27 Novembro 2023
O governo sandinista nega a entrada no país a Karen Celebertti, proprietária da franquia do Miss Universo na Nicarágua, e a devolve ao México após participar de eventos do concurso.
A reportagem é de Wilfredo Miranda, publicada por El País, 25-11-2023.
O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo desterrou nesta quinta-feira Karen Celebertti, diretora da franquia do Miss Nicarágua. A mulher retornava do México com sua filha, após participar de eventos relacionados ao Miss Universo. As autoridades migratórias do Aeroporto Internacional Augusto C. Sandino impediram sua entrada no país após o avião da Aeroméxico pousar em Manágua.
Celebertti e sua filha, após várias horas de espera no terminal aéreo, foram obrigadas a retornar ao México. A ex-modelo dirige a franquia do Miss Nicarágua desde 2001, uma organização de beleza que teve seu momento mais marcante em 18 de novembro, quando sua representante, Sheynnis Palacios, foi coroada Miss Universo 2023 em San Salvador, onde o concurso foi realizado.
Celebertti acompanhou Palacios em El Salvador e, após o triunfo de Miss Nicarágua no concurso, viajou ao México para participar de eventos do certame, pois a próxima edição será realizada naquele país. De acordo com uma fonte próxima à família de Celebertti, a companhia Aeroméxico não notificou a eles, por e-mail, a ordem migratória de não permitir sua entrada em Nicarágua, como aconteceu com outras pessoas a quem o regime não permitiu – ou sequer permitiu viajar – ao país.
Na tarde desta sexta-feira, a polícia sandinista vasculhou a casa de Celebertti e deteve seu esposo, Martín Argüello, por várias horas. O paradeiro do homem era desconhecido. Mais tarde, ele foi libertado, embora a ocupação da residência em Manágua persista até a publicação deste artigo.
De acordo com diversos meios de comunicação locais, a recusa da entrada de Celebertti em Nicarágua foi uma decisão tomada pelos Ortega-Murillo desde 17 de novembro, um dia antes da gala central do Miss Universo. Circulou até a versão de que a própria Miss Nicarágua também foi desterrada de fato, já que um e-mail negando sua entrada circulou nas redes sociais. No entanto, a decisão para ambas foi "revogada" quando Palacios foi coroada Miss Universo. No entanto, o desterro foi finalmente imposto à diretora do Miss Nicarágua.
Por sua vez, a nova Miss Universo não tinha planos de retornar a Nicarágua. Sua agenda oficial como rainha a levou a Miami, depois ao México e, por último, a Nova York, onde, de acordo com as regras da franquia mundial de beleza, residirá por um ano. O triunfo de Palacios foi vivido como um evento sem precedentes pelos nicaraguenses, comparável, segundo alguns, à experiência de ter ganho uma Copa do Mundo de futebol.
Milhares de pessoas saíram às ruas de diversas cidades para celebrar a conquista da coroa da beleza por uma jovem dedicada, na qual milhares de jovens se viram refletidos pela sua história de vida: ela vendia buñuelos (uma sobremesa à base de mandioca e queijo) para poder pagar a universidade. As principais vias de Manágua, a capital, foram inundadas por caravanas, e o estado policial, que desde os protestos de 2018 mantém uma proibição rigorosa a qualquer manifestação pública, foi reduzido. Uma celebração unânime na qual a bandeira da Nicarágua voltou a tremular, apesar da criminalização imposta pelo regime sandinista.
O triunfo de Palacios deixou o governo Ortega-Murillo em uma posição desconfortável, já que antes do concurso, Miss Nicarágua foi denegrida pela propaganda oficial, especialmente por sua origem humilde. O que mais irritou o governo foi uma foto viral em que Palacios aparece com as bandeiras azul e branca ao lado do cantor nicaraguense Carlos Mejía Godoy, participando das marchas cívicas realizadas no país durante a rebelião de 2018. O governo tentou disfarçar seu duplo padrão enviando na noite de sábado à casa da família da recém-nomeada Miss Universo Fidel Moreno, um dos homens de maior confiança do casal presidencial e também os prefeitos de Manágua, com ramos de flores.
Além disso, o governo emitiu um comunicado oficial parabenizando a conquista de Palacios. No entanto, simultaneamente, a vice-presidente Murillo começou a criminalizar qualquer celebração relacionada à vitória de Palacios. A polícia censurou um mural em homenagem à Miss Universo na cidade de Estelí.
Em 22 de novembro, a polícia também deteve o tiktokero Geovany López Acevedo, conhecido como Tropi Kong, após criticar sarcasticamente nas redes sociais os apresentadores do Canal 13, alinhado ao governo, que zombaram das origens da nova Miss Universo.
No mesmo dia, a "copresidenta" Murillo atacou as celebrações em Nicarágua pela vitória de Palacios. Ela as qualificou como "provocações disfarçadas" por parte daqueles que, enfatizou, "pretendem transformar um momento bonito e merecido de orgulho e celebração em um golpismo destrutivo".
Do lado dos críticos ao regime, a coroa de Palacios é percebida como um evento "histórico" que simbolicamente oxigena um país mergulhado desde 2018 na desesperança, devido à perseguição política e à crise econômica que levou quase 700.000 pessoas a se exilarem em outros países, especialmente nos Estados Unidos e Costa Rica.
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O regime de Ortega e Murillo destitui a diretora do Miss Nicarágua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU