11 Abril 2024
Pelo menos mil jovens rohingya foram recrutados à força, nas últimas semanas, para integrar o exército birmanês e enviados para a linha da frente dos combates contra o exército Arakan, uma milícia étnica que vem dizimando centenas de soldados no Estado de Rakhine, região de Myanmar onde residem muitos dos rohingya, minoria muçulmana fortemente discriminada e perseguida no país.
A reportagem é de Clara Raimundo, publicada por 7Margens, 09-04-2024.
Os jovens foram sequestrados nas suas casas, em mercados ou em acampamentos de deslocados internos e levados para bases do exército a fim de receberem treinamento militar, escreve a agência Fides, citando informações de organizações de defesa dos direitos dos rohingya, como a Burmese Rohingya Organisation UK e a Free Rohingya Coalition.
“O regime birmanês tem como alvo os rohingya para o recrutamento forçado porque eles são vulneráveis. Eles não podem fugir por causa das restrições de movimento impostas pela junta. Para os rohingya, o Estado de Rakhine é como uma prisão a céu aberto. A junta considera-os sacrificáveis. É uma maneira atroz de enviar os rohingyas para a morte”, pode ler-se.
As ONG temem que dezenas deste jovens tenham já sido mortos, “embora o número exato de vítimas seja difícil de verificar devido aos impedimentos de comunicação impostos pelo regime na região”. Outros rohingya deslocados internamente, que retornaram a Sittwe, a capital do Estado de Rakhine, após receberem treinamento militar, serão chamados para a linha de frente quando necessário, adiantam as organizações.
Recorde-se que os rohingya foram privados da cidadania por uma lei de 1982. Sem proteção nem direitos reconhecidos e vivendo na condição de apátridas, os elementos desta minoria têm sido considerados pela junta militar no poder em Myanmar como “imigrantes ilegais provenientes do Bangladesh”, pelo que não há uma base legal para que lhes seja imposto o serviço militar, sublinham as ONG.
As mesmas organizações relatam ainda que os rohingya têm sido forçados a participar em manifestações de protesto promovidas pelo regime contra o exército Arakan. Ao ordenar a participação de uma pessoa de cada família, o regime “está alimentando a tensão étnica e religiosa para incitar o ódio e a violência contra os rohingya”, concluem.
A junta militar chegou ao poder em fevereiro de 2021 através de um golpe de Estado que derrubou o governo democraticamente eleito de Aung San Suu Kyi, pondo fim a um período de dez anos de democracia e mergulhando o país na violência.
No início deste mês, a ONU fez um balanço de mortos pelo exército desde o golpe: mais de 4.600 civis, incluindo mais de mil mulheres e crianças, salvaguardando que “o número real é, muito provavelmente, bastante mais elevado”.
A junta esmaga todas as formas de dissidência com “uma crueldade insuportável” e com total impunidade, acusou então o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, apelando ao Conselho de Direitos Humanos da ONU para agir, e aos países de todo o mundo para tentarem evitar novas atrocidades.
Nos últimos dias, notícias dão conta de que o regime de Myanmar “está perdendo força”, com grupos aliados antijunta militar apoiados por um governo paralelo pró-democracia a assumir o controle de vários postos militares e cidades, incluindo partes de Myawaddy, uma cidade importante na fronteira com a Tailândia. “Mas mesmo que estejam perdendo, eles têm o poder, eles têm as armas”, lamentou o primeiro-ministro tailandês, Sretta Thavisin. E têm a capacidade de forçar os jovens rohingya a alimentar as fileiras do seu exército.
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Mil jovens rohingya recrutados à força e “enviados para a morte” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU