22 Junho 2023
Luigi Togliani, formado em matemática pela Universidade de Bolonha, foi professor de matemática e física em uma escola científica de ensino médio em Mântua. Atualmente é membro da Accademia Nazionale Virgiliana e presidente da seção de Mântua da sociedade Mathesis. Ele é autor de mais de 30 publicações científicas e artigos no semanário diocesano de Mântua. Por ocasião do 50º Dia Mundial do Meio Ambiente - dedicado em particular à luta contra a poluição por plásticos - Giordano Cavallari lhe apresentou algumas perguntas.
Ao apresentar o 50º Dia Mundial do Meio Ambiente do último dia 5 de junho de 2023, este ano dedicado à luta contra a poluição plástica (#BeatPlasticPollution), o secretário da ONU, António Guterres, ressaltou a grave ameaça que o plástico representa para o ambiente e para os seres vivos.
“Todos os anos são produzidas mais de 400 milhões de toneladas de plástico no mundo, um terço dos quais é usado apenas uma vez. Todos os anos, o equivalente a mais de 2.000 caminhões de lixo – cheios de plástico – são despejados em rios, lagos e mares, com consequências catastróficas. Os microplásticos entram nos alimentos que comemos, na água que bebemos, no ar que respiramos. Os plásticos são produzidos a partir de combustíveis fósseis: quanto mais plástico produzimos, mais combustíveis fósseis queimamos e transformamos, acentuando a crise climática”.
A entrevista é de Giordano Cavallari, publicada por Settimana News, 21-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor Togliani, o que o plástico produz no meio ambiente?
Os resíduos plásticos acumulados em uma área são considerados pouco reversíveis e as consequências podem ser muito graves e duradouras. A poluição plástica altera o ciclo do carbono e o ciclo dos nutrientes, altera o habitat dos ecossistemas terrestres e aquáticos, danifica gravemente espécies delicadas ou ameaçadas, modifica as relações naturais entre as espécies (MacLeod et al., The global threat from plastic pollution, Science 373, 61-65, 2021).
Como são utilizados os plásticos produzidos?
36% são para embalagens e produtos descartáveis; 85% desses objetos acabam em aterros sanitários ou dispersos no meio ambiente. E o plástico ainda é obtido em grande parte de combustíveis fósseis ou matérias-primas virgens. A produção global de plástico dobrou de 2000 a 2019 e poderia triplicar até 2060 (OECD, Perspectivas Globais de Plásticos). Infelizmente, apenas 9% do plástico produzido é reciclado de modo correto; o restante vai para aterros sanitários, incineradores e meio ambiente.
Onde são acumulados os plásticos?
Nas cidades e no campo, mas também nas zonas desérticas e nos polos. Também os encontramos nos alimentos e na água, até mesmo na placenta de recém-nascidos. O PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, relata que “os plásticos, incluindo os microplásticos, já são onipresentes em nosso ambiente natural. Estão se tornando parte do registro fóssil da Terra e um marcador do Antropoceno, a nossa era geológica atual”. Muitos resíduos plásticos vão para lagos e rios, para depois acabar nos oceanos: no total cerca de 139 milhões de toneladas de plástico (estimativa da OCDE). Acredita-se que 80% do lixo marinho seja composto por itens de plástico e 50% do lixo marinho da UE seja formado por plásticos descartáveis.
Quanto custa a poluição por plásticos?
A poluição por plásticos custou ao mundo mais de US$ 3,7 trilhões em 2019, um valor superior a o PIB da Índia (WWF, Plastics: the costs to society, the environment and the economy, 2021). Estima-se que os plásticos causem danos de 13 bilhões de euros por ano aos ecossistemas marinhos mundiais; 630 milhões de euros por ano ao turismo europeu; 300 milhões de euros por ano para a indústria pesqueira europeia (AsviS, “PNUMA: come reduzir em 80% a poluição plástica até 2040”, 8 de junho de 2023).
O plástico afeta as mudanças climáticas e determina 3,4% das emissões de gases de efeito estufa. Danos enormes mesmo nos seres vivos; por exemplo, estima-se que 90% das aves tenham plástico no estômago. Particularmente perigosos são os microplásticos, fragmentos de plástico com diâmetro inferior a 5 mm: são encontrados em roupas, produtos de higiene pessoal e algumas preparações alimentares; os microplásticos representam 12% dos resíduos dispersos no meio ambiente.
O que os governos podem fazer?
Diante de tal situação, a exortação para se empenhar para derrotar a poluição por plásticos parece mais urgente do que nunca. Em nível governamental mundial, lembramos o empenho da Assembleia Ambiental da ONU (março de 2022) de concluir um acordo juridicamente vinculante sobre a poluição plástica até 2024.
Na cúpula realizada no Uruguai de 28 de novembro a 2 de dezembro de 2022, os 160 países representados consideraram necessário regulamentar todo o ciclo de vida do plástico. De 29 de maio a 2 de junho de 2023, na sede da UNESCO em Paris, quase 170 nações participaram da cúpula promovida pelo Comitê Intergovernamental de Negociação (INC) da ONU para preparar o encontro marcado para novembro em Nairóbi e estabelecer normas de procedimento sobre como aprovar as resoluções em caso de não unanimidade (será suficiente uma maioria de 2/3 dos votantes).
Pouco antes da cúpula de Paris, o PNUMA produziu um documento abrangente sobre como o mundo pode derrotar a poluição por plásticos a partir da perspectiva de uma economia circular (PNUMA, Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular, 2023).
Mas a cúpula de Paris não produziu os resultados esperados. Fortes resistências à imposição de restrições severas à produção e uso de plástico vem dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), que consideram tais restrições demasiado penalizadoras para suas economias em expansão. Os países do Golfo, grandes produtores de petróleo e, em parte, também dos EUA, por motivos semelhantes, também compartilham posições semelhantes.
E nós, o que podemos fazer?
Independentemente do que os líderes das nações consigam regulamentar, cada um de nós pode fazer sua pequena parte para limitar o uso de plásticos. Seguindo as indicações do PNUMA, podemos nos empenhar das seguintes maneiras.
Eliminar o uso de plástico não necessário: artigos e materiais de embalagem de plástico que, após o consumo, não entram nos esquemas de reciclagem e compostagem ou, quando o fazem, são prejudiciais a cadeia devido ao formato, à composição ou ao tamanho.
Reutilizar objetos (por exemplo, garrafas retornáveis); usar dispensadores a granel, sistemas de depósito e retorno, sistemas de coleta de embalagem, etc. Ao fazer isso, podemos reduzir a poluição plástica em 30% até 2040.
Com a reciclagem podemos reduzir a poluição plástica em mais 20% até 2040, mas a reciclagem precisa se tornar mais rentável, por exemplo eliminando os subsídios para o uso de combustíveis fósseis. Os produtos também devem ser projetados adequadamente para melhorar sua reciclabilidade. Com isso, o plástico economicamente reciclável passaria de 20% para 50%.
Embalagens, sacolas e outros itens de plástico precisam ser substituídos por produtos feitos com outros materiais: papel, ecobags e outros materiais compostáveis. Daria uma redução adicional de 17% na poluição plástica.
Vale a pena passar para uma economia circular?
Segundo o PNUMA, a luta contra o plástico do ponto de vista da economia circular nos permitiria economizar 1,27 trilhão de dólares, segundo os custos e receitas do setor de reciclagem. Outros 3,25 trilhões de dólares seriam economizados em termos de consequências negativas evitadas em termos de saúde dos cidadãos, de crise climática, poluição do ar e degradação dos ecossistemas terrestres e marinhos.
A luta contra a dispersão do plástico no meio ambiente traria outras vantagens: até 2040, 700.000 empregos poderiam ser criados, também em países de baixa renda. Para isso, são precisos investimentos importantes que, no entanto, resultariam no total inferiores aos custos necessários para continuar com nosso atual - aberrante - modelo de desenvolvimento.
A todos os leitores de boa vontade faço este apelo: vamos renunciar ao plástico descartável em todas as suas formas! Vamos abrir mãos dos vegetais embalados (vamos comprá-los a granel!), dos sundaes (melhor a casquinha ecológica!), dos iogurtes nas garrafas de plástico (existem potes de vidro, que são bem mais recicláveis). Vamos comprar detergentes a granel (preferivelmente orgânicos!), escovas de dentes com cabeças substituíveis, barbeadores de metal recarregáveis. Vamos prestar atenção a produtos de papel revestido internamente! São coisas pequenas, não afetam nosso estilo de vida, exigem no máximo uma escolha consciente, comprando apenas os produtos que podem ser absorvidos pelo meio ambiente num tempo razoável.
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O plástico apresenta a conta. Entrevista com Luigi Togliani - Instituto Humanitas Unisinos - IHU