12 Outubro 2023
"No mundo moderno, frente a tantas adversidades, a graves problemas sociais, essas comunidades já seriam uma necessidade, ainda que o indivíduo não tivesse doente ou em fim de vida; mas é nesse extremo da fragilidade, diante da doença e da morte que trazemos nosso foco nesse dia 14 de outubro", escreve João Batista Alves de Oliveira, médico paliativista pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica/Associação Médica Brasileira, na celebração do Dia Mundial do Cuidado Paliativo, comemorado sempre no segundo sábado do mês de Outubro.
No segundo sábado de outubro destacamos o Dia Mundial do Cuidado Paliativo, que este ano tem como tema “Comunidades compassivas – juntos por Cuidados Paliativos”, que bem enfatiza a necessidade de esforços conjuntos para o crescimento e difusão mundial dessa, que mais do que uma área médica, representa uma necessidade humana, uma questão de dignidade.
Comecemos revisando a definição de Cuidado Paliativo e de Comunidade Compassiva – Os Cuidados Paliativos podem-se definir como uma resposta ativa aos problemas inerentes da doença prolongada, progressiva, sem hipótese de cura, com o intuito de prevenir o sofrimento daí decorrente e de maximizar a qualidade de vida possível a esses doentes e respectivas famílias. Pretendem ajudar os doentes terminais a viver o mais ativamente possível até a sua morte, com uma intervenção baseada em rigor, ciência e criatividade. São cuidados centrados na importância da dignidade da pessoa humana, ainda que doente, vulnerável e limitada. (1). Já a Comunidade Compassiva é uma iniciativa de desenvolvimento comunitária associada a Cuidados Paliativos, que consiste em grupos de vizinhos que se unem para organizar formas de auxiliar as pessoas da sua comunidade que vivem com uma doença grave e seus familiares. (2)
Mas antes vamos falar de compaixão - Compassione significa um estado de espírito não violento, não agressivo, não lesivo permitindo uma imersão total na condição do ser humano que nos impele para ‘um aonde dói’, para ‘entramos nos locais da dor’(3) ... é colocar o doente no centro das atenções, como nosso semelhante, cujas experiências não podemos compreender totalmente, mas empaticamente nos aproximarmos; experiências que nos tocam por partilharmos a mesma humanidade.(4)
A compaixão é inerente ao Cuidado Paliativo e a necessidade de se prolongar para além do ambiente hospitalar fez surgir a Cidade Compassiva, termo cunhado pelo professor Allan Kellehear, sociólogo e médico, na Inglaterra, para os doentes em final de vida já que esses pacientes necessitam do apoio de uma rede interna e especialmente também de uma rede externa mais alargada – a comunidade em que vivem.
Uma comunidade compassiva permite que nos últimos tempos de um doente em fim de vida sua família e cuidadores sejam mais resilientes, menos exaustos, e que o doente possa ter mais qualidade de vida no seu domicílio. (5)
A importância da escolha deste tema para a comemoração do Dia Mundial do Cuidado Paliativo 2023 talvez resida no fato das grandes mudanças sociais que distorceram a nossa essência natural de ser compassivos e então precisamos resgatar essas iniciativas para identificar o sofrimento e as situações de adversidade das pessoas com doenças avançadas e em fim de vida. (6)
No mundo moderno, frente a tantas adversidades, a graves problemas sociais, essas comunidades já seriam uma necessidade, ainda que o indivíduo não tivesse doente ou em fim de vida; mas é nesse extremo da fragilidade, diante da doença e da morte que trazemos nosso foco nesse dia 14 de outubro.
A Comunidade Compassiva nos traz a certeza de que a saúde é responsabilidade de todos, não só dos serviços de saúde... através de uma comunhão de forças que permite enaltecer o melhor lado de todos e para todos nós (6)
Uma responsabilidade que, mais que pela empatia, pela dor do outro, se baseia em estarmos preparados para o encontro, companhia, apoio e cuidado com a finalidade de melhorar a qualidade de vida daqueles vulneráveis ou com doenças avançadas.
Que a comemoração desse ano se firme em solidariedade, pois ‘cada um deve fazer-se responsável pelo outro, porque todos devem estar igualmente interessados na integridade do contexto vital de que são membros, num estar irmanado em uma forma de intersubjetividade compartilhada (7), pois a relação com o outro se efetiva na forma de bondade, tendo sua concretude na ilimitada ação humana pautada nos princípios mais nobres e eloquentes que dignificam o outro. (8)
(1) Neto
(2) Public Health Palliative Care International
(3) Barbosa
(4) Viana, Silva
(5) Freitas, Marques, Villar
(6) Fialho
(7) Habermas
(8) Levinas
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Cuidados Paliativos - Comunidades compassivas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU