28 Outubro 2023
"A secularização é um fenômeno generalizado em todos os países europeus, uma realidade que não diz respeito apenas à frequência à igreja, mas que diz respeito à própria fé em Deus".
A opinião é do sociólogo italiano Marco Marzano, professor da Universidade de Bérgamo, publicada por Domani, 26-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Cardeal Ruini, e com ele muitos dos cientistas sociais que por muito tempo deram eco às suas palavras, dizia a respeito da secularização, isto é, do distanciamento progressivo das pessoas da religião, que a Itália era uma exceção. Segundo aquele que por muito tempo foi o chefe dos bispos Italianos, o país teria liderado o renascimento do catolicismo no continente europeu.
Nunca uma profecia foi tão errada. A enésima confirmação vem dos resultados de uma interessante pesquisa promovida pela revista católica Il Regno e realizada sob a supervisão de dois sociólogos muito respeitados, Arturo Parisi e Paolo Segatti.
A pesquisa apresenta-se como uma réplica de uma anterior, realizada há quase 15 anos, em 2009. As perguntas do questionário permaneceram as mesmas e igualmente representativa de toda a população italiana também foi a grande amostra de entrevistados: 1.500 na primeira pesquisa, 2010 na segunda.
O primeiro dado é inequívoco: em 2009, mais de 81% dos entrevistados definiam-se como católicos, em 2023, o número caiu para menos de 73%. Uma queda vertical de dimensões consideráveis, à qual correspondeu um aumento igualmente impressionante na quantidade de ateus e de não crentes, que passaram de 6,2% em 2009 para 15,9% em 2023.
Os indicadores de participação ativa na vida da Igreja Católica também vão na mesma direção. O número daqueles que declaram frequentar a missa todos os domingos quase caiu pela metade em menos de 15 anos: eram 28% da amostra em 2009, são apenas 18% em 2023 (e leva-se em conta que, como outras pesquisas mostraram, as pessoas que realmente frequentam a missa são sempre menos daquelas que, respondendo a uma pesquisa, afirmam frequentar).
O número daqueles que declaram nunca ir à missa, nem uma vez por ano, dobrou desde 2009, passando de 19% para 37% e, portanto, acaba incluindo uma parte substancial daqueles que se declaram católicos.
O declínio na prática religiosa católica diz respeito a todas as gerações, mas torna-se clamoroso no caso dos mais novos. Entre os nascidos depois de 1981 o número de praticantes regulares cai abaixo de 10%, enquanto o número daqueles que declaram acreditar em Deus cai, entre os nascidos depois de 1990, abaixo dos 40% (permanecendo em torno de 50 para os nascidos depois de 1981).
Um dado ainda mais surpreendente é representado pelo fato de, em duas faixas etárias, a dos nascidos nas décadas de 1970 e 1980, o número de mulheres praticantes regulares é inferior ao dos homens: a chamada "fuga das quarentonas" (para citar o título de um popular livro de Dom Armando Matteo) é, portanto, realidade e não lenda.
É verdade que a quantidade de mulheres que se definem ateias ou não crentes é inferior ao número dos homens, mas o seu distanciamento da Igreja é forte e crescente e, em algumas gerações, ultrapassa o masculino. Em suma, crescem entre as mulheres formas de crenças que não passam mais pela filiação ao catolicismo. É um dado amplamente conhecido pelas hierarquias que, no entanto, não têm de forma alguma os meios para deter o êxodo, mantendo intacto o quadro normativo e político atual.
Esse é, portanto, o cenário: credível, sensato e não muito diferente de outros elaborados nos últimos anos por outros grupos de pesquisa. A primeira pergunta que surge espontaneamente após a leitura desses números é a seguinte: o que a Igreja Católica pode fazer para inverter a tendência, para ver aumentar o número de pessoas que participam de seus ritos, para conquistar a atenção agora quase completamente perdida das gerações jovens?
A resposta é: nada. A secularização é um fenômeno generalizado em todos os países europeus, uma realidade que não diz respeito apenas à frequência à igreja, mas que diz respeito à própria fé em Deus. Isso é confirmado por outro número oferecido pela pesquisa de Parisi e Segatti: aqueles que afirmam acreditar na existência de Deus passaram de 72% para 57% de 2009 para 2023, e aqueles que acreditam sem dúvida de 50% para 36%. Em suma, a fé está desaparecendo progressivamente e a religião está recuando com ela.
Não há muito que as igrejas possam fazer. Aquelas mais progressistas, por exemplo a anglicana, introduziram algumas reformas profundas, abriram-se às mulheres e aos homossexuais, mas não recuperaram um único fiel e estão cada vez mais despovoadas.
A segunda pergunta que deve ser feita é esta: quais são as consequências dessa situação para a Igreja Católica italiana? Também nesse caso, os alarmismos excessivos são injustificados. É claro que o afastamento de uma parte significativa da população causa alguns danos à instituição: diminui a sua capacidade de orientar os comportamentos de muitos sujeitos e reduz a sua capacidade de implementar iniciativas e atividades pastorais.
Mas ao lado desses dados preocupantes (para a organização eclesial, claro) não se pode deixar de notar o fato de o catolicismo manter a sua elevada reputação cultural e política na Itália. Isso é demonstrado pelo último dos dados da pesquisa que quero aqui relatar: 47% da amostra acreditam que é legítimo, ou seja, que “faz parte da sua missão” (para usar as palavras do questionário), que a Igreja trate do aborto, 49% acham que deveria se interessar pelo desemprego, 38% pela homossexualidade, 55% pela imigração.
Muitos desses percentuais estão até em crescimento em comparação com 2009. Trata-se de um dado esclarecedor: os italianos abandonam cada vez mais os cultos dominicais e acreditam menos em Deus, mas olham, de forma crescente, para a Igreja Católica como uma fonte de autoridade de indicações morais e de estratégias políticas. A enorme popularidade do Papa argentino (e em muitos aspectos do presidente da CEI, o Cardeal Zuppi), até mesmo em muitos ambientes ateus e de esquerda, confirma esse elemento.
Com uma brincadeira poderíamos concluir que, em tempos de descristianização galopante, muitos sonham com um retorno do Papa rei e da Igreja como guia moral e política da nação. Voltaremos a falar disso.
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6 de cada 10 pessoas de 30 anos não acreditam em Deus, mas até os ateus ouvem o Papa Francisco. Artigo de Marco Marzano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU