países, até um mês atrás, era o arcebispo Petar Raji, canadense de origem bósnio-croata, nomeado em 11 de março pelo Papa como núncio e, portanto, embaixador da Santa Sé para a Itália e São Marino. Desde então, a nunciatura do Báltico está vaga. No momento é uma hipótese, ainda não há nada oficial, mas o Vaticano explica ao Corriere que Francisco está pensando justamente em Gänswein.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 14-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A nomeação do histórico secretário de Bento XVI como núncio, antecipada há dois dias pelo jornal argentino La Nación, tem sido tema de discussão há semanas no Vaticano. Bergoglio decidiu virar a página, apesar de tudo. Em janeiro do ano passado, a publicação do livro de Gänswein Nada além da verdade, logo após o funeral de Ratzinger, havia sido o último dos incidentes que já haviam convencido o Papa há três anos a colocar de lado o prefeito da Casa Pontifícia, que desde 2020 permaneceu como tal apenas formalmente. O cargo foi encerrado em 28 de fevereiro de 2023, e no meio do ano Francisco enviou Gänswein de volta à sua diocese alemã de origem, em Freiburg, sem nenhuma função.
“Estou sem cargo e sem trabalho, e isso é ruim”, explicou o arcebispo ao Corriere no final de dezembro, quando havia retornado a Roma para celebrar uma missa memorial nas Grutas do Vaticano, um ano após a morte de Bento XVI. Naqueles dias, foi recebido em audiência por Bergoglio e contou ao Papa o seu desconforto e a sua disponibilidade para colaborar. No exílio de Freiburg, os dias se passaram sem que ele pudesse fazer nada, ou quase nada. Conta-se que o seu único compromisso é uma missa que celebra às 7 da manhã, todas as terças-feiras, para os cónegos. E só.
Ainda num livro-entrevistas publicado na Espanha no início de abril, El sucessor, o Papa voltou a deplorar a publicação do livro de Gänswein, “vivi isso como uma falta de nobreza e de humanidade”. Mas já nas semanas anteriores, conta-se, pensava num cargo diplomático, também para encerrar um caso que estava se tornando embaraçoso para todos.
Gänswein, aliás, acumulou uma longa experiência desde que Bento XVI o escolheu como prefeito da Casa Pontifícia, o homem que está sempre perto do Papa e acolhe as personalidades recebidas no Palácio Apostólico. Trabalhou com Bergoglio durante sete anos. Foi Gänswein, por exemplo, quem acolheu e acompanhou Vladimir Putin, que fala um excelente alemão, por três vezes nas audiências realizadas pelo presidente russo com Francisco, em 25 de novembro de 2013, 10 de junho de 2015 e 4 de julho de 2019, antes que a invasão russa da Ucrânia tornasse os contatos mais difíceis. Desde então, a nunciatura nos Países bálticos tornou-se ainda mais estratégica.
Já antes da guerra, durante a sua viagem de 2018, Francisco tinha dito em Vilnius: “Olhando para o cenário mundial em que vivemos, onde crescem as vozes que semeiam divisão e contraposição - muitas vezes instrumentalizando a insegurança e os conflitos -, vocês, lituanos, têm uma visão original para contribuir: ‘hospedar as diferenças’. Através do diálogo, da abertura e da compreensão, elas podem transformar-se em ponte de união entre o oriente e o ocidente europeu”.
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O “plano” de Francisco para o Padre Georg Gänswein. Rumo à sede de Vilnius - Instituto Humanitas Unisinos - IHU