28 Fevereiro 2024
O papa envolveu seu Conselho de Cardeais em discussões sobre o papel das mulheres na Igreja, uma vez que a assembleia sinodal do próximo mês de outubro está preparada para analisar as diáconas.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada em La Croix International, 27-02-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quando o Papa Francisco se encontrou com membros da Comissão Teológica Internacional em novembro passado, não perdeu tempo em dizer-lhes o que tinha em mente.
“Há algo que eu não gosto em vocês, desculpem a minha franqueza”, disse ele ao entrar no pequeno salão adjacente à Sala de Audiências Paulo VI. “Uma, duas, três, quatro mulheres – pobres mulheres! Elas estão sozinhas! Ah, desculpe, cinco”, disse o papa. “Neste ponto, devemos avançar! As mulheres têm uma capacidade de reflexão teológica diferente da dos homens”, insistiu Francisco, ao começar a falar aos teólogos.
Ele obviamente podia ver o olhar perplexo em seus rostos, então foi direto ao ponto. “Vocês vão se perguntar: aonde esse discurso leva? Não apenas a dizer que vocês precisam de mais mulheres aqui – isso é uma coisa – mas também a ajudá-los a refletir. A Igreja como mulher, a Igreja como esposa. E essa é uma tarefa que eu lhe peços, por favor. Desmasculinizem a Igreja”, disse o papa.
Com essa tarefa em mente, Francisco iniciou então a reflexão sobre o “caráter feminino” da Igreja, durante o encontro, uma semana depois (4 de dezembro), com seus nove conselheiros principais que compõem o Conselho de Cardeais. Ele até convidou três teólogas especializadas no papel das mulheres na Igreja para falarem ao C9, como é comumente chamado o conselho.
O papa apresentou dois conceitos que o falecido teólogo suíço Hans Urs von Balthasar (1905-1988) desenvolveu nos anos 1940 no centro das reflexões sobre as mulheres na Igreja: o princípio petrino e o princípio mariano. O primeiro, referente a São Pedro, o primeiro dos Apóstolos, está ligado aos ministérios da Igreja. O último está ligado à Virgem Maria.
“O papa queria que a questão fosse abordada sob várias perspectivas”, disse Linda Pocher, irmã salesiana e teóloga especializada no pensamento de Balthasar e uma das três estudiosas convidadas para falar no C9. “O princípio balthasariano pode ser um paradigma muito útil para pensar sobre a diferença entre o institucional e o espiritual. Mas também tem seus limites”, disse ela aos cardeais. “Não é realmente adequado para expressar a diferença entre homens e mulheres na Igreja.”
Luca Castiglioni, um padre e teólogo de Milão concorda. “Esse princípio não pode ser usado para separar hermeticamente homens e mulheres”, disse ele, enfatizando que a Igreja não pode ignorar o “desconforto” regularmente expressado pelas fiéis mulheres – “isto é, metade da população católica”. “Só sairemos desta situação se realmente levarmos em conta o ponto de vista de homens e mulheres para avançarmos”, disse Castiglioni.
Pocher disse que as reflexões, que os membros do C9 continuaram durante sua reunião no início de fevereiro, estão em linha com a reflexão que a assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade iniciou em relação ao diaconato feminino.
“No Conselho de Cardeais, a maioria dos membros entende a urgência de refletir sobre a questão do diaconato feminino, para ver se essa possibilidade deve ser aberta às mulheres, e de que forma”, disse a teóloga salesiana.
Pocher também disse que essa é uma forma de se preparar para a próxima assembleia do Sínodo em outubro, onde o diaconato feminino será uma das questões principais. Devido a dessa proposta, ela convidou Jo Wells, uma bispa anglicana, para se dirigir ao papa e aos cardeais na sessão de fevereiro do C9. Wells compartilhou sua experiência sobre a ordenação de mulheres – ao presbiterado e ao episcopado – na Igreja Anglicana.
“Quando eu vejo que a Igreja Católica só abriu recentemente os ministérios (de leitora e acólita) às mulheres, isso me faz retroceder décadas”, disse ela, antes de observar que está “acostumada a trabalhar em contextos onde as mulheres trabalham e assumem responsabilidades”.
Wells enfatizou particularmente a capacidade dos membros da Igreja Anglicana de “administrar suas divergências”. “Alguns na nossa Igreja não suportam a ordenação de mulheres. Temos medidas para preservá-las disso”, explicou ela. “Durante toda a reunião, o papa permaneceu em silêncio. Parece-me que ele queria encorajar os cardeais a falarem.”
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Como o Papa Francisco está tentando “feminilizar” a Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU