19 Março 2024
“A humanidade não conseguirá sobreviver a uma sequência de Oppenheimer”, destacou António Guterres em referência ao filme biográfico do homem considerado o pai da bomba atômica, premiado no Oscar.
A reportagem é de Francesc Peirón, publicada por La Vanguardia, 18-03-2024. A tradução é do Cepat.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) fez soar todos os alarmes no Conselho de Segurança, nesta segunda-feira, devido à escalada de um possível conflito nuclear, em seu ponto mais alto em décadas.
“O relógio do fim do mundo corre com força suficiente para que todos o ouçam”, insistiu em uma sessão dedicada ao desarmamento nuclear e à não proliferação destas armas, convocada pelo Japão em sua condição de presidente do conselho, durante este mês. “O Japão sabe melhor do que qualquer outro país o custo brutal do massacre nuclear”, insistiu Guterres, em alusão à aplicação, em 1945, do desenvolvimento tecnológico liderado pelo físico estadunidense J. Robert Oppenheimer.
“Quase oitenta anos após a incineração de Hiroshima e Nagasaki, as armas nucleares representam um perigo presente e claro para a paz e a segurança global”, prosseguiu.
Após recordar que em 2018 lançou a agenda do desarmamento, na qual advertiu que se cada país procurasse a sua segurança sem levar em conta os outros, haveria um aumento da ameaça, o secretário-geral observou que “as tensões geopolíticas e a desconfiança aumentaram o risco de guerra nuclear ao nível mais alto em décadas”. É preciso retomar a crise dos mísseis cubanos, de outubro de 1962.
“As armas nucleares são as armas mais destrutivas já inventadas, capazes de eliminar toda a vida na terra”, lembrou. “Um lançamento acidental é um erro, um erro de cálculo, um ato imprudente”, acrescentou.
Disse que intelectuais e líderes da sociedade civil reivindicam o fim da loucura nuclear, que o Papa Francisco classifica como “imoral” a posse dessas armas e que os jovens de todo o planeta estão preocupados com o seu futuro “e pedem mudanças”. Até Hollywood, reiterou, demonstra com o filme Oppenheimer “a dura realidade do fim da vida de milhões de pessoas em todo o mundo”.
Guterres ressaltou que todas as vozes exigem um passo para trás e a saída da beira do precipício. “Qual é a resposta? Os estados que possuem armas nucleares estão ausentes da mesa de diálogo”, denunciou.
“Os investimentos em armas de guerra excedem os investimentos em ferramentas de paz. Os orçamentos para armas crescem, enquanto os destinados à diplomacia e ao desenvolvimento encolhem”, insistiu.
Além disso, a tecnologia emergente, como a inteligência artificial, só expõe novas vulnerabilidades e cria mais riscos, ao passo que os países continuam investindo recursos na nova arquitetura nuclear, aumentando o perigo.
Sem citar o presidente russo, Vladimir Putin, tão dado à retórica da ameaça nuclear, Guterres criticou que “algumas declarações levantam a possibilidade de causar um inferno nuclear”. Diante disso, “devemos fazer uma denúncia clara e contundente”, afirmou.
No entanto, essas armas estão crescendo “em poder, alcance e sigilo”, ponderou. E toda a humanidade pagará o preço. “Uma guerra nuclear nunca deve ser travada, porque uma guerra nuclear nunca será vencida”, vaticinou.
Apontou o único caminho possível para evitar esse destino trágico: “Precisamos do desarmamento já”. Para isso, deve haver diálogo, transparência e confiança entre os países nucleares nas medidas contra esse armamento, bem como estabelecer controles para que as novas tecnologias não conduzam a essa ameaça.
O que aconteceu na sessão? Os Estados Unidos e a Rússia, que reiteraram o quão catastrófico seria o uso de armas nucleares, acusaram-se mutuamente de aumentar esse perigo.
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“A humanidade não sobreviverá a uma sequência de Oppenheimer”, afirma Guterres na ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU