Mártires, ecumenismo e jubileu. Artigo de Fulvio Ferrario

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10 Julho 2023

Naturalmente, ninguém sonha em tirar o jubileu da Igreja papal: é um dos símbolos do seu papalismo. A minha oração humilde e sincera seria apenas esta: deixemos de fora o ecumenismo e os/as mártires evangélicos.

A opinião de Fulvio Ferrario, teólogo italiano e decano da Faculdade de Teologia Valdense, em Roma. O comentário foi publicado na página pessoal do autor no Facebook, 06-07-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Sejamos francos: enquanto o mundo experimenta o dia mais quente da história, a guerra galopa mesmo que não seja mais notícia, e os ministros [italianos], em vez de explicarem suas confusões, brigam com os jornais, o jubileu católico romano NÃO é o problema principal. A notícia fornecida pelo Avvenire [disponível em italiano aqui], no entanto, merece uma menção.

Ao que parece, o papa nomeou uma comissão para criar um “catálogo” (etimologia à parte, uma expressão um tanto singular) dos “novos mártires”, aqueles cronologicamente recentes e contemporâneos. O tema do “ecumenismo de sangue” não é novo e, já por ocasião de outro jubileu, o do ano 2000, a Igreja de São Bartolomeu, na Ilha Tiberina, tinha sido, se assim se pode dizer, dedicada ao tema. Em perspectiva “ecumênica”, diz-se: isto é, por exemplo, no caso da igreja, acolhendo “relíquias” de mártires de todas as confissões.

A relevância do tema é inquestionável. Temo, porém, que ele deve ser abordado em um nível totalmente diferente, com reflexão atenta, distinções, autocrítica eclesial quando necessário. Para dar um exemplo protestante: o caso de Bonhoeffer é considerada há muito tempo, em uma parte da Igreja Evangélica, mais como motivo de constrangimento do que como exemplo de discipulado; e ainda hoje há quem, para o beatificar, faça dele uma leitura oleográfica. Não é um tema simples.

Depois, tem a comissão. Um grupo de especialistas católicos, liderados pela [Comunidade de] Santo Egídio, decide, se bem entendi, quem é digno de celebração. E isso “em perspectiva ecumênica”. Não estamos de acordo, ao que parece, sobre o significado do adjetivo.

Por fim, a relação com o jubileu, ou seja, com a enésima quermesse triunfalista do papado, com muitas indulgências e todo o resto. Naturalmente, ninguém sonha em tirar o jubileu da Igreja papal: é um dos símbolos do seu papalismo. Pelo contrário, quem vive em Roma participa do evento, mesmo contra sua vontade. A minha oração, “humilde, sincera”, como diz um canto evangélico, seria apenas esta: deixemos de fora o ecumenismo e os/as mártires evangélicos.

P.S.: Espero não ser desmentido amanhã por algum bispo evangélico, que pede jubiloso um lugar na comissão, aplaude a iniciativa e talvez faça uma peregrinação (ecumênica, é claro) a Roma.

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