As cidades do futuro devem ser o berço da economia circular

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14 Outubro 2021

 

"Ainda há muito a ser feito: quem senão a universidade e a pesquisa podem estimular a inteligência ambiental do Estado e da sociedade?", escreve Marco Cremaschi, professor de Urbanismo na Sciences Po Paris, em artigo publicado por La Repubblica, 12-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

A economia do cowboy ou da espaçonave? Já em 1966, K.E. Boulding comparava o cowboy que esgota os recursos e move a fronteira para outro lugar, com a nave espacial que recicla cada gota de água e oxigênio. Esta é a metáfora fundadora da economia circular: o planeta é uma nave espacial no espaço, que consome o que está a bordo e nada é jogado fora.

O desafio era difícil: Barry Commoner publica um best-seller com o significativo título Fechar o Cerco em 1971, mas sua candidatura a presidente foi um fracasso. Os baby boomers, viciados em bem-estar, não queriam se apaixonar pela ecologia. Ainda hoje, as políticas de crescimento ignoram os dilemas ambientais e entorpecem a economia, descartando carros e televisores, criando lixo e novos problemas.

Depois do Covid, os valores mudaram. Nas eleições locais na França, as grandes cidades estão nas mãos dos Verdes, que são determinantes para a formação do governo na Alemanha. O Pnrr da União Europeia recompensa a transição. Na Itália, o ministro Cingolani renomeou o ministério nesse sentido.

Não por acaso saúde, pobreza, trabalho e clima (mais que imigração e justiça) são amplamente as primeiras preocupações dos italianos nas pesquisas do Eurobarômetro. Mas, podemos ter certeza, a transição não acontecerá por acaso ou pela boa vontade, mas graças a um novo planejamento. Isso será discutido hoje nos Diálogos Ítalo-Franceses pela Europa organizados por Luiss, Sciences Po e Ambrosetti. É preciso consumir menos, mas acima de tudo redesenhar o ciclo de vida dos produtos e, mais ainda, projetar objetos e processos em função do reaproveitamento. Para combinar política e design são necessários flexibilidade, diálogo e aprendizado.

Este é o papel das cidades, que não são espaçonaves, mas podem ser o booster do planeta-espaçonave. As cidades importam energia e alimentos, emitem poluentes; no entanto, são o centro cognitivo da sociedade, onde se procede mais rapidamente à economia e à inovação.

O desafio continua sendo difícil. A regeneração urbana é, infelizmente, um exemplo negativo. Este ano a cidade de Gênova demoliu a “barragem”, um conjunto habitacional IACP (Instituto autônomo casas populares) dos anos 1970 que havia se tornado um símbolo de degradação; o ato simbólico prevaleceu sobre a avaliação ambiental. Na França, mas não só, uma agência estatal está demolindo habitações populares para substitui-las por ecobairros: é uma pena que expulse as classes menos abastadas. É fácil concluir que a administração pública do urbanismo não está devidamente equipada.

Acima de tudo, o diabo está na implementação. A empresa que opera o novo metrô de Paris tinha como objetivo reciclar o solo escavado. Um programa ambicioso, que explorava barcaças e promovia o reaproveitamento, mas que não foi suficiente: metade das escavações ainda vai parar nos aterros, ocupando terras agrícolas por serem menos caras. O problema não é técnico ou organizacional, como constata uma pesquisa de doutorado em andamento no SciencesPo: em um ambiente urbano saturado, onde faltam locais para a triagem das terras e a coordenação com os atores da reciclagem, a natureza política e cultural da operação foi subestimada. A grande sociedade tem um déficit de capacidade política.

Um novo planejamento no público como nas empresas? Exemplos e experimentos de sucesso estão por toda parte. O último Pritzker, o Prêmio Nobel dos arquitetos, foi para os franceses Lacaton e Vassal, campeões poéticos da reciclagem e da low-tech. Milão está plantando milhares de árvores para reduzir o superaquecimento urbano. A sharing economy afirma com velocidade surpreendente modelos circulares de mobilidade e trabalho. A interrupção do consumo da terra ganha consensos para impulsionar a agricultura urbana e reduzir os transportes.

Ainda há muito a ser feito: quem senão a universidade e a pesquisa podem estimular a inteligência ambiental do Estado e da sociedade? O Mur (Ministério da Universidade e Pesquisa) exorta as universidades a se associarem em programas conjuntos. Bruxelas deu um exemplo melhor ao unificar em abril passado os centros de pesquisa em clima, infraestruturas, meio ambiente e justiça espacial: competências transversais e direção unitária são indispensáveis para reconverter as plataformas produtivas urbana já testadas pelo Covid.

 

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