Primeira vez no Sínodo. Artigo de Enzo Bianchi

Foto: Divulgação | Igreja Católica da Inglaterra e de Gales

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02 Mai 2023

"O sínodo continua sendo sínodo dos bispos, os sucessores dos apóstolos, os garantes da fé ortodoxa, mas que agora podem ouvir não apenas a posição do Papa, mas por meio do voto os pensamentos dos fiéis admitidos ao sínodo em representação dos outros. Finalmente, o sínodo não é mais apenas uma estrutura clerical, mas um ícone do povo de Deus", escreve Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 01-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Uma nota da Secretaria do Sínodo dos Bispos que apresentava algumas normas ditadas pelo Papa Francisco sobre a composição da assembleia sinodal não despertou a atenção da mídia. Na realidade trata-se de uma intervenção “revolucionária” – permitam-me o adjetivo – porque é o primeiro passo na prática de uma nova modalidade de viver a Igreja.

O Papa Francisco nunca havia falado de “sinodalidade” durante seu episcopado, mas nos primeiros meses de seu pontificado havia mencionado que nós, católicos, deveríamos aprender com a Igreja Ortodoxa a sinodalidade: um desejo formulado de maneira ainda confusa. No entanto, sendo um homem e um Papa de escuta, introduziu o tema da sinodalidade e em 2017 surpreendeu com a promulgação da Episcopalis communio, reformando a realização do sínodo da forma que havia sido predisposta por Paulo VI: já então previa a participação de fiéis não bispos a uma assembleia que sempre foi composta apenas por bispos. O princípio forjado em âmbito cristão na Idade Média: "O que diz respeito a todos deve ser tratado, discutido e deliberado por todos", juntamente com a teologia da Igreja de Bergoglio como povo de Deus, permitiu-lhe desenvolver uma visão inédita de como viver a igreja.

As inovações corajosas introduzidas pelo Papa serão aplicadas já em outubro. Como sempre, os bispos eleitos das várias Igrejas participarão como representantes do episcopado, haverá alguns superiores religiosos, mas a partir de agora haverá entre eles um número igual de superioras religiosas.

Pela primeira vez na história, as monjas poderão tomar a palavra e com direito a voto determinar o resultado das discussões; uma religiosa (mulher) contará tanto quanto um religioso (homem).

Pelo menos por ocasião de um sínodo, deveria cessar a auxiliariedade feminina das freiras, quase sempre apenas a serviço dos presbíteros (homens).

Mas a inovação não diz respeito apenas aos religiosos: o Papa pede também que os fiéis, mulheres e homens em igual proporção, jovens e idosos, em número de setenta, participem como membros "sinodais" da assembleia com os poderes de todos os outros. Participei de três sínodos como especialista: no primeiro não pude intervir, nos dois últimos pude tomar a palavra.

O sínodo continua sendo sínodo dos bispos, os sucessores dos apóstolos, os garantes da fé ortodoxa, mas que agora podem ouvir não apenas a posição do Papa, mas por meio do voto os pensamentos dos fiéis admitidos ao sínodo em representação dos outros. Finalmente, o sínodo não é mais apenas uma estrutura clerical, mas um ícone do povo de Deus.

Com essa mudança, Francisco mostra-se decidido, profético, não só identificando novos procedimentos, mas começa a aplicá-los caminhando com toda a Igreja.

Esperemos que se adentre da mesma forma também em outros caminhos inéditos que o povo de Deus gostaria de percorrer com o sucessor de Pedro, nunca sem ele. 

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