25 Agosto 2023
Biden já entrega a Kiev as armas que, admitiu, podem provocar 3ª Guerra Mundial. Zelenski censura, bane, prende, recruta à força – o Ocidente finge que não vê. A paz é possível, mas a indústria bélica tem os dólares (e os políticos) para impedi-la.
Max Blumenthal, jornalista de The Grayzone, falou ao Conselho de Segurança da ONU sobre o papel da ajuda militar dos EUA à Ucrânia na escalada do conflito com a Rússia e os reais motivos por trás do apoio de Washington à guerra por procuração de Kiev.
A informação é de Max Blumenthal, publicada em The Grayzone e reproduzida por Outras Palavras, 23-08-2023. Tradução de Maurício Ayer.
Agradeço a Wyatt Reed, Alex Rubinstein e Anya Parampil por me ajudarem a preparar esta apresentação. Wyatt tem experiência em primeira mão com o assunto, por ser um jornalista cujo hotel em Donetsk foi alvejado por um obus de fabricação americana manejado pelos militares ucranianos em outubro de 2022. Ele estava a 100 metros de distância quando o ataque ocorreu e por pouco não foi morto.
Meu amigo, o ativista de direitos civis Randy Credico, também está aqui comigo hoje. Ele esteve em Donetsk mais recentemente e pôde testemunhar ataques regulares de HIMARS pelos militares ucranianos contra alvos civis.
Estou aqui não apenas como jornalista com mais de 20 anos de experiência cobrindo política e conflitos em vários continentes, mas como um americano forçado por meu próprio governo a financiar uma guerra por procuração que se tornou uma ameaça à estabilidade regional e internacional às custas do bem-estar social de homens e mulheres, meus compatriotas.
Em 28 de junho, enquanto equipes de emergência trabalhavam para limpar mais um descarrilamento de trem tóxico nos Estados Unidos, desta vez no rio Montana, expondo mais uma vez a infraestrutura cronicamente subfinanciada de nosso país e suas ameaças à nossa saúde, o Pentágono anunciou o plano de enviar US$ 500 milhões adicionais em ajuda militar à Ucrânia.
Essa iniciativa ocorreu quando o exército da Ucrânia entrou na terceira semana de uma alardeada contraofensiva que, segundo a descrição da CNN, “não atendeu às expectativas”, e que até mesmo Volodymyr Zelensky reconhece estar “indo mais lentamente do que o desejado.”
Como os militares da Ucrânia falharam em romper a linha de defesa primária da Rússia, a CNN informou que em 12 de junho, Kiev citar a “perda” de 16 veículos blindados fabricados nos EUA e enviados ao país.
E o que fez o Pentágono? Simplesmente passou essa conta para os contribuintes médios dos EUA, como eu, cobrando de nós mais US$ 325 milhões para substituir o estoque militar desperdiçado na Ucrânia. Não foi feito qualquer esforço para consultar a posição da população dos EUA sobre o assunto; e a grande maioria dos americanos provavelmente nem sabia que a troca ocorreu.
A política dos EUA que acabei de descrever – que vê Washington priorizar o financiamento ilimitado para uma guerra por procuração com uma potência nuclear em uma terra estrangeira, enquanto nossa própria infraestrutura doméstica desmorona diante de nossos olhos – expõe uma dinâmica perturbadora que está no centro do conflito na Ucrânia: um Esquema Ponzi internacional que permite às elites ocidentais apreender a riqueza suada das mãos dos cidadãos americanos médios e canalizá-la para os cofres de um governo estrangeiro que – até mesmo pela Transparência Internacional, organização patrocinada pelo Ocidente – é considerado um dos mais corruptos da Europa.
O governo dos EUA ainda não realizou uma auditoria oficial de seu financiamento à Ucrânia. O público americano não tem ideia de onde foi parar o dinheiro de seus impostos.
É por essa razão que, esta semana, The Grayzone publicou uma auditoria independente da alocação dos impostos dos EUA na Ucrânia durante os anos fiscais de 2022 e 2023. Nossa investigação foi liderada por Heather Kaiser, ex-oficial de inteligência militar e veterana das guerras dos EUA no Afeganistão e no Iraque.
Encontramos um pagamento de US$ 4,48 milhões da Administração de Segurança Social dos EUA para o governo de Kiev.
Encontramos US$ 4,5 bilhões em pagamentos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional para saldar a dívida soberana da Ucrânia, grande parte da qual tem como credor a empresa global de investimentos BlackRock.
Só isso equivale a US$ 30 retirados de cada cidadão dos EUA em um momento em que 4 em cada 10 americanos são incapazes de pagar uma emergência de US$ 400.
Encontramos dólares de impostos destinados à Ucrânia inflando os orçamentos de uma rede de televisão em Toronto, um think tank pró-OTAN na Polônia e, acredite ou não, agricultores no Quênia.
Encontramos dezenas de milhões dados a empresas de private equity, incluindo uma na República da Geórgia, bem como um pagamento de US$ 1 milhão para um único empresário privado em Kiev.
Nossa auditoria também revelou o contrato de US$ 4,5 milhões do Pentágono com uma empresa chamada Atlantic Diving Supply para fornecer à Ucrânia equipamentos explosivos não especificados. Esta é uma empresa notoriamente corrupta, que Thom Tillis, presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado, criticou anteriormente por seu “histórico de fraude”.
Mais uma vez, o Congresso falhou em garantir que esses pagamentos obscuros e grandes negócios de armas sejam rastreados adequadamente.
Na verdade, grande parte da ajuda militar e humanitária enviada à Ucrânia simplesmente desapareceu. No ano passado, a CBS News citou o diretor de uma organização sem fins lucrativos pró-Zelensky na Ucrânia, que relatou que apenas cerca de 30% da ajuda estava chegando às linhas de frente na Ucrânia.
O desvio de fundos e suprimentos é pelo menos tão preocupante quanto as possíveis consequências da transferência e venda ilícitas de armas de uso exclusivo militar. Em junho passado, o chefe da Interpol avisou que as transferências maciças de armas para a Ucrânia significam que “podemos esperar um influxo de armas na Europa e além dela” e que “os criminosos estão agora mesmo, enquanto falamos, focando nelas”.
Em maio deste ano, um grupo de neonazistas russos anti-Kremlin equipado com equipamentos fornecidos pelo governo ucraniano, foi saudado por políticos ocidentais por realizar ataques terroristas em território russo usando Humvees de fabricação americana. Embora o grupo, o chamado “Corpo Voluntário Russo”, seja liderado por um homem que se autodenomina o “Rei Branco” e inclui numerosos admiradores declarados de Adolf Hitler, o armamento ocidental dessa milícia contra as forças russas não gerou nenhum protesto do Congresso.
E embora o governo Biden tenha prometido que está monitorando as armas enviadas, um telegrama do Departamento de Estado vazou em dezembro passado reconheceu que “a atividade cinética e o combate ativo entre as forças ucranianas e russas criam um ambiente no qual as medidas de verificação padrão às vezes são impraticáveis ou impossíveis”.
O governo Biden não apenas sabe que não pode rastrear as armas que está enviando para a Ucrânia, mas também sabe que está intensificando uma guerra por procuração contra a maior potência nuclear do mundo e a está desafiando a responder de forma equivalente.
Sabemos que eles sabem disso porque, em 2014, o presidente Barack Obama rejeitou as exigências de enviar armamento ofensivo letal para Kiev porque, como o Wall Street Journal afirmou, ele tinha uma “antiga preocupação de que armar a Ucrânia provocaria uma nova escalada em Moscou, que poderia arrastar Washington para uma guerra por procuração”.
Quando Donald Trump assumiu o cargo em 2017, ele tentou manter a linha sobre a política de Obama, mas logo foi chamado de “fantoche russo” pela imprensa de Washington e pelo Partido Democrata por se recusar a enviar mísseis Javelin da Raytheon aos militares ucranianos. A relutância de Trump em enviar os Javelins tornou-se parte da base de seu impeachment. Ele cedeu sem surpresa.
À medida que o armamento ofensivo fabricado pelos EUA começou a chegar às linhas de frente do Donbass, o Ocidente coletivo explorou os Acordos de Minsk para “dar tempo à Ucrânia” para se armar, como expressou a ex-chanceler alemã Angela Merkel.
Em janeiro de 2022, os EUA anunciaram uma pacote de armas de US$ 200 milhões para a Ucrânia. Até 18 de fevereiro, observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa relataram que o número de violações do cessar-fogo havia duplicado, apresentando mapas que mostravam que a esmagadora maioria dos locais alvejados situava-se do lado da população separatista pró-Rússia em Donetsk e Lugansk. Cinco dias depois, a Rússia invadiu a Ucrânia.
E desde então, os EUA e seus aliados têm escalado o conflito em todas as oportunidades.
“Coisas que não podíamos dar em janeiro porque significava uma escalada foram dadas em fevereiro”, reclamou um ex-funcionário do Departamento de Estado depois de se reunir com seus homólogos ucranianos. “E as coisas que não podíamos dar em fevereiro, podemos dar em abril. Esse tem sido o padrão distinto, a começar com os Stingers”, disseram eles, referindo-se aos lança-mísseis montados no ombro.
O próprio presidente Joe Biden disse, em março de 2022: “A ideia de enviarmos equipamentos ofensivos e termos aviões e tanques… que ninguém se iluda, não importa o que todos digam, o nome disso é Terceira Guerra Mundial.”
Pouco mais de um ano depois, Biden mudou de tom, apoiou um plano para fornecer caças F-16 à Ucrânia e depois pressionou a Alemanha a enviar os tanques que ele, segundo seu próprio temor, provocariam a Terceira Guerra Mundial.
Levou apenas dois meses a partir do recebimento dos sistemas HIMARs dos EUA para que os militares ucranianos começassem a atacar a infraestrutura crítica, usando esses sistemas para derrubar a ponte Antonovsky sobre o rio Dnipro e, novamente, dois meses depois, em um ataque à represa Kakhovka em um teste “para ver se a água do Dnieper poderia se elevar o suficiente para impedir as travessias russas”, como relatou o Washington Post.
Três semanas atrás, a barragem de Kakhovka foi destruída, desencadeando uma grande catástrofe ambiental que causou inundações em massa e contaminação do abastecimento local de água. A Ucrânia, é claro, culpa a Rússia pelo ataque, mas não apresentou provas.
Nessa época, a Ucrânia também infundadamente acusou a Rússia de planejar uma provocação na usina nuclear de Zaporizhzhia. Isso desencadeou uma resolução dos senadores Lindsey Graham e Richard Blumenthal (sem qualquer relação comigo) pedindo que a OTAN interviesse diretamente na Ucrânia e atacasse a Rússia se tal incidente ocorresse.
A ação de Blumenthal e Graham estabeleceu, assim, uma linha vermelha de fato para iniciar a ação militar dos EUA, muito parecida com a estabelecida na Síria que, como um ex-diplomata dos EUA comentou para o jornalista Charles Glass, “foi um convite aberto a uma ação de falsa bandeira”.
Veremos outro engano de Douma, mas desta vez em Zaporizhzhia?
Por que estamos fazendo isso? Por que estamos provocando a aniquilação nuclear inundando a Ucrânia com armas avançadas e sabotando as negociações a todo momento?
Pessoas como o senador Dick Durbin nos disseram que a Ucrânia está “literalmente em uma batalha pela liberdade e pela própria democracia” e, portanto, devemos fornecer armas “pelo tempo que for necessário”, como disse o presidente Biden. Quem se opõe à ajuda militar à Ucrânia se opõe à defesa da democracia, segundo essa lógica.
Então, onde está a democracia na decisão de Volodymyr Zelensky de proibir os partidos da oposição, criminalizar os meios de comunicação de seus legítimos adversários políticos, prender seu maior rival político, vigiar seus principais deputados, invadir igrejas ortodoxas e prender clérigos?
Onde está a democracia do governo ucraniano na prisão de Gonzalo Lira, um cidadão dos EUA, por questionar a narrativa oficial de seu esforço de guerra?
E onde está a democracia na recente decisão de Zelensky de suspender eleições em 2024, alegando que a lei marcial foi declarada? Bem, parece que a democracia da Ucrânia é mais difícil de encontrar hoje em dia do que seu repentinamente imperceptível comandante-em-chefe militar, Valeriy Zaluzhny.
O senador Graham ofereceu uma justificativa muito mais sombria – e direta – para fornecer bilhões em armas à Ucrânia. Como o senador vangloriou-se durante uma recente visita a Zelensky em Kiev, “Os russos estão morrendo… é o melhor dinheiro que já gastamos”.
Graham, devemos lembrar, também disse que nós, os Estados Unidos, devemos lutar nesta guerra até o último ucraniano. Embora os números oficiais de vítimas sejam estritamente sigilosos, devemos nos preocupar com o fato de que a Ucrânia esteja a caminho de realizar as fantasias macabras do senador.
Como um soldado ucraniano reclamou este mês para a Vice News, não sabemos quais são os “planos” de Zelensky, mas “parece ser o extermínio de sua própria população – a sua população em condição de combate e em idade ativa. É isso.”
De fato, os cemitérios militares na Ucrânia estão se expandindo quase tão rapidamente quanto as McMansions da Virgínia do Norte e as propriedades à beira-mar de executivos da Lockheed Martin, Raytheon e vários empreiteiros de Beltway que se beneficiam do segundo nível mais alto de gastos militares desde a Segunda Guerra Mundial.
Estes são os verdadeiros vencedores da guerra por procuração na Ucrânia. Não ucranianos ou americanos médios. Ou russos ou mesmo europeus ocidentais.
Os vencedores são pessoas como o secretário de Estado Tony Blinken, que passou seu tempo entre os governos Obama e Biden lançando uma empresa de consultoria chamada WestExec advisors, que garantiu contratos governamentais lucrativos para empresas de inteligência e a indústria de armas. Entre os ex-parceiros de Blinken na WestExec estão a diretora de inteligência nacional Avril Haines, o vice-diretor da CIA David Cohen, a ex-secretária de imprensa da Casa Branca Jen Psaki e quase uma dúzia de membros atuais e antigos da equipe de segurança nacional de Biden.
O secretário de Defesa Lloyd Austin, por sua vez, é um antigo e possivelmente futuro membro do conselho da Raytheon, e ex-companheiro da firma de investimentos Pine Island Capital, que colabora com a WestExec e a quem Blinken assessorou.
Enquanto isso, a atual embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas Greenfield, é listada como consultora sênior do Albright Stonebridge Group, uma autodenominada “empresa de diplomacia comercial” que também negocia contratos para o setor de inteligência e a indústria de armas. Esta empresa foi fundada pela falecida Madeleine Albright, que fez a declaração infame de que a morte de meio milhão de crianças iraquianas sob o regime de sanções dos EUA “valeu a pena”.
Assim, enquanto os homens ucranianos de meia-idade são arrancados das ruas pela polícia militar e enviados para a linha de frente, os conectados arquitetos financeiros e políticos desta guerra por procuração planejam cruzar a porta giratória para colher lucros inimagináveis assim que seu tempo na administração Biden terminar.
Para eles, um acordo negociado para essa disputa territorial significa o fim da vaca leiteira de quase US$ 150 bilhões em ajuda dos EUA à Ucrânia.
Quando os Estados Unidos, membro permanente deste Conselho de Segurança, caíram sob o controle de um governo que busca perpetuar uma guerra por procuração “pelo tempo que for necessário”, que considera a diplomacia sinônimo de medidas coercitivas unilaterais para “deixar o rublo em frangalhos”, como prometeu Biden; cuja liderança subverte as negociações para buscar o lucro enquanto se recusa a informar adequadamente seus próprios cidadãos sobre o que eles estão pagando, e que empurra os filhos e irmãos de seus supostos parceiros ucranianos para um campo de batalha para agredir um rival geopolítico; quando Zelensky e membros do Congresso dos EUA pedem ataques preventivos contra a Rússia, que infringem o espírito do Artigo 51 da Carta da ONU, este Conselho deve tomar medidas para fazer cumprir essa Carta.
Os Artigos 33-38 do Capítulo VI dessa Carta são claros: o Conselho de Segurança deve usar sua autoridade para garantir a solução pacífica de controvérsias, especialmente quando estas ameaçam a segurança internacional. Isso não deveria se aplicar apenas à Rússia e à Ucrânia. Este Conselho tem a obrigação de monitorar e coibir rigorosamente os EUA e a formação militar ilegal conhecida como OTAN.
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Ucrânia: o que você não vê - Instituto Humanitas Unisinos - IHU