24 Mai 2023
Preso desde agosto do ano passado e transferido em 9 de fevereiro passado para o Centro Penitenciário Nacional Jorge Navarro, de Tipitapa, só foi permitido ao bispo da diocese de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, de 56 anos de idade, receber visita de familiares no dia 25 de março passado. Ele é um preso político do ditatorial governo nicaraguense sob a presidência do sandinista Daniel Ortega.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Álvarez é perseguido por Ortega desde as manifestações contra o governo de abril de 2018. O bispo apoiou grevistas que mantiveram o país parado por semanas, providenciou apoio médico aos feridos pela repressão policial, o que Ortega entendeu como uma declaração de guerra. O bispo negou-se a tomar um avião em fevereiro e partir ao exterior, junto com outros 222 deportados. Por isso ele foi condenado há 26 anos de prisão.
Mas o castigo não ficou restrito aos religiosos. Também entraram no rol dois seminaristas e dois jornalistas da Diocese de Matagalpa, o que levou o Papa Francisco a se pronunciar, em 10 de março, quando disse que Ortega era uma pessoa desequilibrada.
Ortega proibiu, inclusive, as tradicionais Via Crucis em ruas de cidades, que comunidades católicas realizam no tempo da Quaresma. Fiéis e clero tiveram que fazer a caminhada limitados ao âmbito do templo. O presidente nicaraguense chegou a qualificar a Igreja Católica de “máfia”.
Ainda assim, há padres e bispos que apoiam Ortega, numa igreja que está dividida, fenômeno conhecido no Brasil com a subida do bolsonarismo ao poder. O arcebispo metropolitano de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, prefere uma atitude “prudente”: calando-se. Depois da carraspana do Papa Francisco, Ortega cortou relações diplomáticas com o Vaticano. Nicarágua é o único país das Américas e soma-se às 14 nações que não têm relações com a Santa Sé.
Perguntado sobre a posição de Ortega quanto ao Vaticano, o “prudente” Brenes declarou: “Não tenho nenhuma opinião a respeito porque essas são questões de Estado e eu não sou um especialista”. A igreja que pastoreia tem um bispo preso, outro, o bispo Silvio Báez, expatriado, assim como o padre Edwin Román. Temendo pela vida do bispo auxiliar da Arquidiocese de Manágua, Silvio Báez, bastante crítico ao governo, o Papa Francisco chamou-o, em 2019, a Roma. Atualmente, ele vive em Miami, nos Estados Unidos, onde pastoreia nicaraguenses exilados.
Matéria publicada no portal Connectas arrola bispos e pastores que não se vexam em apoiar o ditador sandinista. Sem questionar a proibição do governo sobre as celebrações de rua na Quaresma, o bispo de León, monsenhor René Sándigo, anunciou-a em homilia e procurou justificar a medida.
Também teceram loas ao casal governante o padre Castro e o bispo Eddy Montenegro, já aposentado, durante as comemorações dos 40 anos da revolução sandinista, em 2019. Outro religioso que não perde oportunidade em demonstrar apoio a Ortega é o padre da paroquia de Dolores, Nayib Eslaquit.
Ortega insulta a Igreja Católica, mas poupa o arcebispo metropolitano, enquanto chamou outros de “golpistas”. O título da matéria de Connectas expõe a situação: A Igreja da Nicarágua, longe do Papa e próxima de Ortega.
Quem se aproveitou desse confronto foi um punhado de pastores evangélicos que, em carta pastoral, apoiaram Ortega e lamentaram o posicionamento do Papa Francisco. Apontaram, na carta, que a solução dos problemas da Nicarágua não pode vir “nem de Washington, nem de Roma”.
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Situação política divide Igreja Católica nicaraguense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU