Cardeal Gregory destaca as raízes do magistério do Papa Francisco no Vaticano II

Cardeal Wilton Gregory | Foto: Tyler Orsburn

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16 Março 2024

O cardeal Wilton Gregory, de Washington, nos Estados Unidos, foi à Sacred Heart University no dia 13 de março para proferir uma das palestras “Bergoglio” deste ano, celebrando o 60º aniversário da universidade de Fairfield, Connecticut, e o 60º aniversário do Concílio Vaticano II.

O comentário é de Michael Sean Winters, publicado em National Catholic Reporter, 15-03-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Apropriadamente, Gregory falou sobre um tema – “O legado duradouro da Gaudium et spes nos escritos do Papa Francisco” – que uniu esses dois aniversários com um terceiro, o 11º aniversário do Papa Bergoglio como papa.

Gregory convidou o público – uma mistura de estudantes, professores e católicos interessados – a “voltar 60 anos” e lembrou as circunstâncias em que o Concílio foi convocado: a reconstrução da Europa, o acerto de contas com o Holocausto, as tensões da Guerra Fria e a migração massiva em todo o mundo. A partir dessa experiência muito desafiadora, o Concílio emitiu um apelo à Igreja, um apelo esperançoso.

“A Gaudium et spes imaginou uma Igreja mais voltada para fora e engajada, receptiva aos sinais dos tempos e comprometida com o bem-estar da família humana”, disse Gregory. “Ela apelava aos membros da Igreja – cada um de nós, clérigos, religiosos e leigos – a influenciarem todas as sociedades e culturas, realizando várias tarefas importantes juntos, a saber: promover os direitos humanos e a dignidade de cada pessoa; trabalhar pela justiça social; agir em solidariedade com todas as pessoas e defender o bem comum, especialmente os pobres e necessitados.”

Depois, ele relacionou esses objetivos com as especificidades da encíclica Fratelli tutti de Francisco de 2020. Ele assinalou pontos de correlação entre o texto conciliar e o papal sobre a necessidade do envolvimento eclesial com o mundo, a afirmação da dignidade humana, a busca da justiça social, a necessidade de diálogo e de encontro, e o mandato de evangelizar.

Assim, por exemplo, sobre o tema da dignidade humana, Gregory disse: “A Gaudium et spes sublinhou a dignidade dos seres humanos, que têm um valor inestimável. Ao longo da Fratelli tutti, o Papa Francisco reafirma a dignidade de cada pessoa humana. Ele afirma que cada indivíduo, independentemente de sua origem, status ou circunstância, possui um valor inerente e merece respeito. Esse reconhecimento da dignidade humana serve como o próprio fundamento para o apelo do Papa Francisco à fraternidade e à amizade social na Fratelli tutti”.

Na segunda metade da sua palestra, Gregory voltou-se para a ideia da sinodalidade, explicando sua etimologia e seu significado na vida da Igreja hoje.

“A sinodalidade afirma a importância de abrir os nossos corações, mentes e ouvidos para ouvir as diversas vozes da Igreja, valorizando as diversas percepções e experiências de todos, e buscando o consenso por meio de um processo de discernimento orante”, disse ele. “Esse processo de discernimento envolve períodos intencionais de reflexão silenciosa, enquanto escutamos as Escrituras, uns aos outros e ao Senhor em oração.”

Depois, ele relacionou sua experiência de sinodalidade, e o magistério de Francisco sobre o assunto, com algumas das ideias que ele havia descoberto anteriormente ao discutir a Gaudium et spes.

“A sinodalidade capacita os fiéis a participarem ativamente na vida e na missão da Igreja à medida que discernimos juntos os sinais dos tempos e respondemos com criatividade e coragem aos desafios e às oportunidades dos nossos dias”, disse ele. “Isso é também o que o Vaticano II nos chamou a fazer na Gaudium et spes.”

Existem poucas tarefas teológicas – e eclesiais – mais importantes hoje do que demonstrar as muitas e variadas maneiras pelas quais o magistério de Francisco, assim como o de seus antecessores imediatos, está enraizado nos ensinamentos do Concílio Vaticano II. Cada papa trouxe formas distintas de pensar sobre os principais temas conciliares, e cada um contribuiu para a recepção do Concílio em toda a Igreja universal.

Os textos conciliares são semelhantes a uma constituição, e os ensinamentos papais são como estatutos que explicam, elaboram ou implementam essas ideias constitucionais. Colocar um papa contra outro é um erro tolo. É muito mais importante ver como cada um dá uma contribuição singular para a nossa compreensão do Concílio.

Gregory respondeu a perguntas do público durante mais de meia hora, abordando uma série de temas, falando sobre suas próprias experiências de sinodalidade e, especialmente, sobre o grande silêncio orante que fez parte do Sínodo do ano passado. Ele claramente ficou comovido com a experiência e gostou de discutir como ela continua moldando sua liderança na Igreja local.

Gregory possui o dom da equanimidade em um grau extraordinário. Ele falou sobre o fato de ter crescido durante o Movimento dos Direitos Civis, as esperanças que o movimento gerou e as decepções que se seguiram, tudo sem rancor ou condenação. Gregory sempre evidencia grande simpatia pela condição humana. Ele enfrentou com autoconfiança a única questão mais polêmica.

Mais importante ainda, essa palestra foi um exemplo de um bispo fazendo o que os bispos mais precisam fazer: ensinar. Gregory traçou conexões que os estudantes católicos deveriam compreender, e, se mais católicos entendessem essas conexões, menos pessoas alegariam estar “confusas” com este pontificado.

A palestra atenciosa e acessível de Gregory foi uma ótima maneira de celebrar o 11º aniversário da eleição de Francisco.

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