31 Agosto 2023
Numa mensagem, enviada ontem por Francisco aos responsáveis das empresas francesas, reunidos de 28 de agosto até hoje no hipódromo de Longchamp, em Paris, e lida pelo bispo de Nanterre, monsenhor Matthieu Rougé, o Papa define a figura do líder económico como "ator do bem comum e sucessor de São José, o carpinteiro", enaltecendo o valor do trabalho como fator de dignidade.
A reportagem é de Delphine Allaire, publicada por Vatican News, 29-08-2023.
"Quando penso em empreendedores, a primeira palavra que me vem à cabeça é o bem comum. Os empreendedores são protagonistas do desenvolvimento e do bem-estar. Vocês são um motor essencial da riqueza, da prosperidade e da felicidade pública", assegurou Francisco aos empresários franceses, reunidos em Longchamp desde ontem, 28 de agosto, até hoje, destacando a falta de atenção à sua figura por parte dos meios de comunicação social que "falam pouco das dificuldades e dores dos empresários que fecham as suas empresas e falham sem culpa própria". Na mensagem, lida pelo arcebispo de Nanterre, dom Matthieu Rougé, o papa cita o Livro de Jó, que ensina que sucesso "não é sinônimo direto de virtude e bondade" e que infortúnio "não é sinônimo de culpa", atingindo "até os justos".
"A Igreja, por outro lado, compreende o sofrimento do bom empreendedor, acolhe-o, acompanha-o e agradece-o, indica Francisco, recordando como 'desde o princípio a Igreja acolheu no seu meio os comerciantes, precursores dos empresários modernos'. 'Na Bíblia e nos Evangelhos – continua – falamos muitas vezes de dinheiro e comércio, e entre as mais belas histórias da história da salvação há também histórias que falam de economia: de dracmas, talentos, proprietários de terras, administradores e pérolas preciosas'. O Papa menciona o pai do filho pródigo no Evangelho de Lucas, apresentado como um homem rico, talvez um proprietário de terras, e depois, novamente, o Bom Samaritano 'que poderia ter sido um comerciante'. Segundo Francisco, a forma de participar do bem comum hoje é criar empregos, especialmente para os jovens. 'Dê confiança aos jovens – é a exortação do Pontífice – cada novo emprego criado é riqueza compartilhada, que não acaba nos bancos para gerar interesses financeiros, mas é investida para que novas pessoas possam trabalhar e tornar suas vidas mais dignas'."
"O trabalho é legitimamente importante", continua o Papa, "se é verdade que o trabalho enobrece o homem, é ainda mais verdade que é o homem que enobrece o trabalho. Somos nós, não as máquinas, que somos o verdadeiro valor do trabalho." Em seguida, o Papa sublinha os perigos de deixar de trabalhar para um empresário. "Então se torne um especulador ou viva de aluguel."
"O bom empresário, como o bom pastor do Evangelho, ao contrário do mercenário, conhece os seus trabalhadores porque conhece o seu trabalho", prossegue a mensagem, com a preocupação do Papa com a possível perda de contato do empresário com o trabalho da sua empresa e, portanto, com os seus trabalhadores, que assim se tornam "invisíveis", lamenta, citando o economista francês Pierre-Yves Gomez. Francisco pede aos empresários que nunca se esqueçam de como nasceu sua vocação: "Um dia vocês ficaram fascinados pelo cheiro da oficina, pela alegria de tocar seus produtos, pela satisfação de ver que seus serviços são úteis. E nisto sois como José, como Jesus que passou parte da sua vida a trabalhar como artesão: 'o Verbo tornou-se carpinteiro', conhecia o cheiro da madeira". "Sem novos empreendedores – é o alerta – nossa terra não resistirá ao impacto do capitalismo. Até agora fizeram alguma coisa, alguns fizeram muito, mas não é suficiente", conclui Francisco, que exorta neste "tempo muito urgente" a fazer mais: "As crianças vão agradecer, e eu também".
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Francisco aos empresários franceses: o valor do trabalho são as pessoas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU