27 Julho 2023
O recém-nomeado cardeal da Polônia alertou contra as tentativas de instrumentalizar a Igreja Católica na campanha para as eleições parlamentares do fim do outono e criticou o líder do partido governista Lei e Justiça por usar os eventos da Igreja para discursos políticos.
A reportagem é de Jonathan Luxmoore, publicada por The Tablet, 24-07-2023.
“A Igreja deveria desenvolver métodos evangélicos, não ferramentas políticas – pregar a palavra, celebrar os sacramentos e construir uma comunidade com obras de amor”, disse D. Grzegorz Rys, da arquidiocese de Lodz, que se tornará cardeal com outras 20 pessoas em 30 de setembro.
“Precisamos insistir nisto daqui. Se pedimos aos políticos que não nos envolvam em uma luta política, não devemos convidá-los a expressar opiniões políticas em cerimônias religiosas. Não há lugar para isso na Igreja”.
O cardeal eleito, de 59 anos, falou em meio à campanha para os 460 assentos da câmara baixa do Sejm e 100 assentos do Senado da Polônia, nos quais nem [o partido] Lei e Justiça nem a oposição liberal Plataforma Cívica devem obter uma maioria decisiva.
Em entrevista à agência noticiosa católica KAI, com sede em Varsóvia, ele disse que sua nomeação em 9 de julho foi um "choque absoluto", mas acrescentou que sua principal tarefa seria "apoiar o Papa" e, ao mesmo tempo, "abrir a Igreja para o mundo" em sua Polônia natal e garantir uma "fé autêntica" baseada em "experiências muito mais profundas" do que "normas culturais".
Ele também criticou um discurso polêmico promovido pelo partido Lei e Justiça para seu líder, Jaroslaw Kaczynski, no santuário nacional de Jasna Gora no dia em que sua elevação foi anunciada, o que gerou reações furiosas nas redes sociais, mas não foi questionado ou contestado por outras lideranças da Igreja.
“Se pedimos aos políticos que não envolvam a Igreja na campanha, não devemos agir contra isso”, disse Rys à KAI. “As relações entre a Igreja e o mundo político devem ser organizadas conforme estipulado em nossa Concordata e na constituição polonesa. A intenção não deve ser introduzir ou aprofundar divisões na sociedade”.
Em uma declaração de maio, o Conselho Principal dos bispos poloneses prometeu que a Igreja não “tomaria partido” nas eleições, cuja data ainda precisa ser confirmada, e instou os políticos a “absterem-se de instrumentalizar a Igreja” e provocar “emoções anticlericais”.
O Conselho também pediu à imprensa que evite “semear medo e hostilidade” e promover “uma imagem simplificada, unilateral, ideologizada e às vezes partidária da vida social”, e disse que o clero católico foi “chamado a servir a unidade em uma sociedade dividida e a manter distância dos partidos políticos”.
Em entrevista à TV na segunda-feira, o primaz católico da Polônia, D. Wojciech Polak de Gniezno, disse que a declaração do Conselho Principal havia “definido claramente” a visão da Igreja Católica de que o clero “nunca deve se intrometer na política atual ou fazer qualquer coisa que exponha a Igreja a tal acusação”.
“A Igreja não é um lugar para comícios ou agitação política – é um espaço para oração e celebração da Eucaristia”, disse D. Polak a Stacja. “O Evangelho também não pode ser instrumentalizado para fins de campanha. Esta regra se aplica a Jasna Gora, Lichen e Gniezno – todos os templos e lugares sagrados, sem exceção”.
Embora amplamente acusada de favorecer o partido Lei e Justiça, no poder desde 2015, a Conferência dos Bispos Poloneses entrou em conflito com o governo do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki em várias questões, incluindo o tratamento dado a migrantes e refugiados, e acusou-o em agosto de 2021 de violar a Concordata de 1993 da Polônia e a constituição de 1997 ao não defender os direitos da Igreja ou cumprir os requisitos legislativos e consultivos.
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Novo cardeal da Polônia insiste no distanciamento da Igreja da política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU