Bênção aos homossexuais, o “não” da África. Artigo de Luigi Sandri

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03 Janeiro 2024

"Em 18 de dezembro foi publicada “Fiducia suplicans”, uma 'Declaração sobre o sentido pastoral das bênçãos', assinado em conjunto pelo Papa e pelo cardeal argentino Victor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. O texto, essencialmente, afirma: não há absolutamente nenhuma equiparação entre o 'casamento', que ocorre apenas entre um homem e uma mulher num vínculo que tende a ser indissolúvel, e a 'união' de pessoas do mesmo sexo; no entanto, os casais homossexuais podem ser abençoados, mas com discrição, sem nunca dar a impressão de que se aprova o comportamento deles. No Ocidente, algumas Conferências Episcopais e prelados isolados, em grande parte apreciaram um documento que admite o que até agora a Cúria Romana, e Francisco, haviam excluído. Mas um coro compacto de 'não' veio da África", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 02-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Para defender os valores éticos tradicionais da África, o episcopado católico do continente opõe-se a um texto do Vaticano que torna lícitas as bênçãos para casais homossexuais ou “irregulares”. Perfila-se assim uma inédita disputa jurídica, pastoral e eclesial.

Uma disputa que, se não for resolvida, perturbaria profundamente a celebração da segunda sessão do Sínodo dos Bispos marcada para outubro.

Em 18 de dezembro foi publicada Fiducia suplicans, uma “Declaração sobre o sentido pastoral das bênçãos", assinado em conjunto pelo Papa e pelo cardeal argentino Victor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. O texto, essencialmente, afirma: não há absolutamente nenhuma equiparação entre o “casamento”, que ocorre apenas entre um homem e uma mulher num vínculo que tende a ser indissolúvel, e a “união” de pessoas do mesmo sexo; no entanto, os casais homossexuais podem ser abençoados, mas com discrição, sem nunca dar a impressão de que se aprova o comportamento deles. No Ocidente, algumas Conferências Episcopais e prelados isolados, em grande parte apreciaram um documento que admite o que até agora a Cúria Romana, e Francisco, haviam excluído. Mas um coro compacto de “não” veio da África.

Uma citação é suficiente para mostrar o tom do desafio. No Quênia, o arcebispo de Nairóbi, Philip Anyolo definiu: “Todo o nosso clero está proibido de abençoar relações irregulares, uniões ou casais homossexuais. Qualquer forma de bênção para elas iria contra a palavra de Deus, o ensinamento da Igreja, as tradições culturais africanas, as leis das nossas nações e seria escandalosa para os fiéis." A posição de outros episcopados é semelhante (o da Guiné dois meses atrás elogiou o parlamento de Conacri que se preparava para aprovar uma lei punitiva contra os gays).

Nesse contexto, o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, Arcebispo de Kinshasa e Presidente do Secam, Simpósio das Conferências Episcopais da África e do Madagascar decidiu convocar, em breve, o órgão para tentar encontrar uma posição comum sobre a Fiducia suplicans.

A ideia, cada vez mais difundida no Ocidente, de acolher como “normal” um casal homossexual, garantindo-o também juridicamente, para as culturas africanas, explicou o cardeal, é inaceitável e impensável.

Por outro lado, vários bispos ocidentais (na Alemanha, Bélgica, França, Espanha, EUA) apreciaram o texto de 18 de dezembro. O tempo e o lugar para mediar entre duas perspectivas opostas seria o Sínodo de outubro: mas será assim? Faz com que se pense no que já aconteceu na Comunhão Anglicana: enquanto o arcebispo de Canterbury concorda em abençoar casais homossexuais, os primazes Anglicanos do Quênia, Uganda, Tanzânia e Nigéria disseram “não” reportando-se à Bíblia, e se colocaram em estado de cisma com sua Igreja mãe. Surge a pergunta: como avaliarão a Fiducia suplicans os duzentos e cinquenta milhões de católicos africanos? Durante meses o questionamento tirará o sono de muitos no Vaticano.

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